
A história do homem nascido em Salinas, no Norte de Minas, ocorreu em 2008 e só agora vem à tona com a tese de doutorado defendida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pela enfermeira Daniela Aparecida Morais. Desde 2005, ela se dedica aos casos relacionados às paradas cardíacas, em especial de pacientes em alta hospitalar, e terá, até o fim do ano, a pesquisa publicada numa revista europeia, além de apresentação em congressos de cardiologia e terapia intensiva. “Ele ressuscitou 70 vezes, faz ginástica e tem o estado mental normal. Geralmente, nesses casos, o comum é evoluir para óbito ou ficar com sequelas”, explica Daniela. Foram 1.165 pacientes – 239 encaminhados a hospitais e a história de Francisco surpreendeu a professora e pesquisadora.
Foi em 31 de dezembro, por volta das 14h, que o eletricista começou a passar mal. Ele diz que essa parte ficou apagada da sua memória e se lembra apenas de estar “num barco, quase se afogando”. Foram 21 dias de internação no Hospital das Clínicas, 15 deles no Centro de Terapia Intensiva (CTI).
Trajetória
No dia a dia, Francisco gosta de fazer palavras cruzadas e sudoku, malha cinco dias na semana e gosta de ficar em casa. Na cozinha, aprecia os doces, mas, diabético, tem que manter distância. A trajetória hospitalar de Francisco tem uma série de sofrimentos. Adolescente, com 17 anos, teve uma úlcera supurada e nove anos depois, contraiu tuberculose. Em 1999, padeceu com uma trombose na perna, fez cirurgia para revascularizar a área, mas teve que amputar o dedo médio do pé esquerdo. No local, apareceu uma ferida que não cicatrizava, então os médicos sugeriram nova amputação. Francisco recusou, a família assumiu o risco e o levou para casa. "Ficamos sete meses fazendo curativo, até cicatrizar a ferida", lembra Ninotchka. Em 2004, Silva fez uma cirurgia para retirar três tumores (benignos) na próstata e contraiu uma infecção generalizada.
No Hospital das Clínicas, depois de transferido do Risoleta Neves, Francisco recebeu uma ponte de safena e três stents (“mola” para abrir artérias). Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sofreu embolia pulmonar, insuficiência respiratória e infecção generalizada. Hoje, feliz da vida, Francisco está certo de que, se gato tem sete vidas, ele tem 10 vezes mais, e está no lucro.