Bonito de Minas e Brasília de Minas – Longe dos estudos complexos e do conhecimento produzido nos grandes centros urbanos, o pequeno produtor Santino Lopes de Araújo, que vive na sub-bacia do Rio Pandeiros, no município de Bonito de Minas, Norte do estado, dá uma demonstração simples de como manter uma vereda preservada. Enquanto outras formações da região foram degradadas ou até extintas, tomadas por espécies vegetais invasoras e areia, sem um pingo d'água, a Vereda Água Doce, que “passa no quintal de casa”, está totalmente conservada, como constatou a equipe de reportagem do Estado de Minas.
Um estado que se deve ao esforço e trabalho de “seu” Santino, autêntico veredeiro preservacionista. Ele conta que construiu quatro pequenas barraginhas ao longo de quatro quilômetros da extensão da vereda em seu terreno, mas sem usar maquinário, ou seja: sem interferir no ambiente. “Usei areia, pedaços de madeira e tocos de buritis apanhados no chão”, explica. Assim, constatou, maior extensão ao longo da vereda permanece úmida o ano inteiro.
Enquanto outros pequenos produtores da região, por falta de conhecimento e escassez de água no período de estiagem, cultivam junto de nascentes e chegam até a usar fogo para “limpar” as áreas, Santino faz diferente. “Aqui, na área de vereda, a gente não planta nada. Só preserva”, afirma.
Plantar árvores
para colher água
Outro exemplo de recuperação de nascentes e proteção das veredas é dado pelo pequeno produtor José David Rocha, de 71 anos, da comunidade de Baixão, no município de Brasília de Minas, também no Norte do estado. No terreno dele, uma área de vereda da Bacia do Córrego São Lourenço que estava secando passou por um processo de recuperação e hoje tem a umidade de volta.
Nesse caso, o pequeno produtor não trabalhou sozinho. Em 2015, foi realizada na zona rural de Brasília de Minas a revitalização das nascentes do Córrego São Lourenço, por meio do projeto “Novos Talentos”, que envolveu alunos dos cursos de geografia e ciências biológicas da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e estudantes da educação básica, de uma escola municipal da comunidade de Borá, além de contar com o apoio da Empresa de Extensão Rural e Assistência Técnica (Emater-MG).
No terreno de David Rocha foram plantadas 200 mudas de espécies nativas próximo à vereda degradada. Passados nove anos, o pequeno produtor, diante das árvores crescidas, comemora os bons resultados. “Em me sinto muito realizado ao ver que estamos recuperando uma área que estava degradada”.
David sugere o plantio de árvores e a construção de barraginhas de contenção da água da chuva para ajudar na manutenção de nascentes e veredas. “Com o desmatamento e o solo nu, a chuva cai e água vai embora. Se a gente planta árvore e constrói barraginha, a água infiltra e depois volta para as nascentes”, ensina o pequeno produtor rural, apresentando uma lição que pode salvar as águas, e tudo o que depende delas. Incluindo o ser humano.
O Estado de Minas publica desde o último domingo a série “Veredas mortas”, que toma emprestado o título inicialmente proposto por Guimarães Rosa para sua obra-prima, depois batizada “Grande sertão: veredas”. A íntegra das reportagens, galerias de fotos e vídeos pode ser consultada na internet, pelo em.com.br.