'Gargalo, hoje, é a escassez de mão de obra', avalia Fiemg em balanço
Setor industrial encerra o ano com resultados superiores às expectativas, mas teme estagnação em 2025
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Siga noO setor industrial não teve do que reclamar em 2024. O balanço anual da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), divulgado nesta quinta-feira, revela que o setor cresceu 3,5% até o terceiro trimestre no Brasil. No estado, o crescimento foi ainda maior, de 4,2%. Ambos os números estão acima do resultado acumulado do PIB, que registrou uma alta de 3,3% em âmbito nacional e 2,8% em Minas Gerais.
Entre os setores industriais que mais cresceram, destaca-se o de extração, com uma alta de 6,3% em Minas Gerais, número bem superior à média nacional, que foi de 2%. Outras áreas que também se destacaram foram a construção, com elevação de 8,9%, e energia e saneamento, que registraram um crescimento de 7,5%.
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A Fiemg atribui esses resultados ao aumento dos gastos das famílias, impulsionados pela significativa alta na renda média desde 2022. Para os analistas da Fiemg, esse fenômeno está diretamente relacionado à taxa de desemprego, que em 2024 atingiu 5%, o menor índice desde 2012. No terceiro trimestre, 11 milhões de pessoas estavam empregadas em Minas Gerais, sendo que 2,53 milhões estavam no setor industrial, o que representa um aumento de 5,7% em relação ao ano anterior. Nacionalmente, a taxa de desemprego também foi baixa, atingindo 6,4%.
Com base nos números acumulados ao longo do ano, João Gabriel Pio, economista-chefe da Fiemg, estima um crescimento de 3,2% para a indústria mineira em 2024. No entanto, apesar dos resultados gerais positivos, a entidade não está confiante de que esses números se repetirão em 2025. Para o próximo ano, a previsão é de um crescimento de apenas 1,8% para o PIB brasileiro. Para o setor industrial, a alta esperada é de 1,7%. No estado, as expectativas são de índices um pouco melhores, mas ainda inferiores aos de 2024: 2,1% para o PIB e 2,8% para a indústria mineira.
Essas previsões mais pessimistas são atribuídas a fatores da conjuntura econômica brasileira. Curiosamente, um dos principais problemas apontados é a falta de trabalhadores. “Do ponto de vista da indústria, o maior gargalo hoje é a escassez de mão de obra”, afirma o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe. Ele explica que, no setor industrial, essa questão é ainda mais crítica, pois a demanda exige profissionais com experiências ou conhecimentos específicos. “Faltam profissionais qualificados”, conclui.
Programas sociais
Uma das medidas propostas por Roscoe é uma maior integração entre os programas de auxílio concedidos pelo governo, especialmente o Bolsa Família, e os empregos formais. “A Fiemg tem defendido a manutenção dos programas de transferência de renda, que já existiam neste governo, no governo anterior e nos governos que os antecederam. Mas é importante que o programa, que foi ampliado agora, dialogue com o mercado de trabalho”, afirma Roscoe.
Para que isso aconteça, o presidente da Fiemg propõe a implementação de algumas medidas, como a manutenção dos beneficiários empregados em uma espécie de cadastro suspenso. Assim, eles poderiam voltar a receber o auxílio em caso de demissão, sem precisar passar por todo o processo novamente. “O que nós estamos sentindo é que, hoje, várias pessoas estão optando por permanecer no programa em vez de procurar emprego”, declara. Ele também menciona a possibilidade de retirar o benefício de pessoas que recusam repetidamente propostas de trabalho. “Não é o objetivo da sociedade que a pessoa, aos 18 anos, entre em um programa de transferência de renda e, aos 65, se aposente na previdência com esse programa”, acrescenta.
Conjuntura econômica
Cabe destacar que a falta de mão de obra não é o único fator que causa pessimismo na Fiemg. Roscoe aponta o endividamento público, a inflação e a consequente taxa de juros elevada como motivos para acreditar que o cenário de crescimento mais elevado não se manterá em 2025. “A nossa análise desse quadro é que a economia brasileira vem com um bom crescimento, mas impulsionada por forças que não geram investimentos econômicos no longo prazo”, afirma.
Roscoe destacou que, apesar da arrecadação ter aumentado nos últimos anos, os gastos públicos também cresceram. “O mercado está preocupado, porque o governo vem gastando mais do que arrecada. E, além disso, ainda tem o pagamento dos juros. Então, o mercado vem cobrando mais juros do governo e, dessa maneira, as contas públicas vão ficando muito apertadas”, opina.
O presidente da Fiemg aproveitou para criticar os pacotes de cortes de gastos apresentados pelo governo federal. Na sua visão, as medidas deveriam ser mais drásticas e aplicadas de forma perene ao longo dos próximos anos. No entanto, ele fez elogios ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Ele é, ali, o administrador; vamos dizer, assim, o caixa. Eu acho que, se dependesse do Ministro da Fazenda, o corte de gastos teria sido maior”, pondera.
Quanto à desvalorização do Real, Roscoe aponta tanto vantagens quanto desvantagens. Ele explica que, se essa tendência se mantiver, haverá um impacto inflacionário, o que reduz o poder de compra do consumidor. Por outro lado, alguns setores acabam sendo beneficiados. “Temos que lembrar que Minas Gerais tem um percentual significativo de seu PIB baseado na exportação; o dólar mais alto é um dado positivo para o estado”, conclui.
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