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Estado de Minas

Pesquisadores e ativistas analisam a relação e a importância dos protestos nas ruas e a internet

Prestes a completar cinco meses das manifestações de junho, pesquisadores apresentam análises dos impactos dos protestos para o país. Com base em estudos, será possível prever o que virá em 2014?


07/11/2013 10:45 - atualizado 07/11/2013 13:30

Shirley Pacelli

“Outro mundo é possível. Mas qual é esse mundo? Não há acordo”. Assim, Sérgio Amadeu, sociólogo, professor da Universidade Federal do ABC e pesquisador, reflete a tônica das manifestações que marcaram o Brasil em junho deste ano e que se utilizaram de ferramentas virtuais para se organizar e se propagar por todo o país. Para ele, os protestos contemporâneos seguem a linha dos movimentos em rede que se iniciaram no final dos anos 1990, em Seattle (EUA), quando manifestações antiglobalização explodiram, paralisaram a reunião anual da Organização Mundial do Comércio (OMS) e culminaram no Fórum Mundial Social.

Segundo Amadeu, essa falta de acordo sobre o mundo idealizado influencia os movimentos contemporâneos, tornando-os cada vez mais particularistas, especialmente diante da desconfiança e negação da supremacia dos fins sobre os meios. “Para eles, as finalidades da luta têm menos relevância que os processos. As antigas hierarquias verticalizadas são substituídas por hierarquias de conexão. Passa a ter importância o relacionamento, em detrimento da tradição dos líderes”, afirma.

O sociólogo explica que nesses movimentos qualquer indivíduo conectado pode se tornar uma liderança de rede, mas isso não quer dizer, necessariamente, que ele consiga organizar um movimento. Assim, cresce o número de microlideranças, capazes de sensibilizar e mover outras pessoas próximas, e aumenta a disputa de opinião e perspectivas. “O difícil não é falar, é ser ouvido”, alerta o pesquisador.

Ele lembra que um dos vídeos (https://bit.ly/HjBvIR) mais vistos durante as jornadas de junho, com 2 milhões de visualizações – que mostrava policiais quebrando o vidro da própria viatura –, foi de um jovem que não tinha nem 200 amigos no Facebook. “A qualquer momento alguém pode se tornar um elemento decisivo no processo de mobilização ou nas ondas de opinião”, afirma.

A maior horizontalidade, segundo Amadeu, leva a duas características principais nos movimentos nas redes: objetivo de desmascarar o poder do Estado ou de grandes corporações e sair da web e ganhar as ruas para se legitimar. Para exemplificar, ele cita o coletivo Anonymous, que em um ano englobou cerca de 800 grupos, sendo 178 só no Brasil. “As redes legitimam as ruas e as ruas legitimam as redes, portanto esses movimentos precisam ser cada vez mais híbridos”, destaca.

Ativismo de sofá

E diante de tanta mobilização, qual é a real contribuição do ativista de sofá (que só colabora virtualmente)? Segundo Amadeu, realmente, o que faz mais diferença é ir para a rua, porque esse é o espaço efetivo de contestação – ao ocupá-lo cria-se um efeito simbólico grande. “A rua é o elemento-chave. Mas não podemos esquecer que existe uma opinião pública construída na rede. E aí o ‘ativista de sofá’ é o elemento fundamental porque vai construir ideias, narrativas sobre a realidade. Isso incita e afeta as pessoas. Chega uma hora em que as ações virtuais geram uma série de ações, inclusive na rua”, ressalva.

No bar, na sala de reuniões, nos cafezinhos, a todo momento se discute política. “Mas isso era disperso e não conectado. Com as redes sociais cria-se uma onda de opiniões, conversas passam a ter visibilidade e gerar outras novas. Elas amplificam o debate da política, seja democrática ou não. O senso comum se apresenta e as pessoas formam o seu juízo. Eu não subestimo o militante de sofá”, diz.

 Durante o Colóquio Internacional Tecnologia e Democracia, realizado na UFMG, o Informátic@ conferiu o que ativistas e pesquisadores pensam sobre a relação das manifestações de junho e a web. Em entrevista, o espanhol Javier Toret, do 15M, movimento que sacudiu a Espanha em 15 de maio de 2011, ressalta a importância da conexão dos cidadãos em redes virtuais para alcançar uma sociedade mais democrática.

Jornadas de Junho

O estopim para as manifestações de junho foi o aumento do valor das passagens de São Paulo. Convocadas pelo Movimento Passe Livre, centenas de pessoas foram às ruas. A forte repressão policial e o descontentamento com  outras causas, como os gastos excessivos com a Copa, a corrupção, transporte público de má qualidade e ausência de transparência pública, levaram milhares de brasileiros às ruas de Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e outras  cidades. Em 22 de junho, cerca de 125 mil pessoas protestaram na capital mineira. A tecnologia foi a arma dos ativistas para organizar e acompanhar as manifestações. Um batalhão de voluntários alimentou redes sociais e canais de streaming que transmitiram tudo em tempo real para o mundo inteiro. Foram as maiores mobilizações no país desde o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.

 


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