O contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso durante a Operação Monte Carlo, tem em Minas Gerais um importante território para a operação dos seus negócios ilegais com o jogo. Cachoeira, assim como seu parceiro, o senador goiano Demóstenes Torres (sem partido), montou empresas no estado em diversas áreas de atuação, há mais de duas décadas, em Uberlândia, no Triângulo mineiro, e em Araxá, no Alto Paranaíba, além de Belo Horizonte. O bicheiro, acusado também de corrupção e formação de quadrilha, já esteve à frente de seis empresas no estado, mas atualmente toca apenas uma delas, a filial da Bet Capital, instalada em Araxá, onde aparece como representante legal . Essa empresa abocanhou um contrato milionário com a prefeitura, já encerrado, mas ainda sob investigação do Ministério Público Estadual por suspeita de superfaturamento na prestação dos serviços.
De acordo com relatório da Procuradoria da República em Goiás, pelo menos 4% dos negócios do contraventor, que já foi dono de, no mínimo, 59 empresas em todo o país, sendo 38 ativas, é movimentado em Minas. No entanto, interceptações telefônicas, feitas pela Polícia Federal com autorização judicial revelam que as empresas legais serviam, na verdade, para ocultar as transações com as máquinas caças-níqueis. Em um diálogo, em julho do ano passado, Lenine Araújo de Souza, sócio da empresa Capital, em Araxá, conversa com um parente de Cachoeira sobre uma comissão de 30% paga a donos de caças-niquéis e um sistema de gerenciamento dos jogos que estava sendo implantado em Uberlândia.
Escândalo
Desde 2000, Cachoeira vem sendo investigado pelo Ministério Público Estadual (MPMG). A Promotoria de Combate ao Crime Organizado do MPMG iniciou uma devassa nos negócios dele em Minas, mas decisão do Conselho de Procuradores barrou a iniciativa, por entender, que as investigações de contravenção penal, são de responsabilidade do Juizado Especial Criminal. Em 2003, o bicheiro foi protagonista de um escândalo em Minas por operar, sem licitação, jogo da Loteria do Estado de Minas Gerais por meio da Jogobrás do Brasil Ltda, empresa que pertencia a ele.
Documento elaborado pela Assessoria de Planejamento e Coordenação da Loteria Mineira, em julho de 2000, revela que o contrato firmado causou um prejuízo da ordem de R$ 286.254.760 durante a gestão do ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB).
Os negócios e as relações políticas de Cachoeira, em Goiás e Minas, tiveram a força de atrair até Goiânia uma comissão de deputados da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), para conhecer uma iniciativa de projeto de lei para regulamentar a jogatina naquele estado. Na ocasião, em 2002, a comissão foi recepcionada pelo secretário de Segurança Pública de Goiás, o então promotor de Justiça Demóstenes Torres, no governo de Marconi Perillo (PSDB). Hoje, o senador e Perillo (PSDB), que retornou ao governo de Goiás no ano passado, são suspeitos de beneficiar o bicheiro Carlinhos Cachoeira, conforme investigação da Procuradoria da República daquele estado. A iniciativa dos parlamentares mineiros, no entanto, não rendeu os frutos desejados. O MPMG, depois da acusação de envolvimento do então procurador-geral de Justiça de Minas Márcio Decat com a jogatina, fez uma dura investida contra os bingos, caça-níqueis e jogo de bicho, enterrando a possibilidade de legalização da contravenção.