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Eleonora Cruz Santos
Eleonora Cruz Santos
Economista, com mestrado em Demografia, doutorado em Administração e pós-doutorado em Economia, trabalha como consultora para organismos internacionais, atuando nas áreas sociais, de mercado de trabalho, migração e desenvolvimento humano; também leciona p
ECONOMÊS EM BOM PORTUGUÊS

O Natal se faz na espera confiante

Muitos se perguntam como nos nutrirmos da esperança da vinda do filho de Deus se secularmente o mundo segue desafios de fome, pobreza, guerras, violências

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Quantos de nós conseguimos olhar para o Natal como a experiência de crescimento, em nossos corações, do nascimento daquele que veio para nos salvar (?). Mas o que seria essa salvação, se tantos nem acreditam em Deus e muitos se veem descrentes diante das atrocidades sociais, políticas e econômicas que perpetuam ou se repetem ao longo da História da humanidade? A cada ano, nascer, no Natal do menino Jesus, é deixar brotar a esperança de uma vida que inclua todos, que seja para todos.

 

O Natal é festa cristã, a maior oportunidade para sermos transformados, na vagareza das construções interiores. Natal é festa do feminino, da confiança e da esperança. É na figura de Maria, na proximidade do final de sua gestação, na realização de sua maternidade, que somos tocados pela natividade, pelo despertar interior de uma plenitude paradisíaca, significativa e tangivelmente sentida pelas mulheres, no ato do parto, e adotada pelos homens, no momento em que se fazem pais.

 

 

O Natal é a festa desse encontro entre mãe e filho. A experiência do amor pleno, do nascimento daquele que veio para tocar todos os corações como se é tocado o coração de uma mãe por um filho. É também o encontro entre pai e filho. Não simbolicamente, José adotou Jesus Cristo com seu amor de pai; assim são também todos os homens que, de alguma forma, adotam seus filhos ao longo da vida. Os pais só entendem plenamente o laço mãe-filho(a) após o nascimento do(a) filho(a).

 

 

O tempo do Advento, que antecede o Natal, é o tempo do vigiar e do orar. É o tempo da espera na esperança. É o período em que podemos nos conectar com tudo o que carregamos de dores e regozijos, de permitirmos que (re)nasça a esperança em nossos corações. No entanto, muitos se perguntam como nos nutrirmos da esperança da vinda do filho de Deus se secularmente o mundo segue desafios de fome, pobreza, guerras, violências contra mulheres e crianças, escravidão etc.

 

 

Em 2024, a italiana Francesca Albanese, relatora especial das Nações Unidas para os territórios palestinos, tem lutado bravamente contra o que definiu como genocídio de Israel ao povo palestino. A ativista iraniana Narges Mohammadi, Nobel da Paz em 2023, recebeu nova sentença (agora de morte) e ainda assim continua promovendo manifestações pela liberdade das mulheres e pelo fim da obrigatoriedade do uso do véu islâmico em seu país.

 

A francesa Gisele Pelicot tornou pública sua história de caso recorrente de estupro promovido pelo marido e por outros mais de 50 homens. Teve a coragem de publicizar sua história para dar voz a outras mulheres em situações de vulnerabilidade. A figura de Eunice Paiva, magistralmente interpretada pela atriz Fernanda Torres no filme “Ainda estou aqui”, comoveu o público com sua história de luta por justiça e dignidade ante um regime militar ditatorialmente violento.

 

 

Maria é figura central no Advento. É ela que carrega, em seu ventre, o Emanuel – Deus vivo. É na figura materna que brota a esperança. É na figura paterna que brota a confiança – José confiou! É no reviver da esperança e da confiança, sustentados pela fé, que nossos corações podem se preencher do amor daquele que veio para que todos tenham vida em abundância. É sob a égide da confiança, da esperança e da fé que somos capazes de continuar lutando por vida plena para todos.

 

 

Para poder atravessar a porta da confiança, parafraseio Frei Pasolini, ao dizer que “não basta mostrar ou simular um pouco de otimismo sobre a realidade. É necessário dirigir o olhar para Deus e abrir o coração à ação do seu Espírito. Se pudermos recuperar a confiança não só em Deus, mas também em nós mesmos e nos outros, seremos capazes de abraçar a realidade, mesmo quando ela é desconfortável e repulsiva, ajustando nosso coração e remoldando nossas expectativas.”

 

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O Natal é a celebração da esperança! É o confiar em compasso de espera, de esperança. É o germinar que, por meio do amor incondicional, transborda para além dos corações maternos e paternos, transcende fronteiras, consanguinidades, raças, gêneros, idade e qualquer outra barreira. É o mistério da criação tornando-nos únicos e unos a Deus no sentido trinitário. Confiemos com coração transbordante de esperança e de amor e sejamos capazes de desejarmos, uns aos outros, Feliz Natal!

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