Do tamanho de uma unha, o sapinho das bromélias só existe no Norte de Minas Gerais e foi reconhecido na semana passada como uma nova espécie. Nunca antes registrado no mundo, o Crossodactylodes itambe foi encontrado por acaso pela bióloga Izabela Menezes Barata, do Instituto Biotrópicos, em uma expedição ao Parque Estadual Pico do Itambé, na Serra do Espinhaço. Ela investigava a influência da altitude na distribuição de anfíbios na região, quando se deparou com os animais em folhas de bromélias, plantas capazes de reter umidade e propícias para abrigar os sapos em um ambiente que tende a ser seco.
Foram necessários três anos para coletar e catalogar a espécie. Desde a primeira aparição, em 2010, a bióloga conseguiu recolher 11 sapos, estudados e descritos minuciosamente. Na sexta-feira, um artigo sobre a descoberta foi publicado na revista científica Zootaxa, reconhecida internacionalmente nessa área. “Demoramos porque é exigida uma série de características para se ter certeza de que é uma nova espécie. Para isso, investimos muito esforço para coletar. Como são espertos e pequenos, conseguiam entrar na bromélia, o que dificultou a coleta”, conta Izabela.
Os sapinhos medem 15mm e não têm saco vocal, o que significa que não cantam, como a maioria dos sapos, para iniciar o acasalamento. Tudo indica que espinhos no dedão do macho servem para auxiliar na reprodução. Acizentados, habitam as bromélias por toda a vida e são encontrados em uma área de apenas 0,1 quilômetro quadrado.
A validação do achado pela comunidade científica internacional permite que os estudos passem para o próximo nível: compreender como os sapos agem no ecossistema. Para isso, é preciso estimar a população desses anfíbios, membros de um gênero que engloba outras três espécies, também raras, todas moradoras de altitudes elevadas e habitantes de bromélias em mata atlântica. O registro é o primeiro no estado, na transição para o cerrado. “Não sabemos se eles estão em outras partes do Espinhaço. Vamos procurar por novas populações”, comenta. Caso as equipes não os encontrem em outros pontos, pode ser um indício de que estão ameaçados de extinção.
Nova referência
A novidade deve ser investigada a fundo, segundo Izabela, para que a ciência aponte o que leva a espécie a proliferar apenas nesse ambiente restrito. Os sapinhos conseguem viver a mais de 1.800 metros de altitude, além de precisar da umidade das bromélias e de temperatura baixa. A hipótese do estudo que será desenvolvido nos próximos três anos é que o aparecimento dos animais esteja relacionado a variáveis climáticas. Assim, as mudanças provocadas pelo aquecimento global podem acarretar perda da biodiversidade. “Eles podem servir como uma espécie de monitoramento das influências do clima. Como vivem em um ponto turístico, vamos começar a determinar quantas pessoas podem subir no pico e treinar os guarda-parques e guias da reserva”, conta. O biólogo Guilherme Ferreira, também do Instituto Biotrópicos, explica que os animais podem se tornar modelos para o estudo de impactos climáticos.
Além de contribuir para pesquisas futuras, os sapinhos podem se tornar símbolos do Pico do Itambé, já homenageado em seu nome científico. O instituto debate agora, com conselheiros da unidade de conservação, a oficialização dos anfíbios como espécie-bandeira do local. A intenção é fazer com que os animais, que só existem lá, sejam associados ao lugar e chamem atenção de novos turistas.