Paloma Oliveto
Ontem, um porta-voz da instituição japonesa afirmou que o Riken, o maior centro de pesquisa do Japão, iniciou uma investigação a respeito dos dados divulgados e da metodologia aplicada pela equipe liderada pela bióloga Haruko Obokata.
O motivo da apuração teriam sido dúvidas levantadas por cientistas do próprio Riken e de outros polos de pesquisa, que estavam tentando, sem sucesso, replicar o resultado. Haruko não se manifestou publicamente. A bióloga não está sendo acusada de fraude, mas há dúvidas sobre a autenticidade de imagens do embrião no qual as Staps foram inseridas. Uma postagem anônima publicada no site PubPeer, um fórum de discussão de trabalhos científicos, acusou a equipe de Haruko Obakata de manipular e duplicar as fotos. Além disso, colegas da bióloga acreditam que o passo a passo da técnica contém erros ou omissões.
Boa recepção
Em 29 de janeiro, a divulgação do artigo foi bem-recebida no meio científico. Células-tronco são a grande aposta da medicina regenerativa, com um potencial de tratamento de diversas doenças, como Parkinson e esclerose múltipla, além de representar uma esperança para quem necessita de transplante de órgão. Diferentemente das embrionárias, que suscitam muito debate ético e, na prática, facilitam o surgimento de tumores, as originadas de tecidos adultos podem ser obtidas da pele do próprio paciente. Com manipulação genética, células da epiderme voltam ao estágio indiferenciado. Ao serem tratadas com substâncias específicas, elas se transformam na base de fabricação de qualquer órgão: coração, rim, cérebro etc. As células pluripotentes induzidas foram descobertas em 2006 e, no ano passado, teve início o primeiro estudo com humanos que utilizam a técnica. Apesar de promissor, o procedimento é caro e complexo, pois exige mudanças no núcleo celular.
Ceticismo e cautela
Logo que o artigo foi publicado, a maior parte dos cientistas que se manifestou ficou animada pela facilidade de obtenção de células embrionárias. O resultado do estudo foi comemorado mundo afora. Um dos poucos céticos a levantar voz contra o resultado foi Paul Knoepfler, diretor do Laboratório Knoepfler de Células-Tronco da Universidade da Califórnia. “Em todo o mundo, os cientistas estão tentando usar os métodos descritos no artigo nas últimas semanas. Lancei uma ferramenta para que esses pesquisadores relatem seus resultados. Tivemos nove relatos até agora e eles são muito negativos. A própria Nature fez sua própria pesquisa com 10 grandes laboratórios de células-tronco e nenhum conseguiu produzir as Staps”, afirma Knoepfler ao Estado de Minas. Sobre a duplicidade da imagem do embrião, ele diz que não está tão certo disso.
O comunicado do centro Riken afirmou que, apesar de os métodos estarem sendo analisados, o resultado do estudo é incontestável. Mas a matéria publicada no site da Nature mostrou que até um dos colaboradores do estudo, Teru Wakayama, que assina o artigo científico, teve dificuldades para replicar a experiência. Ao tentar criar as células em um laboratório independente, ele não teve sucesso. “Parece uma técnica fácil – apenas adicione ácido –, mas não é tão fácil assim”, relatou à revista.
Em entrevista à Nature, outros cientistas ponderaram que não se deve condenar a equipe de Haruko Obokata prematuramente. “Um experimento aparentemente fácil de ser feito em um laboratório experiente pode ser extremamente difícil de se replicar em outros”, disse Qi Zhou, especialista em clonagem do Instituto de Zoologia de Pequim. Jacob Hanna, biólogo de células-tronco do Instituto Weizmann de Rehovot, em Israel, lembrou que “temos de ser cautelosos e não perseguir novas descobertas”, embora admitindo ser cético em relação às Stap. Um porta-voz do grupo Nature informou que a editora está “atenta e investigando o problema”.
Repetição?
No artigo, há duas imagens de placenta. Uma foi formada a partir de células-tronco pluripotente induzida e outra com células Stap. A alegação é que a imagem é a mesma, tendo sido duplicada e manipulada.