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Estado de Minas

Prática de atividade física age diretamente sobre a capacidade pulmonar


postado em 29/04/2011 16:53

Está comprovado: o exercício físico melhora, sim, a capacidade pulmonar. Parece evidente, mas uma séria controvérsia sobre a questão perdurava na literatura médica desde os anos 1970. A pendenga acaba de ser resolvida pelo Laboratório de Estereologia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo. Após estudarem os efeitos das atividades físicas com intensidade moderada em ratos, os pesquisadores constataram uma melhora de até 39% da atividade do pulmão. Notícia boa para sedentários, pacientes de bronquite e ex-fumantes.


Para chegar aos resultados, o estereologista Antônio Augusto Coppi conta que trabalhou com dois grupos de ratos. Os primeiros foram exercitados com 60% da capacidade respiratória em esteira ergométrica uma vez por dia, cinco dias na semana, durante 10 semanas. O segundo grupo ficou sedentário no mesmo período. Segundo o pesquisador, foram selecionados apenas animais com aptidão para a corrida e todos tiveram a mesma dieta.

Após 10 semanas, o pulmão foi analisado pela técnica da estereologia — que analisa as imagens em três e quatro dimensões. “Com a estereologia, é possível estimar o tamanho real e contar o número total das células ou de qualquer partícula, o que permite uma precisão muito maior do que a metodologia anterior, que comumente levava o observador a interpretações equivocadas ”, acredita.

Com contagem exata dos alvéolos e da superfície de troca gasosa do pulmão, Coppi percebeu o aumento de 39% no número de alvéolos pulmonares e mais 39% na superfície de troca gasosa dos pulmões. Essa ampliação da capacidade pulmonar, segundo o professor, se dá pelo aumento da quantidade de alvéolos, que são as microestruturas onde ocorrem as trocas gasosas no sangue e o aumento da superfície de troca gasosa do pulmão.

“Essa modificação melhora significativamente os níveis gerais de oxigenação e diminuem os de CO² no sangue, o que significa melhor desempenho físico em geral”, descreve. Outro resultado encontrado foi no tratamento de diabetes melito dos tipos 1 e 2. Os ratos submetidos ao exercício moderado melhoraram a inervação do pâncreas, órgão diretamente envolvido na doença. “A melhora na inervação no pâncreas pode ser o controle da doença, uma vez que o órgão funcionará melhor”, observa.

Com os resultados, os animais treinados tiveram ainda 49% de acréscimo na pressão de oxigênio, redução de 22% na pressão parcial de gás carbônico e aumento de 3% na saturação de oxigênio. Isso quer dizer que houve um aumento dos níveis gerais de oxigenação e diminuição dos níveis de CO² no sangue. “Isso melhora o desempenho físico geral, inclusive nos esforços”, acredita. Em termos gerais, os resultados da pesquisa mostram que o pulmão se adapta ao exercício controlado. “A notícia é um estímulo a mais para pacientes ex-fumantes, com asma, com bronquite ou sedentários”, acredita.

Caso como o de Sinésio Fabiano da Costa Veras, 32 anos, que fumou cerca de uma carteira e meia de cigarros por dia dos 14 aos 25. Cansado dos problemas, resolveu parar e aliou o exercício físico moderado ao novo hábito. “Corria 5km por dia, por aproximadamente 17 minutos. Me sentia mais disposto”, recorda. Após seis anos sem o cigarro, Veras conta não passar pelos problemas respiratórios até então quase rotineiros, como crises de bronquite, falta de ar, pigarro e tosse. Ele acredita que o exercício, aliado à suspensão do cigarro, o fez melhorar. “Com certeza, a corrida ajudou a desintoxicar e a melhorar a minha resistência pulmonar”, sustenta.

As ressalvas
O pneumologista do Hospital Universitário de Brasília Ricardo Martins conta que a controvérsia na literatura médica sobre os possíveis benefícios para a função pulmonar da prática de atividades físicas é embasada nos resultados de exames realizados em centros de reabilitação. De acordo com ele, há médicos que até defendem a possível melhora da função pulmonar em crianças e adolescentes que realizam programas regulares de atividades físicas. No entanto, o mesmo não se verificaria em adultos. “A atividade física não melhora a medida mecânica pulmonar e o transporte de gases que fazemos na prática médica diária com essas pessoas”, afirma. Para Martins, a atividade física melhora a respiração ao aprimorar a condição cardiovascular e ao estimular a utilização do oxigênio pelas células dos músculos.

Segundo Martins, com os equipamentos usados no hospital, a medida da função pulmonar de pacientes com doenças respiratórias crônicas não melhora, mas o desempenho físico, sim. “Um exemplo: fazemos o teste da caminhada de seis minutos antes e depois de submeter nossos pacientes a exercícios de reabilitação respiratória. O desempenho no teste da caminhada da maioria melhora após seis semanas de treinamento. O mesmo não se dá quando fazemos os testes de função pulmonar”, descreve.

Ele ressalta que existem em todo o mundo muitos centros de reabilitação pulmonar que se valem da esteira ou da bicicleta ergométrica para exercitar os pacientes e não se tem notícia da melhora da função pulmonar nesses indivíduos. De acordo com o especialista, a explicação encontrada é a de que a respiração envolve uma interação entre meio ambiente, cérebro, pulmão, coração, circulação e células. O que deve melhorar nesses pacientes é a condição cardiovascular e o uso do oxigênio pelas células dos músculos. Para Martins, é preciso considerar que o trabalho da USP foi feito em animais de laboratório em condições diferentes das encontradas nos pacientes. O mesmo poderia ser dito da metodologia de avaliação de quantificação dos alvéolos, sustenta.

Para o médico, se os resultados encontrados forem comprovados em seres humanos, seria preciso procurar uma explicação sobre o porquê de uma pessoa submetida a exercício não melhorar sua função pulmonar uma vez que tal atividade aumentaria o número de alvéolo, onde se dá a troca gasosa. “Provavelmente, esse incremento de alvéolos poderia estar ocorrendo em áreas de pouca perfusão sanguínea. Um dos elementos necessários para que a respiração se faça de modo adequado é a ocorrência de uma boa relação entre a ventilação alveolar e a perfusão sanguínea”, opina.

Assim sendo, reforçaria a tese de muitos pesquisadores na área respiratória, que defendem que o tratamento de alguns males pulmonares, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema-bronquite), deve aliar medidas que atuem na ventilação e na perfusão pulmonar. No entanto, o professor Coppi explica que, nos animais estudados, é possível afirmar que existe melhora funcional no pulmão, pois além dos aumentos já citados, a equipe estudou a função do pulmão por hemogasometria e encontraram um aumento da pressão parcial de O² (maior ventilação do pulmão) e uma diminuição da pressão parcial de CO², o que corrobora os achados do aumento do numero de alvéolos e da superfície gasosa. “Existe efeito direto do exercício físico no pulmão, sim”, garante o responsável pela pesquisa.

 

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