Brasília – Quebrar um osso e reconstruí-lo é uma tarefa complicada, que leva tempo. Fica ainda mais trabalhoso quando o paciente é mais velho e sofre com as agruras da osteoporose. Para ajudar quem enfrenta esses problemas, pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos em São Paulo (UFSCar) desenvolveram o biossilicato, material obtido a partir de vidro e capaz de acelerar a recuperação de lesões ósseas. O produto foi usado em ratos e apresentou resultados animadores. Os cientistas testarão, agora, a aplicabilidade em humanos.
Desenvolvido em laboratório, o biossilicato é composto por sódio, potássio, cálcio, fósforo, oxigênio e silício. Essas substâncias são liberadas quando o biossilicato entra em contato com fluidos corpóreos, o que estimula os osteoblastos, células que induzem a regeneração óssea. No teste, ratas foram induzidas à menopausa com a retirada dos ovários e lesões na tíbia. Os animais foram tratados com o biossilicato. “O tecido regenerou mais rápido e com maior organização do que o que se verificou nos animais que deixamos evoluir naturalmente, sem o biomaterial”, explica Nivaldo Antonio Parizotto, professor do Departamento de Fisioterapia da UFSCar e um dos integrantes do estudo.
Segundo Parizotto, quando o uso de laser de baixa intensidade foi combinado com o biossilicato, a regeneração dos ossos aconteceu de forma ainda mais rápida (veja infográfico). “Conseguimos, dessa forma, um osso ainda melhor e mais rápido depois de algum tempo de tratamento. Portanto, podemos dizer que os ossos foram regenerados de maneira mais rápida e eficiente com a associação dos dois tratamentos”, diz o pesquisador.
De acordo com o cientista, o biossilicato é uma composição melhorada do vidro em pó pelo aumento da cristalização dele. A técnica já havia sido explorada por outros pesquisadores, como Larry Hench, dos Estados Unidos, que iniciou as pesquisas nessas linhas. “Mas o nosso grupo introduziu o uso de agentes eletrofísicos para acelerar e melhorar a ação desse material. Com isso, houve um ganho de qualidade no osso regenerado e também uma aceleração no tempo de reconstituição desse osso”, destaca Parizotto.
Aplicações Coordenador da Ortopedia do Hospital Israelita Albert Einstein, Mario Ferreti explica que o material criado pelos pesquisadores de São Paulo não agirá diretamente na osteoporose. “É um recurso que ajuda na formação óssea, assim como outros materiais já disponíveis no mercado, e pode vir a tratar defeitos ósseos, fraturas com defeitos importantes. Não a osteoporose, mas fratura de pacientes com a osteoporose”, destaca.
O tratamento desenvolvido pela UFSCar traz esperanças também para o tratamento da osteogênese, doença em que a formação dos ossos se dá de maneira anômala, deixando-os frágeis e quebradiços. Para o ortopedista Antonio Vitor de Abreu, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a osteogênese é um problema que merece cuidado e dedicação. “Conhecemos mais de 100 substâncias que prejudicam a osteogênese. Por outro lado, não conhecemos nenhum produto testado que acelere ou melhore o tratamento dessa doença. Muitas pesquisas tentam encontrar esse tipo de produto. Podemos citar a linha de células-tronco, mas tudo isso ainda está num estágio muito experimental e longe da prática médica diária”, destaca o pesquisador.
Parizotto explica que ele e os demais pesquisadores envolvidos no projeto pretendem melhorar a composição do biossilicato para dar continuidade aos testes. “Estão em andamento trabalhos de análises da expressão gênica com técnicas de biologia molecular para entender melhor os mecanismos pelos quais o organismo acelera os processos (de regeneração óssea). Assim, poderemos controlar cada vez mais todos os passos de interação do biomaterial com o organismo e aperfeiçoar sua utilização”, diz o pesquisador.