Curva do Anel Rodoviário na altura do Bairro Carlos Prates, em BH: trecho é conhecido por acidentes e engarrafamentos que testam a paciência do motorista -  (crédito: Túlio Santos/EM/D.A.Pres)

Curva do Anel Rodoviário na altura do Bairro Carlos Prates, em BH: trecho é conhecido por acidentes e engarrafamentos que testam a paciência do motorista

crédito: Túlio Santos/EM/D.A.Pres

“Para uma condução segura nas estradas, é fundamental que os motoristas adotem uma postura responsável, defensiva e atenta. Respeitar a sinalização, manter uma direção segura e estar preparado para imprevistos são atitudes essenciais para prevenir acidentes e garantir uma viagem segura para todos”. A orientação é do diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Flavio Adura. A conversa com ele abre a quarta e última matéria da série de reportagens “Vítimas da Velocidade”, publicada pelo EM desde o último domingo.

 

 

O especialista também chama atenção para os cuidados nos trechos sinuosos das rodovias, que geralmente resultam em ocorrências de maior potencial de dano. A física explica. “A força centrípeta do movimento circular é resultado do atrito lateral entre os pneus, a superfície da estrada e o raio da curva que determinarão a denominada velocidade crítica para a curva. Independentemente da massa (peso) do veículo, quando a velocidade for maior do que a velocidade crítica, o veículo se envolverá em uma derrapagem lateral capaz de provocar graves acidentes”, diz Flavio Adura.

 

 

O especialista lembra que o aumento da tecnologia e da capacidade de aceleração dos carros modernos aumenta ainda mais a responsabilidade de quem está ao volante. “A possibilidade de ganhar velocidade rapidamente pode incitar alguns motoristas a dirigir de forma mais agressiva ou a testar os limites do veículo, especialmente em rodovias ou estradas desertas, aumentando o risco de acidentes graves”, afirma.

 

Por sua vez, o professor Dimas Alberto Gazolla, do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), adverte que, devido à precariedade da malha rodoviária brasileira, antes de pegar a estrada, os condutores devem se informar sobre as condições dos trechos que vão percorrer.

 

Depois, recomenda aos motoristas que se informem sobre as previsões meteorológicas para o período da viagem. Devem, também, cuidar da manutenção preventiva dos veículos e da sua própria condição de saúde. “O motorista deve dirigir com cuidado e atenção, sem o uso de celular e respeitando toda sinalização horizontal, vertical e de limites de velocidade. Caso o trajeto seja longo, deve-se fazer paradas com o mínimo de 15 minutos a cada uma hora e meia ou duas horas de viagem”, orienta o professor da UFMG.

 

Estresse e pressa

 

Qualquer motorista que enfrenta o trânsito das grandes cidades sabe: o estresse é tão certo quanto o pé no freio. A falta de educação das pessoas ao volante somada à falta de estrutura das vias e aos incontáveis congestionamentos resultam em um teste para a paciência de qualquer um.

 

O artigo "Tempo e Trânsito na Experiência Subjetiva de Motoristas", publicado em 2015 pelas professoras Ana Inez Oka e Sylvia Cavalcante, da Universidade de Fortaleza (Unifor), procurou investigar como são percebidos e vivenciados o tempo e a pressa no trânsito por motoristas da capital cearense – uma das grandes cidades urbanas do país, que convive com problemas semelhantes aos das demais metrópoles.

 

Os entrevistados do trabalho foram certeiros: a organização do tempo e da rotina é vista como sinônimo de eficiência na sociedade. Dessa maneira, as "horas perdidas" no trânsito se tornam problemáticas e incentivam uma o sentimento imediatista e a ansiedade no mundo contemporâneo. Afinal, quem de nós nunca se sentiu aflito ao volante ao se deparar com o inevitável congestionamento?

 

"Os motoristas encaram o ambiente do trânsito como uma etapa a ser rapidamente vencida, sem qualquer valor em si mesma, tendendo a agir nele de forma impulsiva, acelerada, ansiosa, o que acaba por favorecer os comportamentos inadequados à direção", destaca as pesquisadoras em um trecho da publicação.

 

Dado o contexto, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) lançou, neste ano, uma nova frase para nortear suas campanhas educativas: "Desacelere. Seu bem maior é a vida".

 

No evento que anunciou a nova campanha, a diretora do Departamento de Segurança no Trânsito da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), Maria Alice Nascimento Souza, explicou a escolha das frases com foco no "pé pesado" dos condutores. “A velocidade é o fator de maior risco. A gente fala muito sobre os cuidados com o ciclista e o uso do celular no trânsito, que são aspectos importantes. Mas, um fator que agrava isso tudo é a velocidade excessiva. Então, atuamos com frases nesse sentido. Foram várias reuniões, conversando com todo o Sistema Nacional de Trânsito”, disse.