A equipe, de 22 pessoas, foi selecionada e treinada em maio. “São feitas duas contagens como teste antes da oficial”, esclarece Antonio Eduardo Araujo Barbosa, de 31, analista ambiental do Cemave/ICMBio, além de coordenador do Plano de Ação da arara-azul-de-lear. O analista conta que a equipe se dividiu em dois grupos e posicionou-se em pontos estratégicos, onde as aves dormem. “Acompanhamos essa espécie há 10 anos e temos mapeados os locais onde ela dorme e se reproduz. Fazemos a contagem no momento em que elas saem para a área de alimentação. Elas são contabilizadas na saída e na chegada”, explica.
Há dois dormitórios da espécie no Raso da Catarina: Toca Velha, na Estação biológica de Canudos, e Serra Branca, na Estação Ecológica Raso da Catarina. “Usamos rádios de comunicação para evitar a duplicidade de contagem onde estão distribuídos os recenseadores, além do auxílio de binóculos”, acrescenta o analista. O grupo foi a campo mensalmente, de junho a novembro, permanecendo três dias acampado. Com a ajuda de um carro, os recenseadores são distribuídos pela região. O trabalho de contagem leva no máximo uma hora em cada turno (manhã e fim de tarde), mas é preciso madrugar, porque ao primeiro sinal de luz as aves saem dos seus ninhos. Do mesmo modo, a equipe fica no local até perder a condição de luminosidade.
Seca e desmatamento
Antonio Eduardo explica que vários fatores são responsáveis pelo discreto aumento no número de araras no Raso da Catarina. Os pesquisadores acreditam que a espécie é monogâmica – os psitacídeos, em geral, são. Além disso, normalmente, cada ave só tem dois filhotes e se reproduz apenas uma vez ao ano. A reprodução da arara-azul-de-lear ocorre de dezembro a julho (as mais retardatárias). Em abril, os filhotes já estão saindo do ninho.
“Em 2012, houve uma seca grande na região e afetou a reprodução das aves em 2013. A seca ainda persiste”, ressalva Eduardo. A arara se alimenta especialmente do licuri, fruto da palmeira, mas também da flor do mandacaru, da baraúna e do umbu. Segundo o analista ambiental, o sucesso reprodutivo do animal está associado à condição de encontrar alimentação na natureza. A espécie só põe os ovos que terá condição de cuidar. Atualmente, a arara é categorizada como “em perigo”. Eduardo conta que levou 10 anos para a espécie subir a essa categoria. Muitos projetos são responsáveis por isso. Há o programa de ressarcimento de milho, por exemplo. Com o crescimento da população e a expansão da agricultura, as pessoas estão desmatando mais e falta alimento para as aves. Com isso, a espécie se aproxima do convívio com os humanos e acaba atacando as lavouras de milho. “Isso gera conflito e os pequenos produtores abatem as aves. Como medida emergencial, pensou-se em um programa de ressarcimento das perdas. O problema é que o projeto, que começou em 2005, não consegue contemplar todos os agricultores”, ressalva.
Há ainda o trabalho de geração de renda por meio do artesanato nas comunidades que moram em regiões onde há o licuri. “A ideia é usar só a madeira de árvores mortas para incrementar a renda familiar. Dessa forma, não competem com a arara”, explica. Além disso, é desenvolvido um forte trabalho de educação ambiental nessas localidades. “A comunidade hoje se apropriou da espécie. A arara-azul-de-lear é símbolo da região”, conta.