Camará, ao mesmo tempo em que pode ser um termo utilizado em rodas de capoeira, é o nome de uma planta nativa das Américas, amplamente encontrada no Brasil. O arbusto, com rápida capacidade de propagação e diversidade cromática, foi por muito tempo destaque nos jardins do Conjunto Moderno da Pampulha.
Ornamental e invasor, o camará é sinônimo de resistência e ocupação e, por isso, foi escolhido como tema da 9ª Bolsa Pampulha, iniciativa de residência artística promovida pelo Museu de Arte da Pampulha (MAP). Neste ano, 11 bolsistas, de cinco regiões do Brasil, desenvolveram seus trabalhos entre abril e outubro na instalação temporária do MAP no Viaduto das Artes, no Barreiro, com a tutoria de Froiid e Lucas Menezes.
Agora, os frutos dessa imersão ganham forma na mostra “9ª Bolsa Pampulha: Camará”, em exibição no CCBB até 24 de fevereiro. Com curadoria de Juliana Gontijo e Pollyana Quintella, a exposição reúne pinturas, instalações, vídeos, esculturas e objetos que exploram ancestralidade, forças naturais e contextos históricos.
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Desta vez sediada no Barreiro, a Bolsa Pampulha reafirma seu compromisso com a descentralização cultural. Além disso, a reformulação do projeto inclui pela primeira vez uma bolsista dedicada à pesquisa curatorial, a mineira Luiza Marcolino.
Heranças afetivas
Entre as artistas mineiras da edição, está Dyana Santos, de 37 anos, natural de Contagem, na Grande BH. Dyana encontrou inspiração para o desenho ainda na infância, influenciada pelos padrões de energia elétrica construídos pelo pai, eletricista, e os croquis desenhados pela mãe, costureira. Em 2009, ingressou no curso de artes visuais na UFMG, com habilitação em pintura. Contudo, sua curiosidade por outras formas de expressão a levou a desenvolver trabalho cada vez mais tridimensional, culminando no estudo de esculturas.
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“As chapas de aço e os fios de cobre vêm do meu pai, enquanto a costura, o bordado e o macramê que desenvolvo nas esculturas vêm das mulheres da minha família. Esses elementos visuais se integram a minhas obras como heranças afetivas. São sempre trabalhos feitos a partir de materiais industriais, em uma negociação entre maleabilidade e delicadeza com a rigidez”, explica Dyana.
Na mostra, a artista expõe duas criações. A primeira é a escultura interativa em forma de cadeira de balanço, enquanto a segunda será uma escultura pública instalada na orla da Lagoa da Pampulha. Inspirado pelo desejo de escavar histórias não oficiais relativas ao Barreiro e a Belo Horizonte, o monumento homenageia Matias, alforriado que lutou pelo cumprimento da Lei dos Sexagenários na década de 1880.
Experiência coletiva
Para explorar a essência de cada criação dos bolsistas e valorizar a experiência coletiva vivida durante o semestre, as curadoras Juliana e Pollyana acompanharam os residentes de perto, promovendo encontros de interlocução mensais.
“A curadoria deve ter uma certa escuta para conseguir identificar e traçar as relações. É um desafio, mas o diálogo identifica algumas questões em comum que nos ajudam a criar vizinhanças da exposição, mas sem tentar forçar uma espécie de tema. Assim, a mostra consegue respeitar a singularidade e a autonomia de cada trabalho”, afirma a curadora Pollyana Quintella.
“9ª BOLSA PAMPULHA: CAMARÁ”
Exposição de obras dos residentes da Bolsa Pampulha. Em cartaz até 24 de fevereiro, nas galerias do térreo do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). Visitação de quarta a segunda, das 10h às 22h. Entrada gratuita, com retirada de ingresso na bilheteria local ou no site ccbb.com.br/bh.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro