Dólar acumula alta de 27,5% em 2024 e encerra ano cotado a R$ 6,18
Banco Central realizou mais um leilão nesta segunda-feira (30/12) para conter a alta da moeda
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Siga noFOLHAPRESS - O dólar fechou em queda de 0,17% nesta segunda-feira (30/12) e encerrou o ano cotado a R$ 6,1797. Com isso, acumulou alta de 27,50% em relação ao real ao longo de 2024, segundo dados da plataforma CMA.
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Nesta sessão, marcada por alta volatilidade, houve pressão vinda do exterior. A postura dos investidores foi de cautela diante das incertezas sobre o novo governo Donald Trump nos Estados Unidos e sobre a política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) no próximo ano.
Internamente, a demanda por dólares ainda levou o Banco Central (BC) a realizar mais um leilão à vista por volta das 14h, o que conteve a alta da moeda.
Já a Bolsa fechou em estabilidade, com leve variação positiva de 0,01%, aos 120.283 pontos.
Banco Central volta a atuar no câmbio
O BC aceitou 14 propostas no valor total de US$ 1,815 bilhão no leilão desta segunda, tendo R$ 6,174 como taxa de corte. Com a nova intervenção no câmbio, a autoridade monetária já injetou mais de US$ 32,6 bilhões no mercado desde o último dia 12, o maior valor já registrado em um mês.
A venda vem para atender às demandas de liquidez do mercado cambial brasileiro. Essa modalidade de leilão funciona como uma injeção de dólares no mercado à vista, atenuando disfuncionalidades nas negociações e, consequentemente, diminuindo a cotação da moeda.
No exterior, o índice DXY, que mede a força do dólar em relação a seis outras moedas fortes, subia 0,10%.
A valorização do dólar acompanha a dos rendimentos dos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos Estados Unidos. Alguns analistas esperam que a política de Trump na economia seja inflacionária, o que pode forçar o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) a manter os juros em patamares elevados.
A autoridade monetária já deu sinais de que o atual ciclo de cortes não se prolongará por muito mais tempo. "Na última reunião, o Fed fez o corte esperado pelo mercado, mas adotou um tom mais duro diante do risco de uma inflação persistentemente alta em 2025", diz Henrique Cavalcante, analista da Empiricus Research.
Quando há incerteza no mercado, é comum que os operadores procurem por ativos de menor risco, como os treasuries e o dólar, já que a economia dos Estados Unidos é considerada a mais segura do planeta.
Isso leva à fuga de capital de mercados emergentes e acionários. No câmbio global, o dólar avançava 0,98% contra o peso mexicano e 0,51% contra o rand sul-africano, moedas consideradas semelhantes ao real.
Já os principais índices de Wall Street tinham forte queda. O Dow Jones caía 1,48%, a 42.357,92 pontos. O S&P 500 perdia 1,52%, a 5.880,28 pontos, enquanto o Nasdaq Composite recuava 1,67%, a 19.393,26 pontos.
Real é a moeda que mais desvalorizou
O real caminha para fechar 2024 como uma das moedas que mais se desvalorizaram no mundo. Além da pressão externa, com Fed e o novo governo Trump, o ano foi marcado pelo acirramento das preocupações do mercado com o cenário fiscal brasileiro.
Investidores têm se mostrado cada vez mais receosos com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, particularmente depois do anúncio duplo pelo Executivo no fim de novembro de um pacote de contenção de gastos e de um projeto de reforma do Imposto de Renda.
Apesar de ostrês projetos que compõem o pacote terem sido aprovados pelo Congresso neste mês e de o debate sobre mudanças no IR ter sido adiado para 2025, agentes financeiros ainda questionam a efetividade das medidas na contenção das despesas e duvidam da determinação do governo em reduzir a dívida pública.
"A moeda brasileira vem se desvalorizando até o presente momento e grande parte é oriunda da volatilidade vista no segundo semestre do ano, causada pela grande incerteza fiscal e política que o Brasil vem atravessando, além da ampliação das expectativas inflacionárias", disse Marcio Riauba, chefe da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio.
Além disso, as medidas do pacote foram desidratadas na tramitação no Congresso Nacional, reduzindo a economia inicialmente prevista em R$ 70 bilhões pelo Ministério da Fazenda nos próximos dois anos.
O time de análise da XP calcula que R$ 8 bilhões deixarão de ser poupados. No longo prazo, o prejuízo das mudanças dos parlamentares é ainda mais preocupante. Com as medidas originais, a XP esperava uma economia de cerca de R$ 294 bilhões até 2030, e agora esse valor teve uma redução de R$ 62 bilhões, para R$ 232 bilhões.
As mudanças que mais prejudicaram o resultado final, segundo o analista da XP Tiago Sbardelotto foram as reduções nos critérios exigidos para o BPC (Benefício de Prestação Continuada), a desistência de alterar os repasses para o FCDF (Fundo Constitucional do Distrito Federal) e o afrouxamento do comando para um limite aos supersalários na administração pública.
Outro ponto importante modificado pelo Congresso foi a blindagem feita pelos parlamentares de emendas obrigatórias contra bloqueios no Orçamento federal.
"Com isso, o resultado apenas reforçou a visão [que já tínhamos] de que se tratava de um tímido pacote de mudanças, que não trata das questões mais importantes do Orçamento federal (como a indexação dos benefícios) e que servirão somente para manter o limite de gastos por mais dois ou três anos", diz o analista no relatório.
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Por isso, a expectativa do mercado é por mais medidas de ajuste fiscal no próximo ano. "Agora os olhos vão se voltar para quais vão ser as medidas de política monetária e econômica do ano que vem", diz Matheus Massote, sócio da One Investimentos.