Artista de vanguarda nos anos 1960/1970, Torquato Neto, morto há 52 anos, dialoga com os jovens criadores do século 21
 -  (crédito: Acervo Torquato Neto)

Artista de vanguarda nos anos 1960/1970, Torquato Neto, morto há 52 anos, dialoga com os jovens criadores do século 21

crédito: Acervo Torquato Neto

 

 

Em 9 de novembro, completaram-se oito décadas do nascimento de Torquato Neto, figura central do movimento tropicalista, que tirou a própria vida aos 28 anos, em 10 de novembro de 1972. Sua obra permanece presente e pulsante – esta percepção, somada à efeméride, levou o poeta paulista Tarso de Melo a idealizar o livro “Só quero saber do que pode dar certo: oitenta vozes vezes Torquato Neto” (Editora Impressões de Minas).

 

 


Melo convocou o colega piauiense Thiago E, conterrâneo de Torquato, para juntos organizarem a recém-lançada publicação, que, na prática, contém três livros. O eixo central é a antologia de poesia contemporânea com 80 artistas – poetas, sobretudo –, convidados a escrever textos que, de alguma forma, dialogam com a produção do tropicalista. Torquato compôs “Louvação” e “Geleia geral” (com Gilberto Gil), “Pra dizer adeus” (com Edu Lobo) e “Mamãe, coragem” (com Caetano Veloso), entre outros clássicos da MPB.

 

 

 


A lista dos 80 inclui nomes de todas as regiões do país, de diferentes gerações e perfis, com equilíbrio de gêneros. Ailton Krenak, Arnaldo Antunes, Edimilson de Almeida Pereira, Estrela Leminski, Micheliny Verunschk, Nicolas Behr, Pedro Bomba e Ricardo Aleixo, além dos próprios organizadores, são alguns dos autores. Com poemas em sua maioria, há também espaço para expressões vinculadas às artes visuais.

 

 

Torquato Neto e Gilberto se abraçam fortemente e sorriem

Dupla Torquato Neto e Gilberto Gil compôs 'Louvação' e 'Geleia geral', canções emblemáticas da Tropicália

Canal Brasil/reprodução

 


“A antologia mostra as variedades possíveis de diálogos que ainda estão sendo feitos com a obra de Torquato Neto, o que inclui desde poetas jovens, de vinte e poucos anos, até nomes da geração dele”, diz Melo.

 


O segundo “livro dentro do livro” é a seleção de textos de contemporâneos de Torquato, que conviveram com ele ou tinham proximidade com seu legado. Em páginas pretas dispostas antes e depois da antologia, estão reunidas apreciações da obra e homenagens ao piauiense assinadas por Augusto de Campos, Chacal, Duda Machado, Paulo Leminski e Waly Salomão, entre outros.

 

 

Poeta Tarso de Melo mostra capa do livro que organizou, dedicado à obra de Torquato Neto

Livro organizado por Tarso de Melo reúne antologia poética de Torquato Neto, textos contemporâneos e fotobiografia do pioneiro da Tropicália

Instagram/reprodução

 

 


Thiago E explica que esta parte estabelece uma ponte com a revista de poesia e arte de vanguarda Navilouca, idealizada por Torquato e Waly Salomão em 1971, mas que veio à luz somente em 1974, em edição única.

 


“Pensamos em artistas que tivessem ligação com a Navilouca, que está completando 50 anos de publicação. Selecionamos textos de algumas pessoas que participaram, parceiros de geração do Torquato, como Augusto de Campos, Chacal e Duda Machado”, diz.

 

 


O terceiro livro contido em “Só quero saber do que pode dar certo” é a fotobiografia do poeta, com imagens franqueadas por seu primo, George Mendes, responsável pelo acervo da família. Melo convidou Thiago E para trabalhar na organização da obra justamente pela proximidade geográfica dele com esse acervo e por ser grande conhecedor da obra de Torquato.

 


“Acabou ficando essa mescla, a antologia de poesia contemporânea nacional e intergeracional, a seleta de textos sobre Torquato, de poetas da geração dele, e a fotobiografia”, diz.

 

 

Thiago E destaca que a organização multifacetada do volume estabelece sintonia com a produção diversificada do homenageado.

 


“O trabalho que fizemos foi muito intuitivo, entrosado. Estávamos pensando na mesma direção, com essa coisa da integração de várias gerações, várias geografias e modos de fazer. São linguagens que Torquato incorporava. Ele era o cara da letra de música, do poema escrito, do cinema em Super-8, da performance em fotografias e do texto jornalístico. Tinha o desejo de interseção das artes e das diferentes formas de expressão”, ressalta.

 

 

Soma de linguagens

 

A multiexpressão é um dos fatores que mantêm a atualidade do compositor e poeta, meio século depois de sua morte.

 


“Torquato vem da produção dos anos 1960 e 1970 com o desejo da soma de linguagens. A riqueza de expressões em um só trabalho dialoga muito com o tempo que a gente vive hoje”, diz Thiago, destacando a assertividade do piauiense. “Ele não enrola, não dá voltas para dizer uma coisa, tem posicionamento direto em relação à linguagem, seja poética ou imagética”, pontua.

 

 

 


Para Melo, a radicalidade, a urgência e a vontade de atuar em seu tempo fizeram com que Torquato transcendesse sua época.

 

“Um jovem que ouve 'Go back' (poema dele musicado por Sérgio Britto, dos Titãs) não tem como imaginar que foi escrito há 50 anos. Coisas do Torquato parecem feitas agora. É difícil se destacar como poeta na geração de Caetano, Chico Buarque, Capinan e Duda Machado – para falar só dos letristas –, mas ele não só se destacou, como é o xodó desta turma”, observa.

 


“SÓ QUERO SABER DO QUE PODE DAR CERTO: OITENTA VOZES VEZES TORQUATO NETO”


• Org: Tarso de Melo e Thiago E
• Editora Impressões de Minas
• 280 páginas
• R$ 98,80, no site da editora