Laísa Queiroz
Há cerca de dois anos, a estudante de pedagogia Amanda Ramos, 20, abandonou a câmera digital compacta para usar apenas a do celular. Quando comprou o Samsung Galaxy SIII, testou também o iPhone 4S, mas gostou mais do aparelho sul-coreano. Na hora de pesquisar, Amanda observa detalhes como nitidez, resolução e flash (para fotos noturnas, como em festas). O zoom não é tão importante para ela. “Quando for comprar o próximo, quero um smartphone com câmera panorâmica.”
Para a estudante, a primeira grande vantagem do celular é reunir vários recursos em um só equipamento. Com ele, além de fotografar, Amanda executa as funções básicas, como ligar e mandar mensagem – principalmente pelo Whatsapp –, verificar o e-mail, usar redes sociais e fazer anotações de aulas. “Logo, compensa mais gastar bastante dinheiro em um bom aparelho do que em um razoável mais uma câmera”, explica.
RECURSOS
O outro ponto essencial é a conectividade. Depois de fotografar, ela usa um dos quatro aplicativos de edição de imagem que tem disponíveis e posta na conta do Instagram, que é vinculado ao Facebook. “Com os celulares cada vez melhores e a disponibilidade de editar e usar filtros, acho que dá para conseguir resultados interessantes.”
Para o coordenador de um curso de fotografia Fernando Bizerra, é possível, sim, fazer boas fotos com celular. Basta pensar na imagem antes de produzir e conhecer bem as funções de seu aparelho. “Em certas situações, a câmera profissional acaba sendo invasiva e inibe as pessoas que vão aparecer na cena. O celular pode proporcionar momentos mais espontâneos”, aponta.
Segundo Fernando, os celulares estão substituindo muitas compactas que existem no mercado, principalmente pelo custo/benefício. “Comparadas aos smartphones, as câmeras com acesso à internet ainda saem caras e não há tantos modelos disponíveis”, opina. No entanto, estão muito atrás das DSLR e não podem substituí-las. “As máquinas profissionais têm recursos que os outros aparelhos não têm, como lentes intercambiáveis e zoom potente.”
O FIM DOS ÁLBUNS?
O aumento do uso de celular, em relação ao de câmera digital convencional, é perceptível pelo Facebook. Não faz muito tempo, o mais comum, na hora de postar imagens na rede social, era descarregar o cartão SD da máquina e montar álbuns. Agora, a tendência é colocar as fotos diretamente na linha do tempo, editadas em tempo real.
DSLR EM ALTA
Um levantamento do Cipa, site de comparação de vendas de câmeras, aponta que no mundo a comercialização das máquinas digitais compactas ainda é maior, mas vem diminuindo, especialmente entre 2010 e 2012. Em contrapartida, as DSLR estão em crescimento constante desde 2003.
Equipamento imprescindível
Para quem é apaixonado por fotografia, o celular, por melhor que seja, não basta. O advogado Zemir Lopes Nascimento, de 59 anos, por exemplo, não abre mão de sua Canon EO5 60D. Ele fotografa por hobby há 40 anos e chegou a fazer um curso na área na década de 1980. “Comecei a gostar quando ainda era bem novo, folheando as revistas Readers Digest que meu pai assinava”, lembra.
Na casa dele, não faltam livros especializados e biografias de nomes célebres, como Henri Cartier-Bresson e Sebastião Salgado – o exemplar de Êxodos, inclusive, está autografado pelo mais famoso fotógrafo brasileiro. Uma analógica Leica M4 dos anos 1930, que não funciona mais, completa a decoração. “Demorei um pouco para aderir à câmera digital, mas hoje, vejo as vantagens, pois certos resultados podemos conseguir com mais rapidez”, conta o advogado, que tem preferência pelas imagens em preto e branco.
Como não sente necessidade de publicar fotos no Facebook em tempo real, praticamente não usa a câmera do telefone. Prefere a compacta Panasonic Lumix para os momentos em que não pode levar a DSLR, como cliques que faz no trânsito ou quando sai para pedalar. “Não faço com ela tudo o que eu faço com a Canon, mas, ainda assim, consigo tirar fotos muito interessantes.”
O bom e velho filme
Mesmo em um mundo em que quase tudo é digital, há quem aprecie as câmeras analógicas, como a fotógrafa Beca Tschiedel, de 23. Embora trabalhe com uma máquina Nikon D7000 (que é digital), ela fotografa esporadicamente com uma Minolta, por hobby. “Não acho que exista uma variação tão grande na qualidade da imagem, mas é uma experiência muito diferente, pois você não tem a telinha para ver como ficou”, explica. Para ela, enquanto na digital é possível testar, na analógica o usuário precisa saber o que está fazendo ou vai gastar muito filme à toa. “É algo mais sensitivo e, no começo, muito divertido, pois nunca se tem certeza de como a fotografia vai ficar depois de revelada.”
DICAS
O fotógrafo Fernando Bizerra aponta alguns detalhes importantes que podem aperfeiçoar as imagens feitas com a câmera do smartphone.
» Dê preferência a aparelhos com boa resolução, a partir de 7MP
» Observe a escala do ISO: quanto maior, melhor. Há celulares que chegam a 1.600
» Sempre que possível, evite usar o flash. É melhor mexer no ISO para clarear a imagem
» Tente posicionamentos e ângulos diferentes dos usuais
» Trabalhe com luz e sombra na imagem, pois esses são os elementos fundamentais da fotografia
» As pessoas, em geral, apenas apontam e disparam. O ideal é pensar nos planos, eleger o primeiro e segurar a telinha para depois reenquadrar o cenário no fundo
» Por melhor que seja o aparelho e a técnica, o mais importante, seja no smartphone, seja na máquina, é o olhar, a inspiração e o estado de espírito do fotógrafo