O Estado de Minas foi o destaque dos 30 anos do Prêmio CNT de jornalismo, agraciado com o Grande Prêmio, na noite de quarta-feira, no Centro Internacional de Convenções de Brasília (CICB). A série de reportagens “Raio-X das mortes no trânsito: Onde mais acontecem, quais são as causas e como podem ser evitadas” recebeu o reconhecimento máximo ao mostrar os pontos mais perigosos das rodovias de Minas e do país.
“Trinta anos de estudos e formas de se mostrar o que é preciso são a forma de o (Prêmio) CNT mostrar o caminho. Tenho certeza de que estamos mostrando o caminho”, disse o presidente da CNT, Vander Costa, na solenidade de premiação.
O trabalho, o primeiro mineiro a conquistar o Grande Prêmio, é de autoria dos repórteres Mateus Parreiras e Luiz Ribeiro, com a participação dos fotógrafos Edésio Ferreira e Leandro Couri. A série foi publicada entre março e agosto deste ano, mostrando uma abrangente radiografia dos riscos e da violência nas estradas brasileiras,
Além de consultar estudos e reunir dados, os repórteres do EM percorreram centenas de quilômetros de rodovias para documentar riscos enfrentados por motoristas e pedestres. Também registraram emocionantes depoimentos de pessoas que perderam parentes e amigos nas tragédias e de brasileiros que precisam encarar o perigo do asfalto diariamente.
Em trabalho inédito, foi feito um mapeamento exclusivo sobre os pontos mais mortais das rodovias do país, onde ficam curvas, trevos e outras armadilhas. O diagnóstico foi realizado a partir do processamento de dados dos acidentes georreferenciados pela Polícia Rodoviária Federal(PRF) entre janeiro de 2020 e janeiro de 2023, compilados sob orientação de especialistas em transporte e trânsito.
PONTOS MAIS LETAIS
O levantamento mostrou que o ponto com mais perdas de vidas na malha rodoviária brasileira no KM 406 da BR 010, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. O segundo ponto mais letal está situadona Fernão Dias (BR-381), no Bairro de Jaçanã, na Zona Norte de São Paulo.
Dos 10 pontos mais mortais da malha rodoviária nacional, três estão em Minas Gerais, dois deles na BR-251, a mais mortífera do estado por esse critério, e a que tem maior concentração de lugares críticos. As equipes de reportagens percorreram e documentaram os riscos na BR-251 e em outras rodovias federais que cortam o estado: BR-381 (a “rodovia da morte”), BR-381/Fernão Dias, BR-040 e a BR-135.
DOR SEM FIM
As reportagens revelaram que as mortes no trânsito brasileiro, que vinham em queda desde 2014, voltaram a aumentar a partir de 2021, elevando também os gastos do Ministério da Saúde com os procedimentos médicos das vítimas que procuram as unidades de saúde conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). O EM localizou em diferentes lugares pessoas que perderam entes queridos na carnificina das estradas e vivem um drama que não parece ter fim.
Por outro lado, no encerramento da série de reportagens, foram ouvidas entidades e especialista que apontam as medidas que devem ser adotadas para frear as mortes no trânsito brasileiro. O médico de tráfego José Montal, diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), afirma que existem medidas que podem ser adotadas para eliminar a mortandade nas estradas. Ele sugere que o Brasil deveria seguir o modelo da Suécia, que, desde 1997, adotou o Programa Visão Zero, cuja premissa é que nenhuma morte prematura no trânsito é aceitável.
Pedalando com riscos
O trabalho jornalístico do EM fez uma abordagem inédita sobre a ocorrência de acidentes com ciclistas no Brasil, mostrando que junto ao aumento da mobilidade sobre duas rodas cresce as perdas de vidas pelo uso desse tipo de deslocamento. Especialistas alertam que a probabilidade de um ciclista morrer em um acidente de trânsito é oito vezes maior do que a chance de morte de um condutor de um carro.