A ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha foi eleita nesta terça-feira presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para um mandoto de dois anos. Conhecida pela dedicação e por sua capacidade de trabalho, a mineira Cármen Lúcia será a primeira mulher a presidir o órgão e a comandar eleições municipais. Quando tomar posse - ainda sem data marcada, mas prevista para a última semana de abril -, ela terá completado 58 anos.
Cármen Lúcia recebeu sete votos entre os oito ministros presentes. Marco Aurélio Mello, que será o novo vice-presidente, recebeu um. Depois de eleita, Cármen Lúcia lembrou que há 80 anos - em 24 de fevereiro de 1932 - a mulher brasileira conquistava o direito ao sufrágio. "Somos hoje mais da metade da população. O quadro da cidadania brasileira mudou, apesar da ainda pequena participação da mulher em cargos de representação política e de comando", afirmou. A ministra disse que continuará a lutar por um país democrático e por condições dignas para cada ser humano.
Ainda mais intensas do que as eleições presidenciais, uma vez que todas as 5.566 cidades brasileiras escolhem seu prefeito, o pleito deste ano terá como novidade a Lei Ficha Limpa, que passará a valer, aumentando o volume de recursos a serem analisados no tribunal. No Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia foi uma das ministras que mais trabalhou pela aplicação da legislação, que foi debatida desde as eleições de 2010.
Empossada no STF em junho de 2006, por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na vaga deixada por Nelson Jobim, ela declarou sentir o peso da responsabilidade de atuar no Judiciário. "O julgamento dos atos alheios é das mais difíceis e pesadas tarefas humanas. Nele se jogam a transcendência dos fins morais e a força imanente do cotidiano."
Durante o julgamento no mês passado sobre a constitucionalidade da Lei Maria da Penha, Cármen Lúcia fez questão de assinalar que o preconceito contra a mulher também atinge ministras da mais alta Corte brasileira. "Alguém acha que uma ministra deste tribunal não sofre preconceito? Mentira, sofre. Não sofre igual - outras sofrem mais que eu -, mas sofrem. Há os que acham que não é lugar de mulher, como uma vez me disse uma determinada pessoa sem saber que eu era uma dessas: 'Mas também agora tem até mulher'. Imagina", desabafou a ministra.
Formada em direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e professora licenciada da instituição, Cármen Lúcia é doutora e mestre em direito constitucional, além de especialista em direito empresarial. Ela atuou como advogada e foi procuradora-geral do estado de Minas Gerais.