José Luiz Datena (PSDB) agrediu com cadeirada o candidato do MDB, Pablo Marçal, durante debate  na TV Cultura -  (crédito: Observatório dos Famosos)

'É dever cívico mobilizar o Brasil inteiro por uma causa: erguer um obelisco à cadeira anônima'

crédito: Observatório dos Famosos

Sempre me encantou o fato de Nietzsche propor uma filosofia a golpes de martelo. Com sua ferramenta de destruição em riste, ele desconstruía ídolos que foram erguidos na história do pensamento humano: a moral ressentida, a culpa cristã, os mundos ideais e a razão como explicação totalizante da vida.

 

 

Mas nunca imaginei que, ao lado do martelo nietzschiano, surgiria um outro instrumento de emancipação democrática: a cadeira. Suspeito que nenhum cientista político tenha utilizado sua imaginação sociológica para prever esse fato.

 

 

A partir desta semana, é dever cívico mobilizar o Brasil inteiro por uma causa: erguer um obelisco à cadeira anônima, responsável por, em um mesmo golpe, materializar o desejo de milhões de brasileiros, lavar a alma de muitos idosos e materializar a eficiência das teorias políticas contra o fascismo.

 

 

Extrapolando esse gesto de cidadania, ela ainda desmascarou o discurso do capitalismo-coaching que anda por aí pregando resiliência, foco e propósito, mas não aguenta um gesto um pouco mais efusivo, desmontando-se na fraqueza de um leito de hospital e performando um estágio terminal e imersivo como se fosse uma viagem sem volta para o além, mas esquecendo de colocar filtro na pulseirinha verde do atendimento.

 

Haja contradição... Isso equivale a um pneumologista fumante, um nutricionista consumidor de alimentos industrializados ou um monge tibetano ansioso.

 

Lógico que nossa heroína política sofrerá ataques variados. Irão chamá-la de violenta, irracional ou instrumento para silenciar discursos divergentes. Nesse momento será a hora de defendê-la, promovendo o maior “cadeiraço” desse país! Seja nas ruas, nas varandas gourmets ou nos terraços dos sobrados.

 

 

Sem ufanismo, mas como um aviso para as novas gerações, vamos inclui-la no hino nacional, que agora começará com o seguinte verso: “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas, o zunido de uma cadeira retumbante!”.

 

E, se não for pedir demais, colocá-la na bandeira, ao lado de alguma estrela. Fato é que devemos reescrever os manuais de história e, ao lado dos momentos mais importantes e datas comemorativas, iremos colocar o Dia da Cadeira.

 

 

Agora, durante as aulas de filosofia política, quando aprendermos que, na democracia o poder é uma cadeira vazia, vamos acrescentar que ele é, também, uma cadeira voando.