Após ter ficado 10 meses desempregada, Maria Aparecida Barbosa Pires conseguiu voltar ao mercado de trabalho por meio das tradicionais vagas temporárias motivadas pelo aumento de fluxo gerado pelo Natal no comércio. Há 15 dias na função de vendedora de uma loja de brinquedos situada na Região Central de Belo Horizonte, ela se diz animada, sobretudo pela grande possibilidade de ser efetivada no cargo.
As chances de Maria Aparecida são realmente boas. Pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos Econômicos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio MG) mostra que 10,4% do comércio varejista em Minas contratou ou ainda pretende contratar funcionários temporários neste fim de ano. Entre os empresários contratantes, 48,2% disseram que a possibilidade de efetivação desses funcionários é alta.
Leia Mais
“Apesar de parecer pequeno o número de empresas que pretendem contratar funcionários temporários, este patamar é bastante expressivo. É importante lembrar que Minas Gerais encontra-se hoje com um dos menores patamares de desemprego da história (5,8%) o que, consequentemente, leva a pouca disponibilidade de mão de obra no mercado e, em certa medida, acarreta uma menor procura dos empresários por novos postos de trabalho”, explica Gabriela Martins, economista da Fecomércio MG.
De acordo com Ana Paula Bastos, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), a contratação de temporários começa em outubro, mês do Dia das Crianças, que já serve como treinamento para a Black Friday e o Natal. Mas as grandes redes varejistas contratam até o final de dezembro, quando as lojas funcionam com horários estendidos e abrem todos os dias da semana.
Pedro Teles, gerente da Livraria Leitura do Shopping Boulevard, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de BH, conta que a loja trabalha com uma média de 30 funcionários, mas neste fim de ano precisou contratar mais 10 temporários, com foco no Natal e na volta às aulas. Para o cargo de vendedor, que precisa de mais treinamento, ele começou a admissão no meio de novembro. Para as vagas de apoio, que demandam menos treinamento, a contratação começou no início de dezembro.
De acordo com a pesquisa realizada pela Fecomércio, entre as empresas mineiras que contrataram ou irão contratar temporários, 71,4% pretendem “cobrir” apenas uma função, enquanto 28,6% têm vagas para duas ou três funções. Em média, as empresas contratarão três funcionários temporários.
As vagas de maior demanda são para vendedores (66,7%), atendentes (28,6%), operadores de caixa (21,4%), estoquistas (4,8%), auxiliares de padeiro (2,4%), mecânicos (2,4%), motoboys (2,4%) e repositores (2,4%).
Os segmentos que mais pretendem contratar temporários em Minas Gerais são os de tecido, vestuário e calçados, com quase metade (47,6%). Na sequência vêm: supermercados, hipermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (23,8%); equipamentos e materiais para escritório, informática e de comunicação (7,1%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (4,8%); material de construção (4,8%); veículos e motocicletas, partes e peças (4,8%).
Janeiro
A maioria dos empresários que contrataram ou vão contratar funcionários neste fim de ano (54,7%) indicou que, caso haja a efetivação para seus quadros fixos, isso deve ocorrer em janeiro de 2025. É o caso da empresa de Manuela Santana, que contratou dois funcionários para o aumento de fluxo do Natal, quando seu forte são os brinquedos, e para o início de 2025, quando a loja “vira a chave” para a volta às aulas e passa a se dedicar mais aos materiais escolares.
“Dependendo do desempenho, esses funcionários temporários podem se tornar permanentes. Além desses meses com maior demanda, sempre preciso de gente para repor os funcionários que estão de férias”, diz a proprietária da Primavera Presentes, localizada no Hipercentro da capital mineira.
Já o gerente da Livraria Leitura é mais comedido sobre a possibilidade de efetivar os temporários, dizendo que, no seu ramo, “acontece pouco, mais em caso de alguma rotatividade ou para substituir um funcionário que não está performando bem. Mas fazemos o possível para que os que se destacam permaneçam, ainda que em um outro momento ou em outra loja”, explica Pedro Teles.
O estudante Antônio Martins de Souza Lamego foge um pouco do perfil de quem quer ser efetivado. Ele acabou de ser aprovado em medicina na PUC Minas, mas, em vez de aproveitar as férias até fevereiro, quando começa o curso, entrou como temporário na livraria Leitura do Boulevard Shopping há cerca de 10 dias. “Quis ter uma experiência no mercado de trabalho, saber o que é trabalhar seis dias por semana, de 8 a 10 horas por dia. Gosto de ocupar meu tempo e ganhar um dinheiro também”, afirma.
Trump já impõe sua vontade na política externa
PERFIL DOS trabalhadores
Levantamento feito pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) indica que, no último trimestre de 2024, o setor de comércio e serviços pretende criar cerca de 110 mil vagas, sendo que 54% desses serão temporários. Nesse grupo, a média de funcionários admitidos por empresa é de 1,8, sendo o tempo médio da contratação de 2,3 meses.
Entre os empresários entrevistados que contrataram ou ainda vão contratar funcionários temporários para o período de Natal, 26% pretendem efetivá-los, com uma média de 1,2 pessoas.
As principais justificativas apontadas pelos empresários que contrataram neste fim de ano estão: suprir a demanda, que aumenta neste período do ano (55%); estão confiantes devido às boas vendas deste ano (28%); precisam expandir a empresa (22%); e querem investir na qualidade dos seus serviços (22%).
A pesquisa da CNDL e do SPC Brasil também traça um perfil dos funcionários contratados. Para 33% dos entrevistados a intenção é contratar mulheres, enquanto 23% querem admitir homens e 43% afirmam que o gênero é indiferente. Em média, a idade desses funcionários é de 30 anos.
No entanto, de acordo com a economista Ana Paula Bastos, atualmente o perfil desses contratados é bem eclético, do estudante que busca o primeiro emprego até os chamados “50+”.
A remuneração média é de 1,1 salário mínimo (R$ 1.553,20), e a carga horária média é de 7h50 por dia. De acordo com a pesquisa nacional, 23% pretendem contratar vendedores, 16% ajudantes, 12% cabeleireiros, 11% recepcionistas, 10% manicures, 10% caixas, 10% balconistas, 10% entregadores e 8% depiladoras.
Outro estudo, divulgado pela Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), aponta que o quarto trimestre de 2024 deve contar com a contratação de 450 mil temporários em todo o Brasil. Segundo a pesquisa, o setor que mais contrata esse “reforço” é o da indústria, que responde por 45% do total, enquanto os serviços acomodam 35% e o comércio apenas 15%.
Aluguel: confira o preço médio do metro quadrado em BH
“A Asserttem vem sentindo uma tendência de crescimento nos setores ligados ao comércio eletrônico, tanto nas empresas de varejo e marketplaces quanto no setor de logística envolvido nessa cadeia de serviços. Além desse setor, esta época do ano historicamente apresenta uma demanda grande no comércio tradicional (físico), principalmente, na área de vendas e estoque”, analisa a pesquisa.
Natal em BH deverá ter comércio aquecido e preços de alimentos mais altos
66,7%
Da demanda no estado é para a função de vendedor