A cidade de Aalen realizou uma assembleia virtual para apresentação do projeto do novo centro esportivo e de lazer da cidade e submeteu o projeto à deliberação dos cidadãos, tudo em ambiente virtual -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)

A cidade de Aalen realizou uma assembleia virtual para apresentação do projeto do novo centro esportivo e de lazer da cidade e submeteu o projeto à deliberação dos cidadãos, tudo em ambiente virtual

crédito: Reprodução/Redes sociais

Com Ettore Oriol

 

Na época da pandemia, o assunto metaverso estava em todas as paradas da moda. Depois que a COVID-19 deixou de ser um problema mundial, o universo virtual interconectado acabou saindo das paradas de sucesso. Porém uma experiência realizada em uma pequena cidade alemã, fez com que essa tecnologia voltasse com uma nova fronteira: o potencial de transformar a a maneira como a democracia é exercida.

 

Mas como o metaverso pode mudar no exercício da democracia?

 

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Ora, o oferecimento de experiências imersivas e interativas pode democratizar o acesso à informação e fomentar a participação cidadã. Tá, mas como?

 

O primeiro caso é exatamente o que foi aplicado na Alemanha. A cidade de Aalen realizou uma assembleia virtual para apresentação do projeto do novo centro esportivo e de lazer da cidade e submeteu o projeto à deliberação dos cidadãos, tudo em ambiente virtual.

 

O segundo caso é a utilização do metaverso para simulações e modelagem de espaços públicos. De certa maneira isso também aconteceu na experiência alemã, mas aqui estamos falando não apenas da simulação de um prédio, mas de todo o ambiente urbano. Imagine, por exemplo, a simulação de um parque verde nas margens do rio Arrudas em Belo Horizonte, mais ou menos nos mesmos moldes que a cidade de Seoul, Coréia do Sul, realizou. O cidadão poderia ver não apenas como o parque ficaria, mas também poderia entender qual seria o impacto no trânsito, na redução da temperatura, na valorização da região central, entre outros impactos.

 

 

Mas não para por aí. O metaverso também poderia ser usado para educação política e cidadania. Imagine, por exemplo, que jovens fossem levados para dentro de Auschwitz na hora que um trem cheio de judeus desembarcasse e pudessem no meio daquele caos entender tudo o que estava se passando. Pudesse ver, ouvir e sentir a dor das famílias, o sofrimento dos famintos. Se o genocídio nazista fosse demais, quem sabe vivenciar o medo, a dor, a solidão e o isolamento dos refugiados sírios ou venezuelanos? Quão mais instrutivas e humanizadas seriam nossas decisões, falas e posicionamentos?

 

Podemos ir além. Em um contexto em que as campanhas eleitorais se tornam cada vez menos propositivas e cada vez mais agressivas, o metaverso poderia dar vantagens aqueles candidatos que, de fato, têm propostas. As pessoas poderiam, por meio dele, experimentar os resultados concretos das políticas propostas. Poderiam vivenciar a nova realidade antes mesmo que se tornasse real.

 

A principal vantagem do metaverso reside em sua capacidade de superar as barreiras geográficas e sociais que tradicionalmente limitam a participação política.

 

Ao criar espaços virtuais acessíveis a qualquer pessoa com um dispositivo conectado à internet, o metaverso permitiria maior motivação, interesse e engajamento em discussões sobre políticas públicas.
No entanto, a implementação dessa tecnologia exige que vençamos importantes desafios: a desigualdade digital, a disseminação de desinformação, a falta de privacidade dos dados pessoais, a insegurança do ambiente digital.

 

A desigualdade digital é um reflexo da desigualdade social e pode ser resumida em dois elementos: acesso e capacidade. No âmbito do acesso estão os limites relacionados a obtenção de hardware, software e conectividade. Embora a maioria das pessoas do Brasil já tenham acesso a internet, ainda há uma grande quantidade de pessoas em que esse acesso é de baixa qualidade ou instável. No âmbito das capacidades, falamos das limitações relativas ao conhecimento, habilidade e atitude das pessoas diante da tecnologia. A falta de uma educação de qualidade acaba empurrando os mais pobres para uma situação em que a tecnologia assusta, afasta ou impede o pleno exercício da autonomia individual na rede.

 

A disseminação de desinformação ou fake news, causada quase sempre por interesses políticos e econômicos, cria uma situação de polarização política e social que aumenta a susceptibilidade das pessoas a acreditarem em mentiras. O resultado dessa crença é a radicalização, o fortalecimento de preconceitos e a disseminação da violência.

 

 

Já a coleta massiva de dados pessoais, inerente aos ambientes digitais, nos obriga a encarar uma série de desafios relacionados à privacidade. A falta de proteção adequada dos dados das pessoas fere um direito fundamental do ser humano e pode causar danos econômicos, de imagem, de reputação, entre outros.
Por fim, na direção dos danos causados pelo atentado contra a privacidade, esta a insegurança digital.

 

Para muitos o ambiente digital é mais inseguro do que o ambiente físico e essa insegurança representa uma das maiores ameaças à sociedade moderna. Na verdade, não é bem assim. O meio digital pode ser mais seguro do que o meio físico, mas para isso é necessário que sejam adotadas medidas de proteção e preservação das pessoas, evitando o roubo de identidade, os ataques hackers, a quebra da privacidade e a disseminação de informações falsas.

 

O metaverso pode representar uma oportunidade única para reimaginar a democracia e fortalecer a participação cidadã, mas isso só acontecerá se os problemas acima forem superados.