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Juraciara Vieira Cardoso
Juraciara Vieira Cardoso
Professora da Universidade Federal de Lavras, graduada em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutora em Filosofia do Direito
VITALidade

O verdadeiro espírito do Natal

"Em época de consumo exacerbado e carência emocional nas alturas, muitas vezes o amor é medido pelo preço ou pelo impacto do presente"

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Geralmente, passamos todo o mês de dezembro indo de confraternização em confraternização ou envoltos com os presentes e preparativos para o Natal, e acabamos nos esquecendo de refletir sobre o amor altruísta, que é a maior mensagem dessa época. Essa semana me deparei com um lindo conto de Natal, escrito por O. Henry, no qual o autor nos narra a história de Della e Jim, um casal muito pobre que nos mostra que o significado do Natal está muito além dos bens materiais, ele está nos pequenos e nos grandes sacrifícios que fazemos por amor.

 


Com o objetivo de agradar um ao outro na noite de Natal, Della e Jim resolveram vender aquilo de que eles mais gostavam para demonstrar seu carinho. Della era dona de uma linda cabeleira longa e negra, mas resolveu vendê-la para presentear Jim com uma corrente nova para o relógio que ele tanto gostava. No entanto, no momento da troca de presentes aconteceu uma ironia, Jim deu a Della um pente para pentear os cabelos de que tanto ela gostava, que ele havia comprado com o dinheiro da venda do seu relógio de estimação.

 


A ironia do conto é que ambos sacrificaram bens pelos quais tinham estima, em troca de presentes que não poderiam ser usados, mas é exatamente nessa troca aparentemente inútil que está o amor. Em época de consumo exacerbado e carência emocional nas alturas, muitas vezes o amor é avaliado pelo preço ou pelo impacto do presente, no entanto, Della e Jim nos convidam a olharmos em outra direção: não importa, nem o valor nem o resultado do presente, mas sim a generosidade com a qual foi dado.
Costumamos começar a sentir o espírito de Natal quando, no mês de dezembro, as luzes coloridas começam a brilhar em todos os lugares e as vitrines chamativas das lojas nos convidam às compras. No entanto, esse espírito só surge de fato quando nos apartamos do nosso egoísmo e enxergamos verdadeiramente para além de nossas próprias necessidades. Ele se traduz em sacrifícios silenciosos, em gestos autênticos e em uma entrega na qual não se espera nada em troca, uma espécie de amor que está muito além do material, mas que se satisfaz com a doação desinteressada.

 


Para muitos de nós, pode parecer difícil praticar essa espécie de amor, pois acreditamos que ele só se reflete em atos de grandes sacrifícios, mas não é bem assim. Praticamos esse amor altruísta quando temos gestos de gentileza no nosso dia a dia, quando, por meio de nossas palavras, levamos conforto a um coração ou quando estendemos nossas mãos de modo sincero a um necessitado. Não precisamos ter dúvidas de que um escutar atento ou o simples fato de estarmos presentes ao lado de uma pessoa pode ser o suficiente para tornar o dia dela melhor.

 


Em tempos de pressa e consumo, é muito mais fácil dar um presente, ou até mesmo enviá-lo diretamente para a casa do presenteado, do que doar-se verdadeiramente para o outro. Muitas vezes, estabelecemos nossas relações de modo transacional, onde sempre esperamos algo em troca de cada gesto de carinho ou bondade, mas o amor altruísta, que é o verdadeiro espírito do Natal, não calcula, não pesa as perdas ou ganhos, ele apenas entrega.

 


A maior mensagem de Natal, que nos foi ensinada por Cristo, é a do amor altruísta, que se entrega e que nos desafia a repensar nossas próprias atitudes limitadas quando expressamos nosso amor. O Natal não é sobre presentes, nunca deveria ter sido sobre presentes, ele está no amor que é capaz de ver o outro do mesmo modo como se vê, na verdadeira presença e no cuidado genuíno. Desejo que todos nós tenhamos um Natal repleto de autêntico amor e entendimento mútuo!

 

 

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