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Estado de Minas

Editorial: O delator premiado

Que justiça é essa que permite a liberdade de um cidadão que faz o Brasil explodir, vai embora para se estabelecer nos EUA, e ainda lucra com isso?


postado em 20/05/2017 09:56

(foto: JONNE RORIZ/ESTADAO CONTEUDO/AE Brasil)
(foto: JONNE RORIZ/ESTADAO CONTEUDO/AE Brasil)

No momento em que começam a surgir os primeiros indicadores consistentes de perspectiva de fim da recessão econômica, o país volta a atravessar uma grave crise política. Em primeiro lugar, vale destacar que, independentemente do desfecho do processo de instabilidade, é preciso serenidade e equilíbrio neste momento delicado para não se perderem as conquistas concretizadas nos últimos meses – neste sentido, as ações de controle de danos, tomadas pelo Ministério da Fazenda e outros agentes públicos, merecem o devido destaque. Mas o que é preciso também ressaltar não apenas por chamar a atenção, mas causar revolta, é a postura de aquiescência do Ministério Público diante das benesses concedidas ao empresário Joesley Batista no seu caso particular da delação que chocou o Brasil. Como foi possível acertar um acordo no qual o delator, que confessa crimes e mais crimes, sai praticamente impune e ainda lucra com o episódio? Inaceitável.

Quando a delação veio à tona, o sr. Joesley divulgou carta contendo termos como “erramos” e “pedimos desculpas” pelos crimes cometidos. E ainda se permitiu elogiar outras nações, nas quais “fomos capazes de expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos”, indiretamente atribuindo ao Brasil os seus conluios nada éticos. A culpa, então, também pode ser debitada ao país? A carta pública do sr. Joesley chega a ser um escárnio à sociedade brasileira.

Vale lembrar que a delação vem à tona no exato momento em que o frigorífico JBS, já consolidado como uma das maiores empresas alimentícias mundiais, está muito próximo de se estabelecer definitivamente fora do país. Com o processo na reta final, o empresário acelerou a sua confissão e sua empresa ainda fez movimentações cambiais para lucrar com o impacto previsível da delação. A ação, por si só indecorosa, foi admitida pela empresa e classificada sob o eufemismo de “política de gestão de riscos”.

O resultado é o que estamos vendo, lendo e escutando nos últimos dias: uma bomba de consequências imprevisíveis e que mergulha o país, novamente, em um cenário de incerteza. Uma bomba detonada por alguém que vai viver no exterior, com a família, sem amargar um dia na prisão, nem sequer usar tornozeleira. Como resumiu a revista piauí, foi um autêntico “golpe de mestre”: “Os donos da JBS prepararam uma delação que os deixou de mãos livres e bolsos cheios”.

O que causa espanto é o Ministério Público aceitar um acordo extremamente vantajoso para uma das partes. Isso é fazer justiça? Que justiça é essa que permite a liberdade de um cidadão que faz o Brasil explodir, vai embora para se estabelecer em território norte-americano e ainda lucra com isso? O mesmo clamor popular, que apropriadamente reage com indignação às gravações que escancaram a podridão política nacional, deveria se voltar para o questionamento deste tipo de ação. Os fins não justificam os meios. Da forma como o processo foi conduzido, fica uma certeza. Houve um grande premiado: o delator.


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