Cintia é uma mulher livre, independente e bem-sucedida, e escolheu não continuar no casamento -  (crédito: Reprodução/Instagram)

Cintia é uma mulher livre, independente e bem-sucedida, e escolheu não continuar no casamento

crédito: Reprodução/Instagram

 

Embora sempre tenha afirmado que é antifeminista, Cintia Chagas está se tornando o novo ícone da luta feminista, mesmo não querendo isso. Após seu recente divórcio, a notícia de que ela recorreu a uma medida protetiva, via Lei Maria da Penha, apareceu nos principais portais de notícias. Ela foi beneficiada por leis garantidas pelos movimentos feministas. Quando ela se beneficia das conquistas do movimento feminista, acaba dando visibilidade à causa, mesmo sem querer.

Lembremo-nos que a lei do divórcio, uma conquista feminista, foi aprovada em 1977, e a Lei Maria da Penha foi sancionada em 2006. Quando ela se beneficia das conquistas do movimento feminista, acaba dando visibilidade à causa, mesmo sem querer.

Embora tenha falado que a mulher deve ser submissa ao marido, ela não se submeteu, terminou o casamento, denunciou abusos sofridos, pediu medida protetiva. Para muitas mulheres, é difícil se libertar porque pesam questões como a dependência financeira, filhos, além de todo o machismo estrutural que as coloca nesse lugar de submissão. Mas Cintia é uma mulher livre, independente e bem-sucedida, e escolheu não continuar no casamento.

Cintia é uma vítima do antifeminismo que ela própria reproduz. Apesar disso, ela é um exemplo da autonomia feminina e, por isso, muitas mulheres se espelham nela. Se essas mulheres achavam que deveriam ser submissas pelo o que ela pregava, essas mesmas mulheres têm como exemplo a atitude de não se submeter. Se ela sempre atuou a favor do patriarcado, após o divórcio está sendo descartada e deslegitimada por aqueles que ela mesma apoiou. É o que o machismo faz: usa as mulheres até quando elas não servem mais.

Os homens sempre tiveram direito à educação e ao voto; já as mulheres sempre precisaram lutar para conquistá-los. Só em 1988 a Constituição Brasileira passa a nos reconhecer como iguais aos homens. Hoje, a luta feminista é para mantermos os direitos conquistados, e para ocuparmos espaços que ainda são majoritariamente masculinos, como CEO de empresas ou na política.

“O termo feminismo vem sendo usado pelo patriarcado para distanciar as mulheres do movimento, tornando "feminista" sinônimo de mulher feia, que não se cuida, lésbica e barraqueira, gerando hostilidade através do termo”, me escreveu Deyse Dalmora. É verdade, o conceito de feminismo vem sendo deturpado, afinal, qualquer movimento social tem corrente, algumas mais radicais, mas estas não são a maioria, mesmo porque, assim como eu, a maioria das feministas é heterossexual e gosta de ser feminina. 

O feminismo luta contra a discriminação, contra a violência de gênero, a desigualdade salarial, a falta de representação política. Uma mulher feminista pode ser depilada, maquiada, elegante, se ela quiser. Feminismo luta contra a discriminação, a violência de gênero, a desigualdade salarial, a falta de representação política. Se você escolher lutar em cima do salto, está tudo bem! Feminismo é sobre o direito de termos nossas próprias escolhas. Queremos ter direito de escolha, sem julgamentos. Uma mulher sem filhos e sem marido não é incompleta nem infeliz, todas temos direito de escolha.

O feminismo é para todas as mulheres, inclusive para aquelas que acham que não precisam dele. Por tudo isso Cintia Chagas, a antifeminista, hoje desponta como um ícone do movimento feminista, sendo acolhida por nós que sabemos que mulheres podem ser chiquíssimas, femininas, belas e feministas.