Porto Seguro, 08 - A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, colocou o cargo à disposição do conselho da entidade em reunião na manhã de quinta-feira, 7. O conselho, porém, solicitou por unanimidade que ela permanecesse, e Helena aceitou. A decisão foi comemorada pelos 22 conselheiros presentes.
"Vou continuar, mas com muito sacrifício, pode ter certeza", disse Helena à reportagem após a reunião. O pedido de renúncia foi motivado por uma agressão verbal sofrida na quarta-feira, 6, durante um ato público na reunião anual da SBPC em Porto Seguro, no sul da Bahia. Helena foi chamada de "pelega" e "chapa branca" por pessoas que protestavam contra o governo interino de Michel Temer - entre elas, o químico Antonio Carlos Pavão, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que acusou a presidente da SBPC de ficar "em cima do muro" e "negociar com golpistas".
"Eu tenho uma história muito clara de luta contra a ditadura", disse Helena, de 68 anos, ao Estado. "Eu não fui presa; o que é um buraco na minha formação. Mas eu lutei pela democracia; estive presente em todas as reuniões. Eu tive amigos que foram presos e torturados, tive professores que foram violentamente torturados. A palavra 'pelega' para mim é muito forte. E ela foi usada conscientemente, de propósito."
Fusão
O ato público havia sido convocado para criticar a fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o Ministério das Comunicações e pedir a recomposição do orçamento da pasta aos níveis de 2013, pelo menos. Mas acabou sendo dominado por manifestações contra o "golpe" e o governo interino.
"Fora Temer e seu bando", disse Pavão diversas vezes ao microfone. Helena Nader disse então que a SBPC era uma "entidade sem cor político-partidária" e não participava desse "segundo slogan" do ato - referindo-se ao coro de "Fora Temer".
Mesmo assim, uma proposta de apoio ao movimento Fora Temer será debatida. "O tema vai ser levado à assembleia para discutir se a SBPC deve ou não assumir essa ou aquela bandeira política", disse Glaucius Oliva, professor da Universidade de São Paulo (USP). "O que é inaceitável é essa agressão pessoal contra a Helena, totalmente desmedida e desnecessária", afirmou ele.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.