O projeto SciELO Livros começa com a oferta de aproximadamente 300 títulos. “A iniciativa veio de uma vontade de aplicar a metodologia do SciELO, de divulgar periódicos e revistas científicas, aos livros”, destaca Adriana Luccisana, supervisora do projeto e integrante da equipe de coordenação e organização. Ela considera que a nova iniciativa pretende fazer com que os leitores conheçam novos autores: “Queremos dar maior visibilidade aos escritores que produzem conteúdos importantes e, na maioria das vezes, não têm espaço para divulgar o trabalho.”
Os primeiros títulos ofertados são, majoritariamente, indicados pelas editoras Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), UFBA (Universidade Federal da Bahia) e Unesp (Universidade Estadual Paulista), que lideram o projeto com o portal. “Uma porcentagem significativa de citações que os periódicos SciELO fazem, principalmente na área de humanas, está em livros. E, como um dos objetivos da coleção é interligar as citações entre periódicos, a ideia é também fazer isso com livros”, afirma Abel Packer, membro da coordenação do programa.
Para a seleção das obras, um comitê científico se baseou em padrões de controle de qualidade aplicados aos textos, que estão formatados de acordo com padrões internacionais nos formatos ePUB (adequado para tablets) e PDF. “O objetivo é contribuir para desenvolver infraestrutura e capacidade nacional na produção de livros em formato digital e on-line”, diz Packer. A meta é que, até o fim deste ano, o portal já tenha publicado aproximadamente 500 obras. Posteriormente, o programa abrirá espaço para que outras editoras acadêmicas se integrem à coleção on-line. Os livros estão disponibilizados no site https://books.scielo.org/.
Comercialização Adriana Luccisana revela que o portal terá também uma área para que o usuário compre livros das editoras integrantes do projeto: “Pretendemos fazer uma integração entre a disponibilização gratuita e a comercialização das obras. A venda deverá ser uma das fontes de recursos financeiros previstos na operação autossustentável do portal. Isso representa uma novidade para o SciELO, que tem acesso totalmente aberto para os seus periódicos. Entretanto, o número de livros em acesso aberto deverá predominar”, diz Abel Packer.
Para Flavia Rosa, responsável pela editora da UFBA e presidente da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (Abeu), um projeto como esse no Brasil ajuda a aumentar a visibilidade da produção científica e acadêmica brasileira: “A editora visa, com a parceria com o SciELO, ampliar o acesso à produção da universidade e ultrapassar os limites da instituição para que o conhecimento e a pesquisa sejam democratizados”.
Ela conta que, desde o fim de 2007, a UFBA já estava refletindo sobre a disponibilização das publicações. “Simultaneamente, começamos a pensar na implantação do repositório institucional da universidade, que é um portal do conhecimento que tem como objetivo divulgar conteúdos produzidos por pesquisadores em acesso aberto”, considera Flávia. O endereço é: www.repositorio.ufba.br.
No momento, a editora da UFBA não faz uma divisão entre as obras comercializadas e as outras disponibilizadas gratuitamente: “Já avaliamos que determinados títulos, mesmo em acesso aberto, continuam vendendo bem ou até mais. Essa dinâmica amplia a divulgação e o acesso. Quem, de fato, precisa do livro opta por comprá-lo em suporte papel. O benefício é que, agora, os interessados terão a possibilidade de tê-lo no formato e-book”, destaca Flávia Rosa. “Muitos autores que as editoras estão publicando são desconhecidos, outros já têm livros publicados, mas não fazemos esta separação. O importante é o conteúdo”, completa.
Produção em destaque
O programa SciELO (sigla de Scientific Electronic Library On-line – Biblioteca Científica Eletrônica On-Line) funciona como uma espécie de biblioteca eletrônica e é considerado um modelo para a publicação de periódicos na internet. O programa é resultado de uma cooperação entre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e a Bireme, centro especializado da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Com a missão de estimular a comunicação científica nos países em desenvolvimento, especialmente na América Latina e no Caribe, a plataforma foi criada em 1997 e está implantada em sete países: Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, Venezuela, Espanha e Portugal. O principal objetivo do programa, desde que foi fundado, é dar acesso adequado e atualizado à informação técnico-científica dos países em que foi implantado, o que “é essencial para o desenvolvimento econômico e social, especialmente para apoiar os processos de tomada de decisão na planificação, formulação e aplicação de políticas públicas, ou para apoiar o desenvolvimento e a prática profissional”, como destaca o site do programa. Para formar um modelo de publicação adequado, o SciELO utiliza três componentes. O primeiro permite a publicação eletrônica de edições completas de periódicos científicos e envolve, entre outras funções, a preservação de documentos e a produção de indicadores estatísticos que podem ter um impacto na literatura científica. O segundo componente é voltado para o desenvolvimento de sites especializados em divulgar coleções de revistas eletrônicas. O último modelo é voltado para a miscigenação de conteúdos de atores brasileiros e estrangeiros da comunidade científica. Entre eles, há autores, editores, instituições científico-tecnológicas, agências de financiamento, universidades, bibliotecas, centros de informação de cunho científico-tecnológico, com o objetivo de disseminar, aperfeiçoar e atualizar o programa. “A operação da rede SciELO baseia-se fortemente em infraestruturas nacionais, o que contribui para garantir sua futura sustentabilidade”, informa o site oficial.