Você utiliza com frequência mecanismos de busca na internet? Ainda que a resposta seja negativa, vai gostar muito de saber quem é Nivio Ziviani. Se é um contumaz usuário desses sites, então sua vida está intimamente ligada a este homem de 64 anos. Professor emérito do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ziviani é o criador de um dos primeiros sites de busca do mundo, o Miner, construído nos laboratórios da escola em 1998 a partir da tese de mestrado de um aluno.
A proeza bastaria para uma vida de glória e dinheiro, sobretudo depois que uma grande empresa do setor de comunicação, com braço na área da internet, comprou o Miner, pouco mais de um ano depois de a ferramenta ter sido colocada em funcionamento. Mas não ficou nisso. O professor, em 2000, lançou o Akwan, de acuã, palavra em guarani que significa rápido, ligeiro. O sistema também foi vendido, cinco anos depois, para o atual gigante do setor de buscas, o Google.
A empresa parece ter ficado tão animada com o novo sistema que montou em Belo Horizonte um centro de pesquisas para a América Latina, além de ter colocado como um de seus executivos Victor Ribeiro, o pupilo de Ziviani autor da tese de mestrado que originou o Miner. A contribuição do professor para a ciência, a inovação e a pesquisa é tão valiosa que ele acaba de ser condecordo com o prêmio mérito científico da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) 2011.
Ele tenta resumir o que faz: "Gosto de transformar resultados de pesquisas em riqueza", argumenta. Ziviani não se refere ao bom dinheiro – que não revela, por imposição contratual – recebido nas transações. Ele fala de crescimento intelectual. Quanto tempo levava há 20 anos realizar uma pesquisa sobre, por exemplo, um tipo de câncer? Hoje, ainda que superficialmente, e com cuidado na escolha das fontes de informação, uma pesquisa na internet pode começar a dar a noção sobre a doença.
Ziviani faz questão de guardar, sobre um armário de sua sala na UFMG, o primeiro computador usado como servidor do sistema Miner. "Um dia tivemos que correr para comprar outra máquina, mais potente, porque a nossa já não estava aguentando o movimento. Como tudo na internet, o número de usuários dobrava a cada 30 dias", lembra o professor.
E se tudo acontece mais rápido na informática, nada como projetar, projetar e projetar. Ziviani trabalha, já em fase final, com dois sistemas. Um, o Zunnit, é o que vem sendo chamado de ferramenta de recomendação. É fácil perceber do que se trata no Twitter, por exemplo. Ao acessar a rede social, o dono da página vê surgir indicações sobre outras pessoas, que pode adicionar às que já segue ou simplesmente ignorar. "É o futuro-presente. É o que há de mais quente na internet", diz Ziviani. O outro sistema é o Nhemu – outra palavra em guarani –, que significa vendedor. A ferramenta é um comparador de preços, algo comum na internet. O internauta precisa encontrar o valor mais barato de um produto, e apenas digita o que quer adquirir para obter os resultados.
A UFMG não detém participação financeira em nenhuma das negociações já realizadas ou que podem vir a ser feitas pelo professor ou seus alunos. "O que faço é colocar o nome da universidade em tudo o que faço", afirma Nivio Ziviani. A escola, no entanto, já chegou a receber, por doação, R$ 100 mil da equipe do professor envolvida na criação dos produtos que ficaram conhecidos como a "Família Miner".
ALGORITMO
A base de todo o trabalho do professor, e também de tudo o que está relacionado à informática, é o algoritmo. A palavra pode soar como algo de difícil compreensão, mas nada, nem mesmo no mundo dos computadores, é impossível de ser explicado. Algoritmo é uma sequência de comandos criados por programadores para resolver um problema específico. No caso do professor Ziviani, o de encontrar palavras relacionadas em idiomas naturais (português, francês, inglês, espanhol e outros).
Formado em engenharia mecânica na própria UFMG em 1971, Ziviani, que já trabalhava com informática no centro de cálculos eletrônicos da faculdade, virou professor auxiliar no Departamento de Ciência da Computação da escola em 1972. Fez mestrado em 1976 e, em 1982, concluiu doutorado na Universidade de Waterloo, no Canadá, onde esteve novamente em 1984 para iniciar os estudos sobre os algoritmos.
Ziviani completa 65 anos dia 27. Com tanto estudo e a enorme contribuição para o mundo da informática, só tem uma tristeza na vida: tenista, reclama de estar mais lento para chegar às bolas. Liga não, professor. Na web, você é o Novak Djokovic.