O governo do Rio vai demolir um prédio de 1862, sede do antigo Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã, com o objetivo de facilitar a mobilidade dos torcedores durante a Copa do Mundo de 2014. O prédio, que não é tombado, é ocupado desde 2006 por cerca de 30 índios que planejam instalar no local um Centro Cultural Indígena. O grupo conta com apoio da Defensoria Pública da União (DPU), que vai entrar com uma ação civil pública contra a demolição do imóvel.
A proposta do governo é transformar o local em estacionamento e área de lazer, com um centro esportivo e museu do futebol. O plano foi apresentado em paralelo à divulgação do edital de concessão do Maracanã à iniciativa privada, que administrará o estádio pelos próximos 35 anos.
De acordo com o secretário-chefe da Casa Civil do Rio, Regis Fitchner, o governo negocia com a União e o Ministério da Agricultura, que detém a posse do imóvel, a remoção dos índios que ocupam o prédio.
Para o defensor André Ordacgy, responsável pela ação civil pública contra a demolição, o governo não está preocupado com o valor histórico do imóvel ou com a mobilidade do estádio. "É uma questão de viabilidade econômica da concessão por conta do prejuízo na reforma, que ultrapassa R$ 1 bilhão. O prédio está sendo usado como uma forma de compensação à iniciativa privada, o que não pode ser tolerado no estado democrático de direito."
O imóvel atualmente pertence à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que possui no terreno um centro de pesquisas em sementes. Na semana passada, a instituição confirmou a venda do imóvel ao governo do Rio por R$ 60 milhões, após avaliação da Caixa. Segundo a companhia, a concretização do negócio depende apenas da assinatura do contrato.
Após a confirmação da compra, na última quinta-feira, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), afirmou que o prédio "não tem qualquer valor histórico." Cabral alegou que a demolição atenderia às exigências da Fifa, para garantir a mobilidade dos torcedores. Em um ofício encaminhado à Defensoria Pública, a Fifa informa que nunca solicitou a demolição do prédio. "Antes, o Maracanã recebia 200 mil pessoas e não tinha problema de mobilidade", questiona Afonso Apurinã, um dos índios que ocupa o imóvel desde 2006.
Na ação, o defensor público pedirá uma liminar para impedir a demolição do prédio e também solicitará que o Estado recupere e preserve o imóvel. O prédio já foi residência oficial na época do império e abrigou, entre outras figuras políticas, o Marechal Rondon, pioneiro na política indigenista no País. A construção também foi sede da Funai antes de ser transformada em museu, em 1953, pelo antropólogo Darcy Ribeiro. Desde 1978, o museu foi transferido para Botafogo, na zona sul.
Há seis anos, cerca de 30 índios de diferentes povos e regiões do País ocupam o local e realizam atividades culturais. "Falta respeito com a população. O prédio não é um patrimônio indígena, mas de todos. Faz parte da formação política do País e querem derrubar essa memória", afirma Apurinã.