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Fred Melo Paiva
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FRED MELO PAIVA DE BUENOS AIRES

Fred Melo Paiva: Hoje, no Monumental de Núñez

Hoje, quando o Galo fizer o gol do título no Monumental de Núñez, Deyverson vai parar no ar, como o beija-flor e o helicóptero

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Hoje, quando o Galo entrar em campo no Monumental de Núñez, oito milhões estarão perfilados junto com o time naquela hora em que cantamos o nosso hino no lugar do Hino Nacional, porque a nossa pátria é o Atlético.

 

 

Hoje, quando o Galo entrar em campo no Monumental de Núñez, entra junto a gente menino. Aquelas crianças ali perfiladas somos nós quando viramos atleticanos. São os meninos da rua do Ouro ouvindo o Reinaldo no radinho e balançando nossas bandeiras para os carros que passavam.

 

 

São as crianças que entraram com o time na final de 1977, centenas delas, você já viu as imagens? Será que elas estavam no Mineirão outra vez quando o Galo ganhou a Libertadores de 2013, o título impossível? O Brasileiro de 21, 50 anos num piscar de olhos? Onde estarão hoje aqueles meninos? Ali, no Monumental de Núñez. São eles.

 

 

Hoje, quando o Djonga cantar no Monumental de Núñez, todas as favelas e periferias de Belo Horizonte cantarão com ele, do Complexo da Serra à Cabana do Pai Tomás. Vai ter muita gente na banda do Djonga: o povão da geral, os Galos de Porão e a famosa Galoucura. Todos os pretos e todos os pobres a nos lembrar que somos a seleção do povo, time de preto, de favelado, mas quando joga o Mineirão fica lotado. O Galo de Ubaldo, que “não gostava do Cruzeiro porque lá não podia preto”. 

 


Hoje, quando o Tardelli entrar com a taça no Monumental de Núñez, vai junto o Ronaldinho e a bandeira da dona Miguelina: “Agora eu vou com eles até o final”. Com Tardelli e Ronaldinho vai o bonde todo, São Victor e a canhota de Deus, a testa de ferro do Leonardo Silva, o gol do Guilherme aos 50 do segundo tempo, no acender das luzes. E no apagar delas, o mantra do 'Eu Acredito'.

 

Com o bonde do Galo Doido, Riascos vai partir pra bola. E o Baggio paraguaio vai acertar o travessão. Papai Kalil que abençoe a todos, e o seu Elias que trate de puxar o pé do Luiz Henrique quando já não houver o Éverson pra nos salvar. Não é milagre, é Atlético Mineiro.

 

 

Hoje, quando o juiz apitar o início do jogo no Monumental de Núñez, o sol na moleira será o sol do velho Mineirão a nos pegar de jeito. “O atleticano pode ficar no sol”, disse o lendário Sempre, “mas é fiel feito a sombra”. Galo sempre!

 

Hoje, quando rolar a bola no Monumental de Núñez, o Galo terá 16 jogadores em campo – os 11 titulares e os cinco expulsos de 1981, naquele que o jornal inglês The Guardian já considerou o maior roubo da história do futebol. O roubo que nos tirou o Mundial. Mas que, agora, será devolvido em dose dupla.

 

 

Lá estará Reinaldo, que na Copa de 1978, em plena ditadura argentina, ergueu o punho cerrado no golaço que fez em nossa estreia contra a Suécia em Mar del Plata. Nunca mais jogou. A Argentina foi campeã (roubado) no Monumental de Núñez. Os prisioneiros políticos da ESMA, unidade da Marinha transformada em centro de tortura, vizinha ao estádio, podiam ouvir os gols do River e o título mundial. De lá partiam para os “voos da morte” – drogados e atirados vivos em alto mar a partir de aviões militares.

 

  

O Rei estará no Monumental de Núñez, hoje, para ser campeão. Na cavadinha do Hulk e no drible do goleiro, lá estará o Rei. Nosso Maradona, em cada foto que fará com o punho cerrado estará a prestar homenagem aos 30 mil mortos pela ditadura na Argentina – onde não houve anistia. No final, foi o Rei que ganhou.

 

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Hoje, quando o Galo fizer o gol do título no Monumental de Núñez, Deyverson vai parar no ar, como o beija-flor e o helicóptero. Então saberemos que não era o Deyverson, mas o Dadá.

 

 

Hoje, quando o Caixa narrar o fim do jogo no Monumental de Núñez, terá, de um lado, o Willy Gonzer, e de outro, o Vilibaldo Alves: “Quareeeeeenta e cinco minutos! As lágrimas correm em minha face! Obrigado, meu Deus, por tudo que fizeste na tarde de hoje! O Atlético é campeão! Clube Atlético Mineiro, o campeão de todas as raças! O campeão da garra, da fibra, do amor!”

 

Hoje, se Deus quiser, o Obelisco não será o Obelisco, mas o Pirulito da Praça Sete. Deus salve o Clube Atlético Mineiro! 

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