Maradona e Messi, Racing, Galo e Botafogo
O botafoguense está tenso, taciturno e macambúzio. Nós, bem, nós estamos bêbados e felizes
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SIGA NOBuenos Aires respira o futebol de uma forma intensa e peculiar. Na verdade, já respirava Maradona e agora respira Messi. Nas paredes mais insuspeitas, nos altares mais improváveis, lá estão ambos, onipresentes, tratados como santos. Maradona, o santo do pau oco, que sabemos bem. Messi, o bom rapaz. Num futuro não muito distante, é capaz de a Argentina cultuar um deus com duas cabeças.
Esta semana, os argentinos cuidaram de botar um ingrediente a mais nesse caldo onde vivem mergulhados: o Racing ganhou. A história de superação do clube, que por alguns dias teve decretada a sua falência e desaparecimento, parece encontrar um paralelo com o percurso recente da seleção – que não ganhava nada e agora ganha tudo.
É também uma inspiração e alento para o povo argentino, cada vez mais empobrecido, submetido a uma classe política que teima em distanciar o país de suas glórias do passado. Desde o título da Copa Sul-Americana, Messi e Maradona dividem espaço com as camisas do Racing.
Por motivo óbvio, tratei de adquirir uma flâmula. Sim, uma flâmula, porque uma camisa, como tudo mais, custa aqui o olho da cara e mais uma córnea. Também por motivo óbvio, o atleticano é celebrado pelo torcedor do Racing a cada esquina em que se cruzam.
O torcedor do Boca transformou-se, igualmente, em um aliado, esse por motivos de River Plate. Ao contrário de Arthur Jorge, as crianças adoram o Deyverson. Estava almoçando, ontem, em um restaurante no bairro Palermo, quando três meninos perceberam a minha camisa do Galo. Imediatamente, puseram-se a alongar a perna esquerda, a que respondi, claro, puxando também a minha canhota.
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A essa altura, não são tantos os atleticanos e botafoguenses a se misturarem a Messi, Maradona e o Racing. Vamos, eu e Francisco, contando as aparições e estabelecendo um ranking. Estamos em vantagem, mas temo que o botafoguense, sempre dado às intelectualidades, esteja recluso nos museus e livrarias, em grande contingente. Nós somos mais facilmente localizados nos bares e biroscas onde já se grita Galo a cada copo quebrado no chão. O botafoguense está tenso, taciturno e macambúzio. Nós, bem, nós estamos bêbados e felizes.
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Eu e meu filho nunca deixamos de cumprimentar muito amigavelmente os botafoguenses, porque essa me parece a fórmula perfeita para confundir-lhes o psicológico já um tanto atrapalhado (escrevo antes do jogo com o Palmeiras pelo Brasileirão, então não sei se a coisa se ajeitou ou desandou de vez).
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Sempre retornam nossas saudações de forma muito afável, reafirmando minha impressão de que não há um único botafoguense no mundo que não seja gente fina – se tem eu desconheço. Para causar ainda mais dano, me despeço estimando uma “boa sorte”. Em seguida, rogo-lhes as piores pragas, como se eu fosse o Vanderlei e eles, o Fábio. Ou seja, pelas costas. Seremos campeões!