Nova Lima, na Grande BH, que em 2023 foi considerada a cidade mais rica do Brasil pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), pode ter novos milionários. Pelo menos é o que dizem nas rodas de conversa, depois que um bilhete registrado na lotérica Leão da Sorte, localizada na Avenida José Bernardo de Barros, no bairro Cascalho, faturou o prêmio recorde da Mega da Virada, sorteada na noite desta terça-feira (31/12).
Assim que os números premiados foram divulgados, a cidade entrou em frenesi. Enquanto na manhã desta quarta (1/1) todos comentavam sobre um suposto bolão feito por funcionários da Escola Municipal José Brasil Dias, na Vila Esperança, a verdade é que o sortudo é, na realidade, um silencioso e misterioso jogador de bilhete único. E que bilhete: apenas R$ 5 para levar a bagatela de R$ 79.435.770,67, o maior da história, já com correção da inflação na comparação com os sorteios anteriores.
A escola está fechada. Além das festas de final de ano, professores e funcionários estão de férias. É uma escola que contempla alunos do primeiro ao quinto ano. Nesta manhã, havia apenas um funcionário, um vigia, Iago Gomes, de 25 anos, que não é lotado na escola. “Eu sou funcionário da prefeitura e estou emprestado nesse período para ficar aqui”, explicou.
Iago disse que ficou sabendo que um bolão da escola tinha sido um dos ganhadores da “Mega da Virada” durante as comemorações da passagem de ano, na casa de sua sogra. “A gente estava lá, esperando a ceia, quando chegou a notícia. Aí, foi o assunto da noite inteira. Não se falou em mais nada. E como eu estou trabalhando na escola, nesse período, todos queriam saber se eu estava no bolão.”
Ele lamentou não estar no jogo. “Se eu fosse funcionário da escola, certamente estaria, mas infelizmente não sou. Se tivesse ganhado esse dinheiro, minha vida estaria resolvida”.
Pessoas humildes
As redes sociais e as conversas em cada esquina da cidade alimentaram a história. O mentor do jogo teria sido um dos zeladores da escola. Além dele, estariam participando faxineiras e faxineiros, funcionários administrativos e professores e professoras. Além deles, amigos dos funcionários também teriam entrado no jogo.
O zelador da escola é uma espécie de “figurinha carimbada”. Todos da região dizem conhecê-lo mas, por segurança, pediram que a reportagem não divulgasse sua identidade.
Na pracinha próxima da escola, onde há também um pequeno campo de grama sintética, um grupo de amigos estava reunido para falar sobre o prêmio da “Mega da Virada”.
O aposentado Albertino Souza Lopes, de 72 anos, o “Betinho”, vizinho da escola, conta que ficou sabendo da história dos novos milionários ainda na noite de terça-feira, mas que não acreditou no caso. No entanto, ao se encontrar com os amigos e ouvir mais detalhes, a desconfiança foi embora.
“Conheço muito o zelador. Somos amigos. Ele é muito legal. Trata todo mundo bem. É muito justa a premiação, pois todos os ganhadores são pessoas humildes e esse dinheiro, com certeza, vai ajudá-los, muito”, comentou.
A seu lado estava outro aposentado, William Drummond, de 75 anos. Ele conta que pretende rever seus conceitos, pois jamais jogou na “Mega Sena”. “Jogo sempre na Loteria Federal. Tem mais de 40 anos. Compro bilhetes para os sorteios de quarta-feira e sábado. Nunca ganhei uma grande bolada, mas já levei R$ 30, R$ 12, R$ 25. Prefiro esse jogo. Mas vou pensar.”
William contou, também, que estava sabendo da aposta premiada desde a noite de terça. “Na nossa festa, de final de ano, quando reunimos toda a família, esse era o assunto. Ficou todo mundo querendo adivinhar quais pessoas seriam as ganhadoras”.
Enquanto eles conversavam, chegou mais um amigo, José da Silva Morais, de 66 anos, trabalhador autônomo, que foi logo dizendo: “Eu também fiquei sabendo dessa história. Uma pena não terem nos chamado para o bolão. Conheço o zelador e também outras pessoas que devem estar no bolão. Fico feliz por ele. Vou propor que a gente também faça um bolão, pra ver se ficamos ricos”.
Funcionária desmente boato
Mas eis que surge a reviravolta. Enquanto as rodas de conversa ganhavam corpo, a história foi desmentida por uma funcionária da escola, que diz ter participado do tal bolão, e nega que o grupo tenha faturado a bolada. “Nós fizemos um bolão. Estou nele. Mas não ganhamos nada. Estão falando que foi a gente, da escola, mas não foi”, afirmou à reportagem.
A realidade é que o novo milionário de Nova Lima, ao que tudo indica, prefere o anonimato. Com uma probabilidade de 1 em mais de 50 milhões, o jogador solitário da cidade mineira foi um dos oito bilhetes premiados do país, e agora tem 90 dias para aparecer e retirar o prêmio.
O curioso é que, entre todas as apostas premiadas, apenas duas eram de jogos simples: o de Nova Lima e outro de Curitiba. E nunca na história da Mega da Virada, que começou a ser sorteada no atual modelo em 2009, houve apenas um ganhador. Enquanto isso, a cidade segue em clima de detetive, com todos tentando descobrir quem é o novo milionário.
*Com informações de Folhapress