"Filhas" acompanha a relação da menina Aubrey com o pai, trancafiado no presídio -  (crédito: Netflix/reprodução)

"Filhas" acompanha a relação da menina Aubrey com o pai, trancafiado no presídio

crédito: Netflix/reprodução

Até 17 de janeiro, quando serão divulgadas as indicações ao Oscar 2025, muita coisa pode acontecer. Além da categoria Melhor Filme Internacional (para a qual está cotado o brasileiro “Ainda estou aqui”, de Walter Salles), outras nove passaram pelo primeiro crivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

 

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Uma das mais disputadas na pré-seleção foi a categoria Documentário em Longa-Metragem. Quinze produções, escolhidas entre 169 inscritas, integram a chamada shortlist, de onde sairão as cinco indicadas. Três delas estão disponíveis na Netflix. Nomeadas ou não, são três grandes histórias para rir e chorar.

 



•  “Filhas”


Aubrey, de 5 anos, é a aluna mais inteligente da sala dela. Pelo menos é o que a garotinha diz. Mas não dá para duvidar. Com essa idade, faz conta como ninguém. Sabe que sete é um número alto. Se incomoda mesmo é com a quantidade de dias que dura um ano, pois serão sete anos para que volte a ter o pai em casa.

 

Este é o início de “Filhas”, documentário de Natalie Rae e Angela Patton, que acompanha cinco garotas, entre 5 e 15 anos, com pais condenados pela Justiça. Criado há mais de uma década, o programa “Encontro com o papai” é um baile realizado em presídios para aproximar meninas dos pais.

 

 

 


São seis horas de festa, com as meninas vestidas a caráter, os pais de terno e gravata. As mães ficam de fora, já que o foco está na relação pai e filha. Detentos passam por uma seleção e devem fazer preparação de várias semanas, que inclui dinâmicas de grupo. Cumpridas as penas, 95% dos presidiários que participaram do programa não retornaram ao sistema carcerário.

 

 

A câmera, sempre muito próxima, mostra as meninas e seus pais, juntos e separados. Como o filme avança no tempo, é tocante ver como as relações são abaladas com a ausência. Aubrey com 8 anos é mais resignada, distante, pois tomou consciência sobre como vai demorar para ter o pai de volta. Nem ela nem ele serão os mesmos quando isso, eventualmente, ocorrer.

 

Personagem de jogo virtual e Mats Steen, portador de doença generativa, no documentário A extraordinária vida de Ibelin

"A extraordinária vida de Ibelin" mostra que Mats Steen, portador de doença degenerativa, criou persona que conquistou multidão de amigos na internet

Netflix/reprodução

 


• “A extraordinária vida de Ibelin”



Nascido em 1989, Mats Steen, primogênito de um casal de noruegueses, foi um bebê adorável até ser diagnosticado com Duchenne, distúrbio que provoca a degeneração progressiva dos músculos. Não tem cura e a expectativa de vida é de 20 anos. Mats morreu aos 25.

 

O pai tinha a senha do computador dele. Poucos dias após sua morte, a família escreveu mensagem no blog de Mats. Avisou que ele havia morrido e agradeceu quem o conheceu. Os pais esperavam uma mensagem ou duas; vieram inúmeras, de amigos online que ele havia mantido por anos, por meio do jogo World of Warcraft.

 

 

Sua persona virtual, Ibelin, viveu na tela tudo o que a doença não permitiu que Mats realizasse. Ele fez amigos, deu conselhos, se apaixonou, fez a diferença. E muita gente se importava com ele (era essa a grande preocupação do jovem; num texto, admitiu que temia não fazer diferença no mundo).

 

 


O diretor Benjamin Ree intercala duas histórias: a do jovem que foi se fechando para o mundo enquanto a doença progredia, e a do aventureiro que corria sem parar no universo fantasioso de Azeroth.

 


Boa parte do filme apresenta animações que recriam sessões dos jogos de Mats, ou melhor, Ibelin. As narrações foram realizadas a partir dos posts dele, mostrando os vínculos que criou a despeito de todos os limites que o mundo físico lhe impôs. É muito engenhoso e emocionante, sem jamais resvalar na pieguice.

 

Will Ferrell e a transgênero Harper Steele conversam ao ar livre em cena do documentário Will & Harper

"Will & Harper" acompanha viagem de Will Ferrell com Harper Steele, amiga que fez transição de gênero e um dia já se chamou Andrew Steele

Netflix/reprodução

 

• “Will & Harper”

 

Criado em 1975, o humorístico “Saturday night live” enfrentava o declínio de popularidade em meados da década de 1990. Em 1995, o programa fez uma série de contratações: o ator Will Ferrell e o roteirista Andrew Steele entraram para a equipe na mesma semana.

 


Os dois se tornaram grandes amigos. Ferrell virou uma estrela e Steele fez história no humorístico até se tornar roteirista-chefe, cargo que lhe valeu um Emmy em 2002.

 

 


Em 2022, Ferrell recebeu e-mail de Steele. Ficou sabendo que Andrew não existia mais. Havia feito transição de gênero e agora era Harper Steele. Com 61 anos, um casamento desfeito e duas filhas, ela se adaptava ao mundo.

 


Os dois decidiram realizar uma viagem de costa a costa tanto para estreitar os laços como também para Harper – fã desde sempre da estrada, cerveja barata e lugares obscuros – ver como se sentia nestes lugares após a transição.

 

 


O documentário de Josh Greenbaum acompanha a dupla on the road, de Nova York a Los Angeles. Não é fácil, fica logo claro. Uma coisa é entrar entre amigos (há participações de egressos do “SNL”, Tina Fey e Kristen Wiig incluídas), outra é enfrentar uma partida de basquete em Indiana ou um restaurante de beira de estrada no Texas.

 


Ainda que sofra dissabores (a presença de Ferrell esquenta os ânimos, levando a várias postagens de ódio nas redes sociais por causa da mulher trans que acompanha o astro), Harper consegue se encontrar na jornada. É bonito de ver sua autodescoberta, coisa que algumas piadas sem graça de Ferrell não conseguem estragar.




“A EXTRAORDINÁRIA VIDA DE IBELIN”

Noruega, 2024, 106min. De Benjamin Ree. Disponível na Netflix



“FILHAS”

EUA/ Reino Unido/ Canadá, 2024, 108min. De Angela Patton e Natalie Rae. Disponível na Netflix



“WILL & HARPER”

EUA, 2024, 114min. De Josh Greenbaum. Disponível na Netflix