Um dia destes, passando no Bairro Floresta, me bateu um sentimento nostálgico e saudoso da infância. Acabei me dirigindo à rua onde vivi meus primeiros oito anos de vida. Na época, o movimento de carros era razoável pela proximidade com o Colégio Batista Mineiro, mas, ainda assim, era possível aproveitar o que as ruas de paralelepípedo ofereciam como ambiente de diversão. Atualmente seria impossível ficar solta naquela região como o era na década de 1960.
Guardo ótimas recordações das brincadeiras que fazíamos, eu, meus irmãos e as crianças que moravam no prédio, sendo o meio fio o destino no final do dia. Era naquela hora que apurávamos nossos ganhos, traduzidos principalmente pelo número de feridas novas nos joelhos e cotovelos ou pela quantidade de terra por debaixo das unhas e acumuladas nas roupas. Mas sozinhos nunca íamos muito longe. O perigo rondava em forma de carros e do temido “homem do saco”.
De lá nos mudamos para o Sion, o que tornou minha infância mais livre ainda. Aquele bairro era o fim do mundo, como meus pais ouviram inúmeras vezes os parentes e amigos falarem em tom de crítica. Carros eram raros por ali e, quando aparecia algum, em nada nos incomodava. Tínhamos certeza de que ao volante estava o pai ou a mãe de algum de nós. No final do dia, a brincadeira favorita era mãe-da-rua, coisa que hoje duvido fazer parte do repertório de algum grupo de criança. Ou ainda exibir o que cada um tinha apurado ao invadir os lotes vagos em busca de qualquer coisa que parecesse ter valor, mesmo que simbólico, como uma pedra bonita ou um pedaço de pau tortuoso.
Não sou do tipo que acha que tudo no passado era melhor que agora. Quando penso nisso me recordo do pai de uma grande amiga que vivia criticando nosso gosto musical, rock, em detrimento ao dele, clássico. “Vocês não sabem nada, têm muito a aprender”. De certa forma ele tinha razão e nós também ao dirigirmos nossas duras críticas aos adolescentes de hoje. Afinal, a diversidade é uma de nossas maiores riquezas e reconhecê-la, nosso dever.