Feita entre os congressistas do Mobile World e membros de comunidades sociais do IEEE em março, a pesquisa teve grande repercussão. Raul Colcher, membro sênior da IEEE e CEO da Questera Consulting S.A, diz que as opiniões de profissionais e cientistas sobre o eventual desaparecimento do celular e de outras plataformas móveis e portáteis atuais ficam mais claras e fáceis de compreender quando se pensa que suas funções atuais serão absorvidas por dispositivos ou sistemas diferentes, muitos deles “vestidos” ou implantados. “Isso já está começando a ocorrer, por exemplo, com relógios, roupas inteligentes e sistemas acoplados em automóveis. Também é importante notar que a emergência dessas formas novas de comunicação será progressiva e conviverá por algum tempo com as tecnologias tradicionais.”
Raul Colcher explica que as previsões a respeito de datas para introdução de tecnologias baseiam-se normalmente em tratamento estatístico sobre dados coletados de “opiniões educadas” de profissionais e cientistas do campo. “No caso específico de controle de dispositivos e sistemas por meio de ondas cerebrais existem alguns protótipos e experimentos iniciais e bastante atividade internacional de pesquisa nessa área. À medida que esses estudos progridem, tornar-se-á mais claro o potencial dessas tecnologias e também, por outro lado, as importantes questões éticas e de segurança associadas a seu eventual uso disseminado.”
Os avanços são tão espetaculares que Raul Colcher ensina que os atuais dispositivos “vestíveis” ainda executam de forma incipiente algumas das funções que previamente residiam em dispositivos dedicados, como telefones celulares. “Com o passar do tempo, tem ocorrido uma agregação de funções (máquina fotográfica, comunicação de voz e texto, acesso a entretenimento e informação, geolocalização etc.). O passo seguinte é a 'diluição' física dessas funções no próprio corpo do usuário, em que o dispositivo “some” e é apropriado em roupas, objetos vestíveis e micro ou nanotecnologia 'embarcada' no corpo humano.”
Mas quem é o consumidor que demanda por dispositivos controlados pela mente? Para Colcher, como em outros casos de disruptivas, é previsível que a primeira leva de usuários seja uma minoria altamente permeável e interessada em experimentar inovações. “As aplicações iniciais serão provavelmente aquelas mais simples, de controle de dispositivos, conforme ilustrado na pesquisa. Por outro lado, dado o potencial de emprego em soluções médicas e de reabilitação, suponho que essa área de aplicação pessoal seja uma das primeiras a experimentar o uso de sensores e atuadores de microeletrônica implantada.”
Realidade
No entanto, o que há de realidade e o que há de estudo ou desejo (sonho) nessa área que o público leigo precisa saber? Ou nem sequer imagina? “No estágio atual, a realidade são os dispositivos vestíveis, principalmente a leva de relógios inteligentes conectados a celulares. Em nível de pesquisa, estão sendo experimentadas diferentes abordagens para a transmissão, recepção e tratamento de sinais de ondas cerebrais. Outra área importante de pesquisa tem a ver com tecnologias de produção e implantação de microdispositivos eletrônicos.”
Para Raul Colcher, a importância do resultado da pesquisa, num primeiro estágio, é a capacidade de controlar sistemas domésticos e interagir com sistemas comerciais e industriais “sem a intermediação visível de dispositivos específicos ou dedicados. Acoplamento com a internet das coisas. Com o progresso e a maturidade das soluções desenvolvidas, uma ampla gama de aplicações em sistemas médicos e de reabilitação, educação, segurança pública e pessoal, automação de transportes e mobilidade urbana etc.”.
Em outro dado da pesquisa, constatou-se a escolha por veículos autônomos como meio de transporte preferido no futuro. “Os desenvolvimentos recentes e projetados a curto prazo para sistemas de transporte inteligente, veículos autônomos e mobilidade urbana em geral prometem trazer grandes avanços na eficiência, conforto e segurança do transporte individual e coletivo. Esses desenvolvimentos integram o grande marco das cidades inteligentes e representam uma grande revolução potencial para usuários e enormes mercados para fornecedores das tecnologias abrangidas.”
De acordo com Colcher, o valor da pesquisa é sobretudo chamar a atenção e motivar “para os desenvolvimentos emergentes esperados a curto prazo em relação aos mecanismos de controle de dispositivos e sistemas, nos ambientes doméstico, comercial e industrial, com base nas grandes tendências tecnológicas dominantes atuais, como internet das coisas, computação pervasiva e sistemas avançados de telecomunicações”.
Raul Colcher diz ser importante mencionar que as novas tecnologias e soluções em discussão trazem, “ao lado de grandes promessas, também enormes desafios, em questões éticas e de segurança, que representam, por si mesmas, importantes áreas de pesquisa e desenvolvimento, essenciais para a maturidade e a difusão dessas soluções”.
Controle mental/Principais conclusões:
1
Trinta e cinco por cento dos entrevistados que votaram sobre a forma como eles gostariam de abrir sua porta de casa em 10 anos escolheram o controle da mente como a sua preferência, mais do que biometria, scanner de retina, celular, sensores de movimento ou manualmente.
2
Três em cada 10 entrevistados
que responderam à sua preferência para controlar seus utensílios de cozinha daqui a 10 anos escolheram o controle da mente e 24% escolheram dispositivos móveis e de telefonia celular. A tecnologia não domina totalmente a cozinha, pois mais de 1/4 dos entrevistados (26%) ainda gostaria de cozinhar manualmente (27% dos homens, contra 22% de mulheres).
3
Mais de um terço dos participantes da pesquisa que selecionou uma preferência gostaria de controlar as luzes da sua casa através de controle mental em 2025, seguido de perto pelo telefone celular/dispositivo móvel (30%) e sensor de movimento (27%). Apenas 8% dos entrevistados que escolheram como eles gostariam de controlar as luzes de casa em 10 anos responderam que gostariam de fazê-lo manualmente.
4
Cerca de 60% das mulheres gostariam de controlar manualmente os seus carros, enquanto apenas 27% dos homens responderam dessa forma. No entanto, a maioria dos homens (56%) gostaria que sua experiência de condução fosse autônoma, enquanto apenas 12% das mulheres tiveram a mesma preferência.
5
Diferentemente de outras regiões, até 30% dos brasileiros acreditam que o scanner de retina deve ser a tecnologia mais utilizada para abrir a porta de casa em 2025. Quanto ao futuro dos veículos, 77% acreditam que os carros autônomos devem ser a principal opção para fazer viagens longas até 2025.