Viajar por Minas Gerais vai além de paisagens encantadoras e histórias cativantes, é uma jornada gastronômica que conquista corações e paladares. Para os aventureiros de plantão, fazer aquela pausa estratégica durante o caminho é tão importante quanto o destino final. Melhor ainda é saber que alguns desses lugares estenderam suas raízes para Belo Horizonte, trazendo o gostinho das estradas diretamente para a capital. Por isso, aperte o cinto de segurança e se prepare para embarcar em um roteiro para conhecer três paradas de viagem obrigatórias que também possuem unidades em BH.
Quem cruza a BR-040 sabe que uma viagem entre a capital mineira e o Rio de Janeiro só é completa com uma parada no Roselanche. Fundado em 1969 pelos irmãos Adilson e Aldemir Tonholo, o empreendimento começou, curiosamente, como um ponto de venda de rosas em Barbacena, na região do Campo das Vertentes, a cerca de 170 quilômetros de BH.
“A família foi uma das primeiras a plantar rosas na região. O prédio de fachada, imponente para a época, contava com dois pavimentos, dividindo o espaço entre o comércio de flores e uma pequena lanchonete – daí o nome: Roselanche”, conta uma das filhas de Aldemir e sócia do estabelecimento, Giovanna Baumgratz Tonholo.
Com o passar do tempo, os sabores e a localização privilegiada em uma das principais rodovias do estado deram espaço para o crescimento do negócio, ainda tímido. Em 1977, a construção passou a abrigar um restaurante completo e uma lanchonete. As rosas agora são comercializadas em um espaço anexo. “Desde então, o local é referência na BR-040, citado no extinto Guia Quatro Rodas como parada obrigatória nas viagens entre as capitais mineira e fluminense”, destaca Giovanna.
Em outubro de 2021, o Roselanche inaugurou uma unidade no Shopping 5ª Avenida, na Savassi, Região Centro-Sul de BH (que agora está do outro lado da rua). Em menos de dois anos, eles abriram o segundo ponto no Bairro Belvedere, oferecendo aos clientes alguns dos principais produtos da lanchonete, disponíveis na versão congelada. Por lá, o público encontra opções como pão de queijo, coxinha, cigarrete, quibe, empadinhas, tortas e a linha completa de doces para se deliciar sem precisar pegar estrada.
Pegou, levou
“Todos os produtos estão prontos, basta aquecer e saborear. Por serem em forma de empório, as lojas não servem nada para consumo no local”, explica a sócia.
Já na matriz, em Barbacena, o cardápio extenso atrai não apenas os viajantes, mas também moradores de cidades vizinhas, que buscam refúgio e boa comida aos fins de semana, especialmente aos domingos, quando o público chega a cinco mil pessoas.
“Os carros-chefes são o sanduíche de pão de queijo com filé e o cigarrete, além da linha de doces caseiros, bolos e tortas de sabores como frango, palmito e camarão”, aponta Giovanna. Aos amantes do prato cheio, o Roselanche também oferece opções como parmegiana e tropeiro para o almoço.
Em BH, a loja funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados, das 10h às 14h. Já na sede, o Roselanche está a postos para receber os viajantes todos os dias da semana, das 6h às 21h.
Legitimidade centenária
Quem nunca ouviu falar de O Legítimo Rocambole? Presente em três localidades em Minas Gerais, essa parada possui mais de 120 anos de tradição e é obrigatória em viagens para cidades históricas como São João del-Rei e Tiradentes, na Região Central do estado. Tradicional no município de Lagoa Dourada, na mesma região, o produto veio de longe por volta de 1900.
“Meu bisavô, Miguel Youssef, era libanês e veio para o Brasil como imigrante. Junto com ele, trouxe a receita do rocambole. Quando chegou, conheceu minha bisavó em Lagoa Dourada, onde se casaram e abriram um pequeno negócio”, conta o bisneto André Youssef, que comanda a marca passada de geração em geração.
Inicialmente, era feito apenas um rocambole por dia, no sabor único de doce de leite, e servido como tira-gosto. “Na época, não havia esse prato no Brasil. Até onde sabemos, o ‘legítimo’ no nome veio por ele ter sido o primeiro a trazer o rocambole para o país. Quando criaram as BRs 381 e 262, os viajantes começaram a parar na loja para experimentar a iguaria”, alega.
Por volta dos anos de 1960, o avô de André, Paulo Miguel do Líbano, assumiu a marca e começou a criar embalagens para as pessoas levarem um rocambole como presente ou lembrança. A fama do doce foi se consolidando e o negócio, passando de geração em geração. “Depois do meu avô, quem assumiu foi meu pai, Ricardo Youssef, por volta dos anos de 1990. Com ele, veio a criação de propagandas, como placas na estrada para atrair mais pessoas”, destaca.
Segundo o atual administrador, a cidade de Lagoa Dourada, que ainda era tímida, passou a ser reconhecida como a capital nacional do rocambole. Em 2000, mais sabores foram inseridos e hoje já são mais de 40.
Recheios variados
“O carro-chefe disparado ainda é o de doce de leite. Mas também há goiabada, chocolate, Nutella e as variações com base de doce de leite com nozes, morango e coco. Nas três unidades, compramos quase cinco toneladas de doce a cada cinco dias”, afirma. O cardápio ainda conta com a caçarola italiana feita de queijo, o cubu – broa enrolada na folha de bananeira – e salgados fritos e assados.
Por estar em uma região privilegiada, perto de grandes pontos turísticos, a loja de Lagoa Dourada é campeã de visitantes. “Nos fins de semana, recebemos cerca de 500 pessoas por dia. No sábado dia 7/12, por exemplo, uma caravana estava indo para Tiradentes e um total de 10 ônibus de viagem lotados parou na loja”, ressalta Youssef.
As unidades de O Legítimo Rocambole ficam em Lagoa Dourada (segunda a sábado, das 6h às 21h, e domingo, das 7h às 21h), BH (segunda a sábado, das 6h às 21h, e domingo, das 8h às 20h) e São João del-Rei (todos os dias, das 6h às 20h).
De boca em boca
A próxima parada é recheada de quitandas mineiras e o cheirinho irresistível de delícias saindo do forno. Foi isso que deu fama a Eliana Bretas de Assis, quitandeira de “mão cheia”, que mesmo falecida em 2019, aos 84 anos, ainda mantém sua tradição nas lojas carinhosamente apelidadas de Tia Eliana.
Tudo começou na cidade natal da cozinheira, Santa Maria de Itabira, localizada entre os municípios de Itabira e Guanhães, na Região Leste do estado. “Antigamente, todo mundo que saía de BH com destino às cidades próximas passava pela BR-381, exatamente em frente onde era a casa dela, e queria comer alguma coisa”, conta Euzébio de Andrade, da agência Amplo Brasil, hoje responsável pela marca.
Os viajantes, então, acabavam parando no meio do caminho para “abastecer” e experimentar uma broa ou um biscoitinho que transmitiam a fartura do bom mineiro. “O boca a boca transformou as quitandas de Eliana em uma tradição para os viajantes da região e ela começou a ficar famosa”, relata.
A informalidade se transformou em um negócio que, em breve, completará 50 anos. “A tia Eliana e suas irmãs Zélia e Terezinha foram se ajudando e dando formato para a marca atual, preparando o espaço físico, colocando uma plaquinha. Até que, em 1 de maio de 1978, inauguraram a Cantina Tia Eliana, em Santa Maria de Itabira”, diz Euzébio.
Indústria de delícias
O tempo passou e, em 2005, a empresa deixou de ser “só um comércio de beira de estrada” para se tornar uma indústria que abastece diversas regiões do Brasil. Além das lojas na cidade-sede, há unidades em BH, Teófilo Otoni, Caeté e Ipatinga, todas ligadas à capital pela BR-381. O intuito é sempre ter por perto uma Tia Eliana para matar aquela vontade de comer um pão de queijo quentinho ou um salgadinho que abraça o estômago.
O estabelecimento ainda atende diversas redes de varejo pelo país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e algumas localidades no Nordeste. “Existem hoje dois clientes: a pessoa física e as empresas que desejam ter um produto da Tia Eliana para revender, seja pronto para consumo ou congelado. Isso acontece com salgadinhos, tortas e bolos de aniversário”, explica Euzébio.
A loja de BH está localizada no Bairro Santa Efigênia, Região Leste, e funciona de segunda a sábado, das 9h às 17h. No cardápio, está disponível uma variedade de opções como pastéis, bauru, empadas, mini pizzas, coxinha, brigadeiro, tortas, mousses e bombons.
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*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino