Uma desilusão amorosa tão forte que levou à morte um jovem estudante de 18 anos. Em 14 de março de 1937, o Estado de Minas trazia a história do rapaz que havia dado fim à própria vida, no dia anterior, no alto do Bairro Carlos Prates, levando num dos bolsos um poema pela metade que tinha, no verso, o papel preenchido inteiramente com o nome da amada: Severa.
A reportagem reconstruiu com detalhes o último dia da vida de Francisco Mendes Freitas Júnior, um estudante do Ginásio Afonso Arinos que trabalhava para o pai, proprietário da Fábrica de Biscoitos Progresso, em Belo Horizonte. O garoto Joãozinho foi a principal testemunha da tragédia, que ocorreu às 14h no entroncamento das ruas Patrocínio e Peçanha, no alto de um desfiladeiro conhecido como Zigue-Zague – “também preferido pelos pares amorosos”, contava o EM. Hoje, há no local uma praça e uma das pizzarias mais badaladas da cidade.
Depois de ver todo o ato ser consumado, Joãozinho chamou ajuda. Pessoas da região foram ao local tentar acudir Francisco, mas já era tarde demais. Com o estudante, foi encontrada uma carta de despedida para a mãe, Clothilde. "Não posso mais suportar esse abandono cruel a que me votou a mulher de meus sonhos. Adeus, mamãe." Havia também um poema, iniciado como um acróstico, mas que só seguia as duas primeiras letras do nome de Severa: "Se amar não me queres/É porque és ingrata como todas as mulheres”, seguindo com as outras letras, mas sem versos.
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Logo depois da morte, chegou a polícia, chefiada pelo delegado José Marianno, informava o EM, que não perdeu tempo em expôr as rusgas entre as autoridades e os repórteres do jornal. “Esta autoridade, como sempre, procurou tudo dificultar à reportagem, negando-lhe até o direito de fotografar o cadáver, o que só conseguimos usando um engenhoso ardil", trazia o texto, acrescentando que, sempre que perguntado, o delegado negava-se a dar mais informações, "como de hábito".
A BUSCA PELO ARMA DO CRIME
Depois do fim do relacionamento, a ideia macabra havia persistido na cabeça do rapaz. Justamente naquele sábado, 13 de março de 1937, Francisco recebeu, de um cliente do pai, a quantia de 250 réis, que embolsou e usou para comprar um revólver e uma caixa de munição numa das casas de armas de Belo Horizonte: "Desnorteado, pôs-se a perambular depois pelas ruas da cidade, pensando no seu fim tão prematuro, no desgosto que iria causar a seus pais, à sua velha mãe."
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“Como um autômato”, Francisco saiu pela cidade sem rumo, até chegar ao local. "Por muito tempo, permaneceu o jovem absorto, alheio a tudo. Pensava. Revivia, talvez no último momento, a imagem de Severa”, escreveu a reportagem, que finalizava com a burocrática informação de que o cadáver havia sido levado para o Necrotério da Polícia, às 15h, tendo a autópsia dispensada a pedido da família de Francisco.
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