Maria Teresa de Freitas, professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e autora do livro Leitura e escrita de adolescentes na internet e na escola, fala sobre as características próprias da comunicação on-line e sobre como é possível — mesmo na web — usar os recursos da língua para que a compreensão entre os usuários seja a mais plena possível.
A linguagem da internet pode prejudicar o desenvolvimento da língua portuguesa?
De um modo geral, a internet é um mundo enorme, que abrange desde o texto científico, com linguagem formal, até a fala mais comum das conversas cotidianas. O internetês se dá em geral nos canais de relacionamento de atendimento rápido. É um contato de conversa entre pessoas, com características da oralidade. As pessoas consideram errado esse jeito de escrever. Mas é um gênero de linguagem específico para esses canais, que segue uma lógica dos teclados, necessária pela velocidade do que é postado. Não prejudica as pessoas e não é mal elaborada, como pensam. É a lógica desses canais de comunicação. Temos uma série de discursos, textos de acordo com especificidade. Existe uma forma de escrever cartas ou provas ou falar ao telefone. Na internet, é teclar uma conversa.
Quais são as principais características do internetês?
As abreviações, por exemplo, fazem parte de um conjunto de características próprias desse instrumento tecnológico. O problema é que nesse código não há jeito de demonstrar sua entonação, diferentemente do que ocorre na conversa ao telefone. Mostrar entusiasmo, satisfação, fica complicado. Mas algumas regras foram criadas para diminuir as dificuldades, como a caixa alta para mostrar que se fala alto, as carinhas para passar sentimentos e recursos do teclado para expressar um abraço.
O que deve ser feito para diminuir os riscos de mal-entendidos?
Acho que a linguagem da internet proporciona muitas condições de contato entre as pessoas por meio das redes sociais. Os usuários dessa nova linguagem sabem que não vão usar o internetês em outro local, como na redação escolar ou para preencher um formulário. Os jovens sempre tiveram códigos para se comunicar, antes de existir a internet. Existe risco em qualquer texto. E aí vai uma crítica: a escola tem que mostrar como se escreve em cada um dos gêneros textuais, inclusive o da internet.