O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou neste domingo (21) que não vai concorrer à reeleição -  (crédito: Kent Nishimura/AFP)

O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou neste domingo (21) que não vai concorrer à reeleição

crédito: Kent Nishimura/AFP

Biden fora da disputa presidencial não era uma surpresa. A pressão dentro do partido era enorme. As pesquisas mostravam que ele perdia apoio popular. Os financiadores haviam congelado novas doações, limitando sua capacidade de fazer campanha. Ao decidir não aceitar a indicação do partido para que dispute a reeleição, o presidente Joe Biden interrompe uma crise que ameaçava rachar o partido Democrata e, ao mesmo tempo, reduzir consideravelmente a chance de vitória contra Donald Trump. Ele endossou Kamala Harris como o nome mais indicado para disputar em seu lugar.

 

O partido estava preparado para o momento seguinte, uma vez estancada a crise com a desistência de Biden. Está em circulação entre lideranças e militantes do partido uma carta de apoio a Kamala Harris. O ex-presidente Bill Clinton e a ex-senadora e ex-secretária de Estado Hillary Clinton já apoiaram seu nome. Em nota, o ex-presidente Obama fez um longo e veemente elogio a Biden, mas não mencionou Kamala Harris. A vice-presidente está recebendo muitos apoios de importantes senadores, praticamente todas as lideranças progressistas já se manifestaram a seu favor, mas há vozes dissonantes e silêncios eloquentes que pedem escolha mais ampla.

 

 

A saída de Biden libera os delegados que deveriam votar nele e seu endosso a Kamala Harris não os obriga. Ela pode ser contestada na convenção, ou mesmo antes. Tecnicamente, Biden não era o candidato oficial. Era o indicado pela maioria nas primárias. Mas o candidato oficial só é nomeado pelo voto dos delegados na convenção. Os republicanos dizem que a nova candidatura seria ilegal, mas isto é bobagem. A convenção obedece a todos os prazos estabelecidos pela legislação dos estados para registrar candidaturas. São essas leis estaduais que impedem candidatos como Robert Kennedy Jr de registrar sua candidatura em alguns estados. Legalmente não há impedimento algum para o registro de um candidato diferente de Biden.

 

 

Kamala Harris se pronunciou dizendo que lutará para ser nomeada oficialmente pelo partido Democrata. Em uma nota otimista, ela disse, com razão, que os Democratas têm 107 dias para enfrentar Trump e vencer unidos a eleição. Sua candidatura já está ganhando tração, recebendo apoios influentes que tendem a carrear para ela votos de muitos delegados. Mas o fato de algumas lideranças cruciais, como Barack Obama, não a terem apoiado deixa em aberto se haverá ou não disputa na convenção. Alguns Democratas acham que ungir Kamala Harris seria pouco democrático, mais legítimo seria promover uma competição até a convenção. “Road shows” em que os candidatos seriam sabatinados dariam base para que os delegados decidam. Será uma convenção histórica, que aclamará Joe Biden como um dos maiores presidentes que o partido já elegeu e nomeará a chapa que enfrentará a de Trump/Vance.

 

Uma competição pode ser para legitimar a candidatura da vice-presidente, ou pode ser para valer. A vice-presidente tem vantagem logística, financeira e política, o que tende a inibir concorrentes. Mas, nada impede que haja uma disputa real, que só seria resolvida pelos delegados, em agosto. De todo modo, o partido terá que agir para que a convenção seja um momento de motivação dos eleitores. A campanha começará para valer em setembro, com os dois candidatos oficiais. Há tempo para uma candidatura Democrata se firmar e ser capaz de derrotar Trump.

 

 

No momento em que eu escrevia esta coluna, pelo menos uma das lideranças mencionadas como possíveis substitutas de Biden caso ele desistisse parece já ter decidido não contestar Kamala. A deputada Debbie Dingell por Michigan disse à MNSBC que conversou com a governadora desse estado, Gretchen Whitmer, e ela disse que não será candidata a cargo algum este ano.

 

 

Trump tem vários fatores negativos no confronto com Kamala Harris. Ela foi procuradora e, portanto, promotora, Trump é réu em vários processos e já foi condenado em um deles. A sua agressividade e machismo são um risco ao debater ou criticar uma mulher. Kamala tem menos de 60 anos, a idade avançada se volta contra Trump. Kamala enfrentará o racismo de Trump e dos eleitores brancos, mas com o endosso do “Black Caucus”, um dos mais poderosos grupos dentro do partido Democrata. Terá o apoio de latinos e asiáticos americanos que temem o radicalismo anti-imigração de Trump. A reação Republicana demonstra preocupação. Os Republicanos estavam certos de que ganhariam de Biden por larga vantagem. Agora tudo voltou a ser incerto.