PARIS - A sonda Voyager 1 se tornou na última semana o primeiro objeto fabricado pelo homem a alcançar o espaço sideral deixando para trás um rastro de interrogações para as pessoas comuns e leigas no assunto, como qual será o ambiente pelo qual viajará e o que poderemos aprender com isso.
Vários especialistas, entre eles a astrofísica Rosine Lallement, do Observatório de Paris, responderam a algumas dessas interrogações.
- Como se sabe que a Voyager alcançou o espaço interestelar?
- A densidade do meio em que a sonda se desloca é bastante mais elevada que o da bolha em que evoluem a Terra e outros planetas do Sistema Solar.
Os astrofísicos conseguiram fazer avaliações de maneira indireta, a partir de medições de onda transmitidas pela sonda, já que a frequência está diretamente vinculada à densidade.
- Qual é o ambiente em que a sonda se encontra agora?
- O espaço interestelar é feito de gás, o plasma galático. Não pode ser visualizado.
Tudo o que se conhece hoje repousa em dois modelos. Pela primeira vez, uma sonda vai poder explorar esse ambiente. Os astrofísicos vão poder comparar tudo que deduziu indiretamente com observações diretas do gás galático.
E se todos os instrumentos não funcionarem mais na Voyager 1, sua irmãzinha, a Voyager 2, totalmente operacional, deverá penetrar neste meio inexplorado dentro de três anos.
- Por quais informações se pode esperar?
- As informações são particularmente interessantes para a física e principalmente para a análise de interações entre estrelas e os gases na galáxia.
O que se está aprendendo tem implicações diretas, principalmente a respeito da interpretação das supernova" (estrelas que estão se extinguindo). E a análise das supernova permite, por exemplo, compreender se o universo está em expansão.
Também é importante o aspecto da exploração do desconhecido. Sempre é interessante ver o que acontece lá fora.
E se um dia quisermos enviar sondas para as estrelas, se saberá mais sobre seu ambiente.
- Como a Voyager transmite suas informações para a Terra?
Os dados recolhidos pelos diferentes instrumentos são transmitidos em tempo real por rádio, a um ritmo que parece ridículo em vista da velocidade da internet atual: 160 bits por segundo comparados com 5 a 8 milhões de bits em média para uma linha ASL na França.
Esse sinal de rádio é emitido com uma potência de 20 watts, equivalente a um pequeno feixe de uma lâmpada de abajur cabeceira. Mas depois de ter viajado durante 19 bilhões de quilômetros, a potência recebida na Terra é infinitesimal, e é necessário utlizar antenas de 34 a 70 metros de diâmetro da rede Deep Space para ouvi-las.
- Até quando?
- Os responsáveis pela missão acreditam que alguns instrumentos poderão continuar funcionando ao menos até 2020. Mas a partir de 2014, o instrumento ultravioleta a bordo da Voyager 1 será desligado por uma ordem enviada da Terra para preservar a energia para os outros instrumentos. Depois, até 2020, os engenheiros desligarão um por um estes instrumentos para manter a sonda viva, até que o único detector seja suspenso, em 2025.
No entanto, para Ed Stone, cientista chefe do projeto Voyager com sede no Instituto Tecnológico da Califórnia, em Pasadena, mesmo nenhum dado científico seja recolhido depois de 2025, é possível que continuem chegando informações técnicas, mesmo muitos anos depois.