Brasília – A alardeada faxina promovida pela presidente Dilma Rousseff em seu primeiro ano de governo não chegou nem perto das entranhas dos ministérios envolvidos em suspeitas de corrupção. Um levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que das 43 cadeiras que compõem o segundo escalão dos sete ministérios que tiveram seus titulares demitidos sob suspeita de corrupção 22 continuam ocupadas pelos mesmos titulares; oito agora estão em novas mãos, mas de pessoas indicadas por partidos da base aliada; e outras seis foram preenchidas por quadros do próprio ministério que estavam em outras funções. Na prática, apenas cinco cargos passaram a ser ocupados por técnicos — profissionais sem vínculo partidário.
Dança das cadeiras
No Ministério da Agricultura, a estratégia do ministro Mendes Ribeiro foi manter alguns nomes e fazer uma dança das cadeiras entre os demais, promovendo alguns e trocando outros de posição, mas preservando as indicações políticas. Alguns dos mantidos têm perfil estritamente técnico, como o presidente da Embrapa, Pedro Arraes. Outros permaneceram por serem ligados ao PMDB, como o secretário de Desenvolvimento Agropecuário, Erikson Chandoha, indicado pelo ex-governador paranaense Orlando Pessutti. O PTB também manteve seus domínios, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com o aval do vice-presidente Michel Temer (PMDB), preocupado em agradar o PTB paulista para que o partido apoie Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo. Procurado, o ministério afirmou que “o critério para escolha ou manutenção nas pastas foi exclusivamente técnico”.
O Esporte continua um quintal do PCdoB. Mesmo um quadro considerado técnico pelo ministério, o secretario executivo Luís Manuel Rebelo Fernandes, recém-nomeado por Aldo Rebelo, tem estreitas ligações com o partido. O chefe de gabinete, Vicente José de Lima Neto, do PCdoB da Bahia, é herança de Orlando Silva. O mesmo ocorre com o secretário de Esporte de Alto Rendimento, Ricardo Leyser Gonçalves, outro filiado à legenda, condenado pelo Tribunal de Contas das União a devolver R$ 18,4 milhões por supostas irregularidades na preparação dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio.
No Ministério do Turismo, a Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo foi ocupada por Fábio Rios Mota, indicado pelo antigo secretário, Colbert Martins, preso na operação da Polícia Federal que desmanchou a cúpula da pasta. Hoje empenhado em provar que não tinha ligação com os convênios que estavam no alvo da investigação, o ex-deputado admite a nomeação. “O Fábio é uma indicação nossa, do PMDB da Bahia.” Procurado, o ministério não comentou a interferência política nos cargos de segundo escalão e defendeu que manteve quem desempenhava com eficiência sua função.
Indicação política
A Casa Civil, primeira a ter um ministro trocado, segue um território exclusivo de petistas. A única substituição alçou à chefia de gabinete Carlos Carboni, coordenador da campanha de Gleisi Hoffmann ao Senado em 2010. Apesar de a assessoria do ministério negar o vínculo partidário de Carboni — “que fique claro que ele não é uma indicação política”, informou em nota enviada ao Estado de Minas —, o chefe de gabinete integrou uma chapa que concorreu ao diretório regional do PT no Paraná, em 2007.
No Ministério das Cidades, o pouco tempo do ministro Aguinaldo Ribeiro — assumiu há menos de um mês — é o álibi da pasta para justificar a manutenção do feudo do PP. Cinco dos sete cargos de segundo escalão seguem intactos, enquanto a secretaria executiva e chefia de gabinete estão vagas desde a saída de Mário Negromonte.
Ministério que deu origem ao termo faxina, quando o Palácio do Planalto interveio na pasta, em julho de 2011, o dos Transportes foi o único a nomear grande número de técnicos para a cúpula. O efeito atingiu especialmente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Graças às nomeações técnicas que a execução orçamentária dos Transportes em 2011 conseguiu recuperar o ritmo de 2010”, elogia um integrante do Ministério do Planejamento, responsável pelo PAC.