A desembargadora do TJMG, Cláudia Regina Guedes Maia, é discípula dos ensinamentos de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais e da natureza, cuja data de falecimento (3 de outubro de 1226) celebra-se nesta primeira semana de outubro. "Uma de minhas missões está na causa animal, onde tenho atuado bastante", explicou, particularmente no tocante ao resgate de cães em estado de abandono e maus tratos. Esse seu trabalho voluntário se espraiou entre todo um segmento, verdadeira rede independente, que se desdobra no cuidado com os animais e o meio ambiente. Recentemente, por exemplo, ela esteve à frente do trabalho de salvação de dois cães amarrados o dia inteiro vítimas de abuso sexual e malvadeza. "Estão largando os cães inclusive de raça em estradas e terrenos baldios com suas coleiras", acrescentou. Segundo ela, uma estatística apontava, em 2020, para cerca de 30 milhões de cachorros soltos pelas ruas do país. "Não existe uma política pública efetiva de castração dos animais", observou. Na sua opinião, as pessoas estão preocupadas com a devastação e incêndios nas florestas, também importante, mas se esquecem dos animais expulsos de seu habitat. As ONGs que atuam neste campo protetivo, salientou, formadas por militância autônoma, não gozam de desconto no Imposto de Renda, assim como as empresas, que poderiam contribuir com recursos para financiamento deste tipo de trabalho dispendioso, não têm benefícios fiscais. Ração, banho, tosa, vacinas, medicamentos e internações têm custo elevado. "Sempre adorei os bichos", disse a dona de Kira (buldogue francês) e Amora (vira-lata), criados em seu apartamento. Em agosto, Cláudia Maia embrenhou-se por um terreno na saída para o Rio de Janeiro, a fim de resgatar um pastor alemão com a saúde debilitada e o rabo em chagas, além de um cheiro horrível. Vários dos muitos animais resgatados, ela encaminhou para a ONG Bicho Loko, em Ibirité, além do lar temporário Paradise, em Lagoa Santa, que ajuda a custear.
Uma sua outra faceta humanista desdobra-se no cenário jurisdicional. Por meio da mediação (juiz atua na interlocução) e da conciliação (juiz tem papel ativo), a desembargadora promove a aproximação entre litigantes em reuniões despidas de formalidades, no intuito de chegar a um acordo entre as partes. "Tem sido bem boa a taxa de êxitos", informou. A solução justa encurta a distância entre o povo e o Poder Judiciário e limita o tecnicismo da justiça. Em 2020, a desembargadora assumiu a Ouvidoria do TJMG (ouvir e escutar são coisas diferentes, destacou), em mandato de dois anos, acolhendo manifestações de jurisdicionados e da população. A filha do saudoso desembargador Ayrton Maia (1926-2006) foi aprovada em primeiro lugar no concurso público para o cargo de juiz de direito substituto, realizado em 1989. Cláudia Maia sempre pautou sua atuação no judiciário pelo bom senso, equilíbrio e imparcialidade. Em agosto de 2006, foi nomeada desembargadora. "O magistrado não é imune às questões sociais", ressaltou. Natural de Juiz de Fora, formou-se em direito pela UFMG, em 1985, especializou-se em direito empresarial pela Fundação Dom Cabral, da PUC-MG. Ela passou pelas comarcas de Ibirité, Pará de Minas, Santa Luzia e Belo Horizonte, tendo sido juíza eleitoral e componente da turma recursal do Juizado Especial. Irmã do advogado e engenheiro, Francisco Maia Neto, Cláudia Maia integra a 14a Câmara Cível de Direito Privado do TJMG.