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Estado de Minas AÇÕES DE REPARAÇÃO

Avança recuperação de áreas afetadas por rompimento de barragem em 2015

Ações vem revitalizando margem dos rios e melhorando a qualidade do solo, por meio do controle de erosão e plantio de espécies nativas. Tecnologia tem sido aliada no monitoramento das ações


Fundação Renova
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Fundação Renova
postado em 18/10/2019 08:00 / atualizado em 22/10/2019 17:26

Mudas foram plantadas em áreas próximas às margens dos afluentes.(foto: Fundação Renova)
Mudas foram plantadas em áreas próximas às margens dos afluentes. (foto: Fundação Renova)

 
Os trabalhos para recuperação de áreas degradadas na bacia do rio Doce avançam diariamente. Desde o fim de 2015, equipes especializadas estão empenhadas em restabelecer o equilíbrio ambiental, social e estrutural nos primeiros 100 quilômetros, entre Mariana e Santa Cruz do Escalvado (MG), trecho mais afetado pelo rompimento da barragem de Fundão.
 
No período emergencial, logo após o desastre, os trechos afetados receberam ações de revegetação, contenção e controle de erosão, principalmente para evitar que os rejeitos chegassem às margens dos rios. Com elas, o objetivo foi estabilizar os cursos d’água, melhorar as condições do solo e iniciar a retomada das características naturais dos ambientes terrestres e aquáticos.
 
Na condução do trabalho, a Fundação Renova, entidade responsável pela execução das ações de reparação e compensação dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, conta com avançada tecnologia. O monitoramento realizado por drones é um dos exemplos. As inspeções aéreas são realizadas desde 2016 para dimensionar alterações da cobertura vegetal e mapear melhorias das características ambientais nos locais monitorados. Assim, é possível avaliar a evolução das atividades de recuperação.
 

Erosão controlada e mais água limpa nos rios

 
O trecho mais impactado pelo rompimento da barragem de Fundão fica entre Mariana e a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, conhecida como Candonga. Nesse percurso, de aproximadamente 100 quilômetros, foi iniciado, em dezembro de 2015, um procedimento emergencial de revegetação.
 
A ação englobou 800 hectares de terras, utilizando espécies de crescimento rápido, normalmente arbustos, para controlar a erosão nas margens e impedir o transporte de sedimentos para o leito dos rios. Ao mesmo tempo, cerca de 1.522 hectares receberam obras de bioengenharia também focadas no controle de erosão e estabilização dos cursos d’água. Tais iniciativas permitiram que a maior parte dos processos erosivos das calhas dos rios esteja controlada até os dias de hoje.
 
Ainda assim, a Fundação Renova segue realizando manutenção ao longo do curso d’água, pois o rio é dinâmico e pode apresentar, naturalmente, pontos de erosão, principalmente por ação da chuva.
 
Área marcada por processo de revegetação às margens de afluente.(foto: Fundação Renova)
Área marcada por processo de revegetação às margens de afluente. (foto: Fundação Renova)

 
Após o plantio emergencial, finalizado em 2017, a Fundação iniciou a desobstrução de afluentes dos rios Gualaxo do Norte e Carmo. A população das localidades revitalizadas pôde acompanhar o renascimento de 113 pequenos afluentes que alimentam o rio Doce. Esses afluentes foram totalmente redesenhados com base em informações de geoprocessamento para que não corressem de forma irregular nem causassem deterioração nas margens.
 
O trabalho de recomposição da vegetação e reconformação das calhas aumentou o volume de água limpa nos rios e ajudou a diminuir a turbidez, restabelecendo as características naturais dos cursos d’água.
 
Paralelamente a essas ações, foi iniciado, em julho de 2016, um trabalho de reforço da contenção das margens, também no trecho com maior impacto da deposição dos rejeitos, entre Mariana e Candonga. Técnicos da Fundação realizaram levantamento topográfico aéreo, que possibilitou o mapeamento da velocidade e das direções dos cursos d’água a cada 20 metros de rio.
 
Com isso, foi elaborado um projeto personalizado para cada área, sendo implementadas estratégias de contenção adequadas a cada uma das especificidades do curso do rio. Aplicando técnicas de bioengenharia aos trabalhos de campo, as equipes utilizaram materiais biodegradáveis, como fibra de coco, palha e um mix de sementes de crescimento rápido. A semeadura das espécies foi realizada em intervalos anuais ou bianuais, mantendo-se, assim, uma vegetação sempre verde e melhorando a qualidade do solo atingido por rejeitos. 

O engenheiro civil Giorgio Vieira Peixoto, coordenador de operações agroflorestais da Fundação Renova, destaca a importância do plantio da área impactada para melhoria da qualidade do solo.
 
“Um dos principais problemas do rejeito era a falta de matéria orgânica. Incorporando isso ao solo, você começa a prepará-lo para, futuramente, fazer o plantio de florestas nativas ou retomar as atividades agropecuárias”, afirma.

Qualidade do solo

 
Um estudo realizado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) demonstrou que a revegetação emergencial acelerou o aumento da diversidade de microrganismos no solo. Esses organismos são essenciais para o plantio de mudas, iniciativa que irá otimizar os processos de reflorestamento da bacia do rio Doce. Os resultados também foram positivos no que diz respeito às técnicas de manejo utilizadas.
 
O professor doutor em Soil Science (ciência do solo, em português) da UFV Carlos Ernesto Schaefer acompanhou as iniciativas de manejo e recuperação e explica que três técnicas foram adotadas para a recuperação da qualidade produtiva do solo.
 
“A primeira alternativa foi o uso direto do rejeito, adicionando, simplesmente, algum fertilizante, calcário e, eventualmente, adubo orgânico. Os resultados mostraram um aumento de produtividade e a possibilidade do cultivo diretamente no rejeito, sem grandes limitações”, esclarece.
 
Ele complementa que, no início, havia um pouco de limitação física, devido ao selamento natural da terra causado pelo rejeito. Com o tempo, no entanto, e com o manejo, essas propriedades físicas foram melhoradas. “Ao mesmo tempo, as propriedades químicas melhoraram com aumento da matéria orgânica do solo e, concomitantemente, o aumento da população e da diversidade microbiana”, comenta Schaefer.
 
A segunda alternativa utilizada foi a chamada Topsoil, desenvolvida em algumas áreas afetadas escolhidas em parceria com a UFV. A técnica consiste em sobrepor uma camada de 40 a 50 centímetros de solo sobre o rejeito e alcançou os melhores resultados, ao longo dos estudos coordenados pela professora doutora em Agricultura, Catarina Kasuya.
 
“Essas áreas foram cultivadas, aradas, gradeadas, drenadas e sistematizadas. O resultado do cultivo com a estratégia foi o melhor de todos com um solo mais estruturado, melhores condições física e química”, esclarece. A terceira alternativa consistiu em inverter as camadas de rejeito e solo com o auxílio de maquinários. Ela, no entanto, demandava rotinas mais complexas e, mesmo assim, apresentou resultados parecidos às técnicas mais simples.
 
Ainda segundo Schaefer, a expectativa é que com mais dois ou três anos as áreas já retornem a uma condição de produção e produtividade semelhante à condição antes do desastre.
 
“Talvez até muito melhor, já que algumas áreas se encontravam muito degradadas pelo pastejo intenso e uma recuperação física e química que a gente vê com o manejo, hoje, em função do uso de fertilizantes, calcário e composto orgânico, é muito marcante”, conclui.
 

Mais florestas nativas

 
Os rejeitos atingiram cerca de 750 hectares de floresta nativa, ou seja, Áreas de Proteção Permanente (APPs). Em uma análise inicial, verificou-se que apenas 530 hectares poderiam ser recuperados, já que os demais tinham características específicas, como áreas rochosas, que não permitem a restauração.
 
Dos 530 hectares aptos à recuperação, 180 deles estão posicionados em propriedades particulares que ainda não autorizaram o desenvolvimento das atividades, resultando, assim, em 350 hectares para trabalho. Destes, 91 hectares já receberam o plantio de espécies nativas da Mata Atlântica, por meio de mudas e sementes que crescem mais lentamente e promovem o restabelecimento florestal.
 

“Hoje temos esse trabalho em Mariana, Barra Longa, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponte Nova. Estamos fazendo a restauração florestal em cada área com mudas de espécies nativas. Temos mais de 350 espécies para escolher entre elas para plantar”, explica o engenheiro civil Giorgio Vieira Peixoto, coordenador de operações agroflorestais da Fundação Renova.
 
Nascentes, calhas de rio e afluentes localizados dentro de terrenos particulares também passam pelo processo.
 
Mudas utilizadas em etapa de replantio ao longo do processo de restauração.(foto: Fundação Renova)
Mudas utilizadas em etapa de replantio ao longo do processo de restauração. (foto: Fundação Renova)

 
Integrando o plantio emergencial de vegetação, reconformação das margens e plantio de espécies nativas para restauração das florestas, regiões castigadas ao longo de anos pela prática de atividades agropecuárias não sustentáveis e pelo desmatamento irregular também ganham novos horizontes. Tudo isso com o apoio de instituições federais de ensino superior de Minas Gerais, desde o planejamento até o monitoramento das áreas revitalizadas.
 
“Fazemos ainda a manutenção do restauro florestal, roçada, adubação, uso de hidrogel, uma tecnologia avançada para reter a água no solo para as mudas. Temos parcerias com UFV e UFLA, UFMG na parte de mudas para restauração florestal, enriquecimento, testes. É um laboratório a céu aberto para essas universidades, pensando em retomar futuramente as áreas de preservação permanente”, completa o engenheiro.
 

Nas asas da tecnologia

 
A tecnologia de monitoramento aéreo permite um acompanhamento minucioso da evolução da cobertura vegetal e do uso do solo. Os veículos aéreos não tripulados (VANTs), popularmente conhecidos como drones, sobrevoam uma área de 9.300 hectares, ao longo de cem quilômetros. Aproximadamente 2.000 hectares desse total são entornos da calha dos rios, onde houve deposição de rejeitos de minério  - de Mariana a Candonga, passando por Barra Longa, Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponte Nova.
 
As aeronaves são equipadas com câmeras de 36 megapixels que, além das cores visíveis a olho nu, também captam radiação térmica (infravermelho), e obtém imagens com resolução de 10 cm. Significa que qualquer elemento na superfície que tenha até 10 cm² vai ser representado por um pixel na foto.
 
Os drones viajam a, aproximadamente, 75 km por hora, dependendo da condição climática, e têm capacidade de voar até seis horas por dia. As aeronaves levam cerca de três meses para percorrer todos os 9.300 hectares. O acompanhamento é realizado de maneira sistemática e será atualizado semestralmente, até 2021.
 
Confira, a seguir, os registros de antes e depois de trecho recuperado.
 
Ver galeria . 4 Fotos Primeira imagem registrada em dezembro de 2015Fundação Renova
Primeira imagem registrada em dezembro de 2015 (foto: Fundação Renova )
 
 
Para monitorar todo o trecho de maneira homogênea, as aeronaves percorrem linhas paralelas em sentido perpendicular ao eixo do rio, de forma a cobrir toda a extensão da área. Os voos são realizados de 10h às 15h e em baixa altitude, para se garantir boa incidência de luz e alta qualidade das fotos, sem sombras que possam atrapalhar a interpretação das imagens.
 
De posse das fotos, a equipe técnica realiza a descrição detalhada dos elementos existentes na região sobrevoada (georreferenciamento). Graças à alta qualidade das imagens captadas, é possível medir o estágio de crescimento da vegetação e averiguar se há regiões com solo exposto, causado por eventos chuvosos ou por ação humana. Assim, a Fundação Renova pode direcionar seus esforços para áreas que demandam mais atenção
 
“Identificamos 23 itens, divididos entre fisionomias vegetais e elementos do terreno, como edificações, benfeitorias e acessos. Solo exposto, áreas que, porventura, ainda tenham rejeito, áreas já regeneradas a partir das atividades de reparação, que já estão atingindo características de florestas”, conta o geógrafo Rafael do Carmo Pompermayer, mestre em Geoprocessamento e especialista em Sistema de Formação Geográfica da Fundação Renova.
 
Depois do processo de compilação e análise das imagens, é gerado um produto final a cada seis meses. Já há mapeamentos finalizados referentes a dois períodos de 2017 e de 2018. Agora, a Fundação Renova prepara um novo mapeamento com base nas imagens captadas entre maio e agosto de 2019. Os trabalhos são realizados sempre observando a sazonalidade, casando a execução das atividades com os períodos de chuva e seca quando a vegetação apresenta respostas mais conclusivas.
 
Comparando todo esse conjunto de imagens, inclusive as captadas por meio de satélite antes do rompimento, é possível mensurar o andamento das atividades de reparação ambiental.
 
“Vamos acompanhando a evolução da reparação a partir das mudanças identificadas por cada uma dessas fisionomias. Uma área que antes era um pasto, após o rompimento foi coberta por rejeitos. Logo após foi regenerando com a vegetação emergencial, gramíneas, e, hoje, já chegou a uma característica de floresta. Passando pela fase mais arbustiva e já chegando na fase arbórea. Temos diversos programas da Fundação que utilizam esses materiais como referência”, destaca o especialista Rafael Pompermayer.
 

Acesso à informação

 
Assim como o reflorestamento, o monitoramento aéreo não se restringe à área impactada pelo rompimento da barragem, mas abrange também outros terrenos degradados da bacia do rio Doce.
 
Os resultados do monitoramento – imagens em alta resolução e estudos técnicos realizados pela Fundação Renova – serão disponibilizados aos governos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, para que sirvam de base em suas ações de auditoria e fiscalização.
 
Além disso, poderão repassar essas informações aos proprietários rurais. Assim, membros das comunidades locais conseguirão aproveitar os mapeamentos no planejamento e implementação de sua atividade agrícola, e para regularização ambiental de suas propriedades rurais.
 
A partir do acesso aos dados do mapeamento aéreo, os produtores agropecuários da região terão, diante de si, um novo cenário com a possibilidade de converter áreas antes utilizadas como pasto em florestas. “Com base nesse planejamento bem preciso, conseguem aliar a produção agropecuária com sustentabilidade e a regularização ambiental desses produtores”, afirma Rafael.
 
 
 

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