Ele é um habitué das salas de música clássica, uma de suas paixões nas horas vagas. Já ouviu por centenas de vezes todo o repertório erudito de compositores como Bach, Wagner, Beethoven e Mozart. Todas as quintas-feiras, impreterivelmente, se instala na plateia do "maravilhoso espaço", ornado em madeira para propagação da melhor sonoridade, que abriga a Filarmônica de Minas Gerais, no bairro Barro Preto. "Meu hobby predileto", confidenciou Carlos Calazans, 64 anos, atual superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, nomeado pelo presidente Lula.
Aliás, pela segunda oportunidade. Seu nome também foi grafado no diário oficial da união, então como delegado na mesma instituição, em 2003. "Sou de família humilde, filho da classe operária, mas sempre gostei muito de cultura", observou o sindicalista, ex-presidente da CUT-MG, filiado ao PT, que também colaborou com os governos Dilma Rousseff (Incra) e Fernando Pimentel (secretaria da Cidadania). "Gosto do executivo, nunca disputei eleição", completou.
Além de se dizer um cinéfilo inveterado e leitor voraz, ele garante que assistiu a todos os grandes espetáculos neste estado nas últimas décadas, prestigiando celebridades brasileiras e artistas internacionais. Sua biblioteca ostenta 3 mil livros e sua coleção de LPs beira 2 mil vinis. "Passei por todos os autores clássicos, procuro ir aos museus, exposições e bienais", observou. Suas atividades extracurriculares não se atém, porém, apenas ao universo cultura
Por muitos e muitos anos, na expectativa de saúde física e mental, correu mundo afora. São 35 participações na tradicionalíssima São Silvestre (SP) e dezenas de outras na Volta da Pampulha. "Hoje sofro com um desgaste ósseo na bacia e estou à véspera de cirurgia de prótese", informou. "Daqui a dois anos vou estar no centenário da São Silvestre mesmo que seja em cadeira de rodas para cumprir todo o percurso e assegurar minha medalha", garantiu, otimista frente a seu atual perrengue, que às vezes obriga-o a recorrer a uma bengala para suportar a dor.
O maior orgulho em sua vasta carreira de sindicalista, revelou, foi "ainda menino", isto é, no início da década de 80, ser um dos coordenadores da Campanha das Diretas em MG, indicado pelo próprio Tancredo Neves. "Era eu quem anunciava ao locutor Osmar Prado, no maior comício que este estado assistiu, que foi aquele da Rodoviária, quem iria falar na sequência", relembrou. Com larga experiência junto às entidades sindicais, Calazans trabalha uma tese a ser apresenta na Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a necessidade de um diálogo profícuo na sociedade para valoração do trabalho no mundo. Na sua opinião, hoje há um empenho desmesurado para "apagamento" das atividades humanas de grande esforço, sobretudo, físico. As profissões obreiras, explicou, a exemplo de soldador, lixeiro, mecânico, pedreiro e outras, estão em decadência, visto que os jovens almejam ser influenciadores digitais ou profissionais de tecnologia da informação. Para reverter este quadro, os cursos técnicos precisam de incentivos. "Minha grande luta é acabar com o trabalho análogo à escravidão, esta chaga que não tem cabimento", concluiu. A precarização do trabalho no país, segundo ele, resultará num gigantesco problema previdenciário em futuro não tão distante, visto que a maior parte da população economicamente ativa atua na informalidade ou na pejotização. O trabalhador formal, reconheceu, contudo, tem custo alto para o empregador brasileiro.