Dono de patrimônio cultural admirável, com destaque para as peças sacras presentes em igrejas, capelas, mosteiros, museus e prédios públicos, Minas Gerais tem na preservação do seu acervo profissionais do mais alto gabarito, em um trabalho de devoção para garantir a integridade da arte barroca.
mineiros são a síntese de várias culturas: “Os índios estavam aqui quando vieram os brancos e os negros, etnias diferentes que formaram nossa gente. Importante destacar que as artes plásticas floresceram nesse ambiente”.
Entre os restauradores está Adriano Ramos, do Grupo Oficina de Restauro. Nascido em Ouro Preto, portanto, com a arte correndo nas veias, o especialista está certo de que os Livres das imposições das ordens religiosas que dominavam as capitanias litorâneas, diz Adriano, nas Minas do Ouro, as irmandades terceiras, por imposição da Coroa portuguesa, acabaram por possibilitar o exercício de uma arte independente dos padrões diretamente importados da metrópole, tanto para os artistas portugueses que aqui se estabeleceram quanto para outros, aqui nascidos, e que têm como representante maior Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
E, como Minas é estado de diversidade, suas artes são variadas e vão muito além da riqueza do Barroco, sendo formadas pela singela beleza produzida por milhares de artesãos. Entre eles os que tecem um bordado de arte refinada e certeira, nas linhas que passam pela criatividade, tradição e por muito bom gosto, traduzindo um pouco da alma das Gerais.
“Nossa história nos faz ricos em detalhes, requinte, mostrando que as montanhas guardaram ‘a alma mineira bordadeira’, sem muitas influências dos ventos vindos do litoral”, ressalta Maria do Carmo Guimarães Pereira, fundadora e diretora do Maria Arte e Ofício, em Belo Horizonte, espaço de referência e de ensino da atividade que remonta no país aos tempos coloniais.
Pesquisadora da arte do bordado e natural do município de Jequitinhonha, no Vale do Jequitinhonha, Maria do Carmo não tem dúvidas de que os mineiros souberam preservar um espírito reflexivo, um tipo de vida mais reclusa, um jeito mais silencioso para fazer perfeitamente bem seu ofício.
No caso das bordadeiras, tudo começa como desejo, depois segue na linha, guiada pela agulha sobre o tecido, até chegar ao destino: a colcha, a tolha de mesa ou, quem sabe, um pano de prato. “A história de Minas vem sendo bordada séculos a fio pelas mãos femininas, marcada pela criatividade dos riscos e preservada, por muitos, como requintada obra de arte”, diz Maria do Carmo. “Bordado deve ser escrito com letra maiúscula e sempre visto como patrimônio imaterial, pois é a cultura do saber e do fazer.”
Minas que te quero muito
por Gregório José, radialista, jornalista e filósofo
“Saber que faço parte da história dos 300 anos de Minas Gerais em 56 de vida é importante para mim. Poucos pensarão assim. Afinal, poucas pessoas comuns se acham dignas de ter contribuído com a história do estado, ou mesmo da cidade em que nasceram.
Mas todos nós ajudamos Minas Gerais a chegar aos 300 anos de emancipação territorial. Sim! A cada dia, com o pagamento de impostos, com a compra de veículos e pagando IPVA aqui, sendo funcionários e ajudando as empresas aqui instaladas a crescer, enfim, isso é ajudar a construir uma história dentro do estado de Minas Gerais.
Gosto de doce de leite, de queijo fresco, de pão de queijo. Como nasci em Uberlândia, Triângulo Mineiro, gosto de ir à feira e comer pastel com caldo de cana. Falo ‘uai’, mas não uso o trem, que, por sinal, tem pouco em Minas atualmente.
Gosto de ouvir causos e histórias contadas pelos mais velhos. Adoro conhecer cidades históricas, ir a igrejas, conhecer nossas raízes. Ouvir o canto dos ‘cantadô’. Saber que a maioria dos sertanejos da atualidade têm que fazer parada em Uberlândia, Uberaba e Araguari.
Moro na Zona da Mata, uma região rica em belas paisagens, mas que é pouco vista pela classe política, que custa a dar as caras por estas bandas. Não fossem os deputados com pés e raízes aqui, estaríamos relegados ao limbo do ostracismo que atinge muitos dos 853 municípios mineiros. Grande parte pequenos lugarejos. Menores o que bairros em cidades ‘um tiquim’ menores que Belo Horizonte.
É! Meu pai, baiano de Santa Cruz de Cabrália, e minha mãe, mineira de Ituiutaba, que o digam. Foi difícil criar cinco filhos? Foi, mas somos felizes e ainda estamos em terras mineiras.
Isso sim, é felicidade.
Obrigado, Minas Gerais, pelos 300 anos de existência comemorados neste 2 de dezembro. Ao meu modo, eu contribuí com 56 deles.”