x
Gustavo Werneck
Gustavo Werneck
Formado em Comunicação Social (Jornalismo) na PUC Minas. Repórter do jornal Estado de Minas desde 1993.
nossa história, nosso patrimônio

"Dona desta casa, venha nos abrir a porta..."

Publicidade

Mais lidas

O verso que você acabou de ler, caro leitor, une um chamado ao pedido de licença. Na forma de música, com acompanhamento de acordeom, pandeiro e viola, ele é entoado pelas pastorinhas em sua peregrinação pelas casas, igrejas, capelas, enfim, onde houver um presépio para celebrar o nascimento do Menino Jesus. “...Santos Reis, como louvado, nos ensinou o caminho errado” – eis o complemento da estrofe cantada de geração em geração.

 


Passei grande parte da minha ouvindo, no Natal, a voz de Cleusa da Conceição Batista Braz, a “cigana do Egito” das Pastorinhas, grupo fundado em Santa Luzia, em 1952. A ideia inicial de dona Maria de Lourdes Mendes se completou com o empenho do militar Cipriano Batista Rodrigues. Era uma festa esperar a chegada da turma trazendo à frente uma menina vestida de “Estrela”, e os “caboclos” marcando o ritmo.

 


Saia rodada, tranças feitas de fibra de pita, um planta do seu quintal, e muitos colares, brincos e pulseiras, Cleusa, falecida em 2021, aos 75 anos, parecia uma figura do presépio tal a sua integração com os festejos.

 

Sul de Minas: interdição da BR-354 é mantida por queda de barreira


Hoje, felizmente, as festividades do Natal se mantêm com o grupo da terceira idade “Amigos para Sempre”, coordenado por Helena Moreira dos Santos, fisioterapeuta. “Dona Cleusa pediu que não deixássemos morrer essa tradição. E nos deu as coordenadas”, afirma Helena, incentivadora das senhoras “pastoras”, que levam junto os netos vestidos de anjo.

 

Acidente em Teófilo Otoni: sobe para 32 o número de vítimas identificadas


Em Minas, a tradição começou no século 18, trazida pelos portugueses, e foi ganhando força e espaço, tanto que, em 2017, pastorinhas, folia de reis, ternos, charolas e outras manifestações nascidas da devoção popular foram reconhecidas como Patrimônio Cultural Imaterial. Conforme levantamento do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural e Artístico (Iepha), há 2.643 grupos no estado.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

Origem portuguesa

 

A história dessa manifestação popular que encanta e emociona os brasileiros tem suas origens nos autos pastoris portugueses da Idade Média, associados à “alegria franciscana”. É que tudo começou na região italiana da Úmbria, com a montagem do primeiro presépio por São Francisco de Assis (1182-1223). Ao cantar e dançar diante da gruta, ele dava início ao costume que, mais de 800 anos depois, se torna um cenário de beleza, poesia e delicadeza.

 


Devoção


Dançando e fazendo saudações diante da manjedoura e das imagens, surgem anjos, borboletas e os reis magos. Assim ocorre também em Jaboticatubas, na Grande BH, onde o entusiasmo é o mesmo com as Pastorinhas de Belém. À frente, segue Maria Geralda Cardoso, a “Geralda das Pastorinhas”, como é mais conhecida na cidade. Além das igrejas e capelas, a turma visita os doentes e pessoas em instituições de longa permanência para idosos, creches e outros locais. No dia do Natal, o grupo cantou na Matriz Nossa Senhora da Conceição.


Já em Couto de Magalhães de Minas, no Vale do Jequitinhonha, gerações vão se sucedendo nas Pastorinhas do Deserto, formado há mais de 100 anos. Durante décadas, Inês Bernardina Luz, a dona Dina, falecida recentemente aos 89 anos, comandou o grupo. Em entrevista, em dezembro de 2011, ao Estado de Minas ela contou que, quando criança, fazia parte e gostava muito. “Naquela época, as pastorinhas já existiam havia muito tempo, fazendo apresentações na Igreja do Bom Jesus do Matosinhos e depois nas casas”. Logo após o Natal, será a vez da Folia de Reis sair às ruas.

 


AUTOS DE NATAL, CORTEJOS E MUITA LUZ...


Difícil encontrar uma cidade do interior de Minas que não tenha decoração especial no Natal. Há fios de luzes contornando igrejas, um Papai Noel no alto de um poste, o casario antigo com guirlandas de flores e frutos. Em Perdões, na Região Centro-Oeste, moradores assistiram ao auto de Natal “Sinhô Rei Menino”, produção do Mundo Cultural Mundo Cênico.

 

...VALORIZAM MONUMENTOS MINEIROS


A apresentação, com direção artística de Bruno Costa, ocorreu na Praça da Matriz, onde fica a Igreja Matriz Senhor Bom Jesus dos Perdões, de 1790. No elenco, 80 pessoas, incluindo crianças do Latemp (Lar, Trabalho e Escola do Menor Perdoense). “O palco se transforma em retrato vivo do nosso povo, da nossa cultura, da fé e dos sonhos que nos movem. É a celebração de quem somos, com orgulho de nossas raízes mineiras”, destaca Bruno Costa.


PAREDE DA MEMÓRIA


A coluna de hoje está em total espírito natalino. E nem por isso deixa de lado a luta pelo resgate dos bens culturais e espirituais de Minas. Então, quem souber, pode dar informação sobre a peça sacra ao lado (foto). O Menino Jesus desapareceu há 30 anos da Capela São João Evangelista, em Tiradentes, um bem tombado pelo Iphan. Em madeira policromada, tem 25 centímetros de altura, 11cm de largura e pertence à imagem de Nossa Senhora dos Remédios. Na plataforma Sondar, do Ministério Público de Minas Gerais, há mais dados sobre o objeto de fé e a forma de como fazer denúncia sobre esses e outros tesouros subtraídos.


ENCONTRO EM DIAMANTINA


Em 12 de janeiro, Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, realizará o 5º Encontro de Folia de Reis e Pastorinhas, considerado o maior na modalidade no estado. Estão previstos 40 grupos, com o total de 600 participantes. Promovido pela prefeitura local, que, neste dezembro, celebra os 25 anos do título “Diamantina – Patrimônio Mundial”, o encontro será no Mercado Velho, durante todo o dia. Nos últimos anos, houve o resgate da tradição mediante políticas públicas municipais.


FOLIA NO SERRO


Os festejos natalinos vão até 6 de janeiro, Dia de Reis. E para saudar Gaspar, Belchior e Baltazar, que vieram do Oriente visitar o Menino Jesus, as Folias de Reis entram em cena. No Serro, no Vale do Jequitinhonha, o roteiro está completo. Começa dia 2, com saída de São Gonçalo do Rio das Pedras. No caminho, tem parada na Cozinha de Angela, em Milho Verde, e na Comunidade Quilombola do Ausente, com retorno, à noite, a São Gonçalo. A programação se repete nos quatro dias seguintes. Promoção das paróquias São Gonçalo e Nossa Senhora da Conceição e Prefeitura do Serro, via Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Patrimônio.


REIS EM MARIANA


As folias também vão fazer a festa em Mariana, primeira vila, cidade, capital e diocese de Minas Gerais. No total, são seis grupos, sendo a de Paracatu de Baixo a que vai de casa em casa logo após o Natal. O Centro Histórico (foto) está preparado para receber os turistas, com os monumentos e praças iluminados. Maiores informações no site prefeiturademariana.gov.com.br.

 

 

 

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay