São Paulo – Três dias depois de diagnosticada com morte cerebral, a manicure Nayara Cristina Patracão, de 24 anos, apresentou reflexos troncocerebrais – respondeu a estímulos de dor. A jovem está internada na UTI da Casa de Saúde de São Carlos, a 232 quilômetros de São Paulo, desde o dia 7, depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória durante uma lipoaspiração. Três médicos do hospital haviam constatado a morte cerebral. Ontem, o diagnóstico feito por profissionais amigos da família foi de inchaço do cérebro, decorrente da complicação apresentada na cirurgia.
“É ainda um quadro muito grave, mas, neste momento, a morte cerebral foi afastada por completo. Pode até haver uma evolução para morte cerebral, mas vamos torcer para que haja uma resposta benéfica”, afirmou ontem o cardiologista Vander Rogério Vieira. Ele acompanhou o neurocirurgião Admilson dos Santos Delgado em exames feitos no final da tarde de ontem. De acordo com o médico, a pior fase em situações semelhantes à de Nayara são os primeiros oito dias. Ontem completaram nove dias de internação na UTI.
Para o cardiologista, o parecer do neurocirurgião é uma “luz no fim do túnel” para a família, que em nenhum momento aceitou o diagnóstico de morte cerebral. O médico, que é da mesma cidade da manicure, Descalvado (a 243 quilômetros de São Paulo), se ofereceu para acompanhar o caso e pediu a ajuda do amigo neurocirurgião, colega de faculdade. A Casa de Saúde de São Carlos não quis comentar o novo diagnóstico. Em nota, divulgada no final da manhã de ontem, o hospital havia afirmado que o quadro de Nayara se mantinha e que ela respira com a ajuda de aparelhos. O nome dos médicos que atestaram a morte encefálica também não foi informado.
A decisão de pedir uma nova avaliação veio depois que Nayara Cristina Patracão apresentou algum reflexo, mesmo entubada. “Minha sobrinha entrou e falou que ela soltou uma lágrima”, contou a mãe da manicure, Lucimara Francischini. Emocionada, ela comentou o novo resultado: “Quem trouxe ela de volta foi Deus”, disse. “Ele (o segundo médico) explicou que o quadro de morte cerebral foi constatado quando o cérebro estava muito inchado. Realmente, não havia estímulo algum no início. Mas agora, com o desinchaço, começou a reagir, mesmo que de forma tímida”, completou.
“Ela está viva, Jesus a curou para nós”, disse a avó paterna de Nayara, Geralda Patracão, 66. Ela afirmou que a família está eufórica com a notícia. “Foi um milagre.” Elaine Franceschini, tia da jovem, contou que Nayara já havia dado outro sinal de que está viva. Segundo ela, a sobrinha apertou o dedo de um amigo da família que conversou com ela no hospital, além de ter lacrimejado ao ouvir o nome dos filhos. Nayara tem uma filha de 4 anos, Liane, e um bebê de 8 meses, Cauê Henrique.
O médico que fez a lipoaspiração da jovem, Vicente de Paula Ciarrochi Júnior, também esteve no hospital para avaliar a paciente. Ele havia afirmado anteontem que o caso foi uma fatalidade, pois exames clínicos preliminares informaram que a paciente estava apta a fazer o procedimento cirúrgico. Presenteada pela mãe, que também é manicure, Nayara foi submetida a uma lipoaspiração e abdominoplastia – retirada de excesso de gordura na região do abdome. Depois de sofrer uma parada cardíaca durante a cirurgia, ela foi transferida para a Casa de Saúde de São Carlos, onde foi constatada a morte encefálica. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu sindicância para apurar se houve alguma infração ética por parte do profissional.
Saiba mais perda irreversível das funções cerebrais
Morte cerebral ou morte encefálica é a perda definitiva e irreversível das funções cerebrais, responsáveis por funções como o controle de pressão arterial, atividade cardíaca, respiratória e nível de consciência. O conceito moderno de morte cerebral foi cientificamente definido e aceito por todas as religiões como cessação da vida. Os critérios definidos para morte encefálica variam ao redor do mundo, devido muito mais a questões culturais e jurídicas. Cientificamente, todas as sociedades fundamentam o diagnóstico no exame clínico neurológico que confirme a irreversibilidade do coma e a falência do tronco cerebral. No Brasil, o diagnóstico de morte encefálica é realizado a partir de exame clínico feito por dois médicos em diferentes intervalos de tempo, sendo obrigatório o uso de exame complementar.