Filme sueco O que tiver que ser -  (crédito: Netflix/Divulgação )

Filme sueco O que tiver que ser

crédito: Netflix/Divulgação

 

Uma mulher exausta, casada, mãe de uma adolescente e um menino de 5 anos. A família desabando. Ela decide fazer uma última tentativa de manter a família unida levando-a em uma viagem para a competição de pole dance da filha. Esse é o enredo do filme: “O que tiver que ser”, da Netflix.


Sinopse: nesse drama familiar, acompanhamos Stella (Josephine Bornebusch), uma mulher que gosta de ter tudo sob seu controle. Tudo dentro de casa parece estar em desarmonia: a distância emocional entre Stella e seu marido Gustav; a necessidade constante de atenção de seu filho mais novo e o jeito frio e malcriado de sua filha adolescente. Quando Gustav lhe dá uma notícia inesperada, Stella obriga todos a acompanhá-la na viagem para o torneio de pole dance de sua filha adolescente. Fingir que está tudo bem parece ser a melhor opção, mas ressentimentos entram em choque e sentimentos são colocados à prova. O filme “O que tiver que ser" retrata uma jornada íntima e sensível em busca do que realmente importa.


 

O roteiro e a direção são de Josephine Bornebusch, sueca de Estocolmo, diretora e autora, conhecida por seu trabalho em “Me ame” (2019), “Orca” (2020) e “Harmonica” (2022), e ainda co-diretora da série ”Bebê Rena”. Ela é casada com Erik Zetterberg e tem dois filhos. Provavelmente, o fato de ser casada e de ser mãe ajudaram na construção desse roteiro, no qual podemos nos identificar em vários momentos.

 


Josephine também atua no filme e o resultado é que temos uma hora e 50 minutos de muita sensibilidade na forma de abordar os relacionamentos familiares. Stella (Josephine Bornebusch) é o retrato da invisibilidade que as mães e esposas acabam exercendo dentro de casa, o que leva a uma exaustão muito grande. A invisibilidade é tamanha que ninguém é capaz de perceber que algo muito sério está acontecendo com ela.


Muitas questões cotidianas e universais são abordadas no filme de maneira angustiante, melancólica e muito real: a sobrecarga materna, a invisibilidade do trabalho de cuidado, as questões da adolescência, a ausência paterna. Questões que levam ao desencontro, conflito de sentimentos, o contraste entre o excesso de controle e a falta dele.


 

É recorrente vermos mães se queixando da desconexão do marido com a família, vermos a ausência paterna que agrava a sobrecarga materna, vemos pais com a sensação de terem sido excluídos da vida dos filhos ou se sentindo excluídos da relação. Também não é raro vermos maridos fazendo papel de filhos. A rotina familiar é desgastante, há momentos em que um para de ver o outro por motivos diferentes. É uma dificuldade de lidar com a revolta e a rebeldia adolescente, porque adolescentes estão em busca do seu lugar no mundo, mas precisam e desejam apoio familiar. 


Também pesa lidar com uma criança agitada e com um diagnóstico que dificulta a vida de qualquer pessoa, além de todo o conflito de gerações e questões da velhice. Podemos perceber como os papéis de gênero acabam gerando todas essas dificuldades, pois a mãe fica responsável por todo o trabalho de cuidado, estando presa à função de mãe, enquanto o pai acha que basta ser provedor sem se envolver com as questões domésticas/femininas que o levam a abdicar das responsabilidades de pai e, posteriormente, a se sentir excluído.


Relacionamentos não são fáceis; esse filme é sobre reaprender a olhar para o outro. No fim, a gente acaba se perguntando: se todo casal tivesse a oportunidade de sair da rotina com a família, em uma viagem que obrigasse cada um a exercer seu papel, será que teríamos menos divórcios? Não sei, mas esse filme faz a gente repensar a nossa vida e nossas prioridades. Preparem os lencinhos!