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Estado de Minas

Esqueletos indicam que Europa sofreu reviravolta genética

Pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, analisaram o DNA de 39 esqueletos de diferentes períodos históricos que habitavam uma mesma região da Europa Central


postado em 25/04/2013 08:59 / atualizado em 25/04/2013 09:03

Fabrício Santos, que participou da pesquisa, acredita que a expansão da cultura campaniforme pode explicar a predominância de uma variabilidade genética na Europa hoje(foto: Arquivo Pessoal)
Fabrício Santos, que participou da pesquisa, acredita que a expansão da cultura campaniforme pode explicar a predominância de uma variabilidade genética na Europa hoje (foto: Arquivo Pessoal)
Uma questão-chave para a Pré-história humana é responder até que ponto as mudanças culturais identificáveis nos materiais arqueológicos podem ser atribuídas ao movimento migratório das próprias pessoas e não só à disseminação de seus artefatos e ideias. Os registros da Europa Central analisados por arqueólogos identificam uma sucessão de profundas modificações entre as culturas de caçadores e coletores do período final do Mesolítico, passando pelos primeiros agricultores do início do Neolítico até chegar às chefias socialmente estratificadas do início da Idade do Bronze. Entretanto, o contexto genético dessas transformações desenroladas ao longo de quatro milênios permanecem até hoje obscuras.

Em artigo publicado na edição desta semana da revista Nature Comunications, pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, analisaram o DNA de 39 esqueletos de diferentes períodos históricos que habitavam uma mesma região da Europa Central. Com isso, os cientistas afirmam revelar a primeira história genética detalhada da Europa, mostrando que as migrações tiveram um papel importante na formação genética da população moderna do continente. Os exemplares analisados englobam indivíduos de 5.450 a.C., compreendendo o período Paleolítico, até esqueletos da Idade do Bronze de 500 a.C.

A partir da comparação com linhagens genéticas predominantes nos europeus de hoje (o haplogrupo H), o pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais e um dos colaboradores do estudo, Fabrício R. Santos, explica que os resultados mostraram que houve uma inexplicável reviravolta genética no continente há cerca de 4,5 mil anos. Para chegar à constatação, o grupo de cientistas utilizou como principal fonte de análise o DNA mitocondrial extraído de ossos e de amostras de dentes pré-históricos encontrados no centro da Alemanha para sequenciar um grupo de linhagem genética materna.

Maria Cátira Bortolini, geneticista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, explica que a mitocôndria é uma organela celular passada diretamente da mãe para os seus filhos e, por isso, o genoma contido em tal estrutura sempre conta uma história a partir da linhagem das mulheres. “O que é diferente do genoma nuclear, que conta a história a partir dos dois gêneros”, ressalta. Ao analisarem as mutações nesse tipo de DNA ao longo de diferentes períodos históricos, os cientistas puderam, então, reconstruir as árvores genealógicas matriarcais de diversas populações. Todos os esqueletos estudados eram do halogrupo H, mas, devido à mutações específicas, foram divididos em diferentes linhagens.

O halogrupo H é hoje a variabilidade do DNA mitocondrial humano dominante na Europa Ocidental, sendo encontrada em 45% dos europeus. No entanto, era menos comum entre os antigos agricultores do período Neolítico que chegaram à Europa há mais de 6 mil anos, representando cerca de 19%, e praticamente ausente entre os caçadores e coletores do Mesolítico. Foi somente por volta de 2.500 anos que a linhagem predominante hoje no continente começou a sua ascensão.

“O intrigante é que os marcadores genéticos dessa primeira cultura paneuropeia, claramente bem-sucedida, foram, de repente, substituídos há cerca de 4,5 mil anos e não sabemos o porquê. Algo muito importante aconteceu e a busca agora é descobrir o que foi”, afirmou Alan Cooper, pesquisador da Universidade de Adelaide e um dos autores do estudo. De acordo com Santos, a expansão de populações pertencentes à Cultura do Vaso Campaniforme pode ser uma das causas envolvidas na expansão de indivíduos do haplogrupo H. Denominada assim devido ao formato das cerâmicas que produzia, tal cultura surgiu na Península Ibérica por volta de 2.800 a.C. e chegou à Alemanha vários séculos depois. A partir da análise genética, os pesquisadores conseguiram constatar que subtipos do haplogrupo comuns hoje na Europa surgiram primeiro nesse grupo.

“O ponto importante da pesquisa é mostrar que há uma dinâmica de migrações até então não identificada na Europa. As pessoas que estavam há 5 mil anos naquela região carregavam linhagens mitocondriais diferentes daquelas que estiveram ali em um período mais recente, há 2 mil anos. Isso mostra que não existiu uma continuidade. Podemos pensar que essas pessoas se extinguiram, morreram ou migraram, e que aquela região foi colonizada por outros indivíduos”, avalia Bortolini. Segundo Santos, o estudo indica que uma diversidade de culturas chegou e se expandiu desde a Ibéria e o Leste Europeu por volta de 4 mil anos atrás.


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