Carros caem em córrego após chuvas provocarem desabamento no terreno de um supermercado no Barreiro -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Carros caem em córrego após chuvas provocarem desabamento no terreno de um supermercado no Barreiro

crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press

Moradores do Barreiro, em Belo Horizonte, se reuniram na Rua Agenor Nonato, no Vale do Jatobá, nesta quarta-feira (25/12), para verificar o estado dos veículos arrastados pela chuva da terça-feira (24/12). Pelo menos três carros e uma moto caíram no córrego que passa pelos fundos do Supermercado Catalão, onde estavam estacionados.

 

Próximo aos carros, também era possível ver um equipamento de academia popular. Os moradores afirmam que ele foi arrastado do Ginásio Poliesportivo do Vale do Jatobá, a cerca de 300 metros de distância.


 

A força da chuva fez o muro do supermercado desabar, assim como parte do terreno. A Defesa Civil informou que, no Barreiro, entre 12h30 e 13h15 de ontem, foi registrado um volume de chuva de 41 mm, o que corresponde a mais de 12% do esperado para o mês.

 

 

O consultor de vendas Artur Matos da Silva, de 33 anos, mora na região e afirma que a queda do muro do supermercado não foi uma surpresa, já que as enchentes no local são recorrentes. “Quando chega essa época de fim de ano, é sempre o mesmo medo, a mesma tragédia. Não é a primeira vez que inunda aqui. Pode observar que eles colocaram uma barreira de contenção na entrada do estacionamento do supermercado”, relata.


 

Ele também destaca a proximidade da EMEI Jatobá IV, localizada a poucos metros do ponto onde os carros estão, à margem do córrego. “Imagine se fosse uma enchente dessas em período letivo, no horário em que muitos pais, crianças e escolares estivessem aqui?”, questiona Artur.

 

“Temos muitos políticos no bairro, como vereadores e deputados eleitos com os votos da população, mas vemos algumas obras feitas por eles que são inúteis.”

 

 

O início de uma nova chuva no fim da manhã desta quinta-feira gerou mais preocupação entre os moradores. “Se não tirarem esse carro daqui logo, vai ser pior. Eles têm pouco tempo. Dizem que vai chover muito de novo hoje, e a água vai levar os carros”, alertou um morador que preferiu não se identificar.

 

De acordo com a Defesa Civil de Belo Horizonte, uma chuva de até 50 milímetros, acompanhada de raios e rajadas de vento, pode atingir a cidade. O alerta é válido até a manhã desta quinta-feira (26/12).


Convivendo com o medo


A chuva intensa afetou o Natal da família de Rosilene Zeferino, de 44 anos. Ela relata que estava na sala, com o pai e a filha, quando começou a chover e, ao abrir a porta da casa, viu que a água já estava na calçada: “Com menos de três minutos, a água já estava entrando como uma cachoeira na minha varanda.”

 

A residência conta com um pequeno muro de contenção para casos de alagamento na rua, mas não foi o suficiente. Parte da casa, da loja e de um restaurante de Rosilene foram invadidos pela lama.

 

Ela, que perdeu a mãe há sete meses, temeu pela saúde do pai, que sofre de pressão alta e se exaltou com a situação. Rosilene conta ainda que teve que tirar a água de dentro de casa com balde e lidar com o mau cheiro. “Além da falta da minha mãe, ninguém conseguiu curtir o Natal, porque a gente não estava aguentando ficar em pé de tanto cansaço”, diz.


 

 

Sobre as comemorações deste dia 25 de dezembro, Rosilene afirma que não vai sair de casa: “Fico com medo, já não durmo direito quando chove. Nós não temos paz. Hoje, vou ficar em casa, porque já começou a chover de novo e estou com medo da água entrar. O Natal este ano vai ser de vigilância”, afirma.

 

Rosilene também cobra ajuda do poder público: “Eles nunca abatem o IPTU. Se pelo menos isentassem um pouco, já ajudava, porque eu tenho que arrumar minha casa. Eles não resolvem o problema e não amenizam nada pra gente.”

 

Tragédia anunciada


Os moradores do Vale do Jatobá convivem com o medo durante o período de chuvas. Eles relatam que os alagamentos são comuns, mas nada é feito para resolver o problema.

 

Mauro Sérgio do Carmo Coelho, de 36 anos, técnico de manutenção que trabalha em uma oficina próxima ao córrego, conta que a água subiu muito rápido: “Em questão de três minutos, a água veio de uma vez, arrastando tudo.”


 

 

Ele mora no Vale do Jatobá há 30 anos e conta que a oficina foi construída acima do nível da rua para evitar que a água entre no estabelecimento. “Quando estamos aqui e começa a chover, eu e meus amigos corremos com os carros para dentro da oficina”, declara. Ele também cobra do poder público: “Alguma coisa tem que ser feita. Imagina se tivesse alguém dentro dos carros?”

 

O morador do Barreiro, João Carlos, de 62 anos, também acredita que a solução está no governo. “Tem que arrumar isso. Fazer bacias de contenção, por exemplo, melhoraria a situação das pessoas que moram aqui”, opina.

 

Marcos Antônio da Silva Santos, de 44 anos, é luthier e mora no Vale do Jatobá desde que nasceu, convivendo com os transtornos causados pela falta de escoamento na região. Segundo ele, o bairro antigamente era uma lagoa e, ao ser aterrado, não foi feita uma drenagem adequada.

 

“É um problema antigo. Uma mulher de 22 anos morreu afogada aqui em 2019. Para os moradores que vivem aqui perto, é um caos. Ou desapropriam e levam as pessoas para um terreno seguro, ou fazem uma obra.”


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Para ele, a solução é realizar uma obra semelhante à feita no Ribeirão Arrudas, que rebaixou o leito para evitar transbordamentos. “Eles ganham com o caos. Quanto mais caos tiver, mais votos recebem. Eles não estão preocupados com os moradores de áreas periféricas. Se fosse na região da Savassi, por exemplo, com certeza essa obra já teria sido feita e a verba teria sido liberada.”