Manifestações em frente ao Hospital Maria Amélia Lins nesta quarta-feira (8/1) -  (crédito: Redes Sociais)

Manifestações em frente ao Hospital Maria Amélia Lins nesta quarta-feira (8/1)

crédito: Redes Sociais

 

O governo de Minas Gerais interditou temporariamente o bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de Belo Horizonte, para manutenção de equipamentos. A medida foi necessária devido à dificuldade na aquisição de uma peça essencial do arco cirúrgico. Aproximadamente 200 cirurgias mensais foram redirecionadas para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, que já está sobrecarregado com atendimentos de urgência e emergência.

 

A situação no HMAL tem gerado preocupação entre profissionais de saúde, que realizaram uma manifestação na tarde desta quarta-feira (8/1), em frente ao hospital. Durante o protesto, uma paciente do Sistema Único de Saúde, que recebe atendimento no hospital, declarou: "Eu tenho orgulho de mostrar a cicatriz aqui na minha perna. Aqui, tem profissionais que salvaram minha vida. Lá em cima, a gente é tratado como rainha. Vamos lutar. A gente entra no bloco cirúrgico pedindo a Deus para cuidar da gente. Essas profissionais que estão aqui hoje salvaram minha vida."

 

 

Paciente apoia manifestação de trabalhadores do HMAL

Paciente apoia manifestação de trabalhadores do HMAL

Arquivo Pessoal

 

Luciana Silva, que integra a Secretaria de Formação do SindSaúde-MG, afirma que a interdição é parte de uma intenção maior do governo de fechar o hospital completamente. "A princípio, o que acontece é que o governo fechou o bloco cirúrgico, mas a intenção dele é fechar o hospital todo, porque já não está sendo agendado o paciente a partir de março", denuncia. Segundo ela, o governo tem usado como argumento a falta de uma peça do arco cirúrgico para justificar o fechamento.

 

 

Luciana também destacou o impacto direto nos pacientes. Segundo ela, há casos de pessoas que viajaram mais de 300 km até o HMAL, apenas para terem suas cirurgias canceladas devido à alta demanda gerada pela interdição: "O governo fez a transferência dos pacientes para as cirurgias eletivas no bloco cirúrgico do Hospital João 23, mas os trabalhadores estão denunciando que as cirurgias estão sendo canceladas porque o bloco do João não está suportando a demanda."

 

O impacto se estende ao sistema de saúde como um todo. O HMAL é considerado um hospital de fundamental importância para o usuário do SUS, funcionando como sequência ao atendimento inicial recebido no João XXIII. "O paciente é atendido no João XXIII, recebe o atendimento de urgência e a sequência deste tratamento é no Maria Amélia Lins. Tem pacientes que ficam quase dois anos precisando de retorno, fazem cirurgia, recuperam, fazem outra cirurgia. É um hospital essencial", explica Luciana.

 

 

Ela alerta que o fechamento do HMAL agrava ainda mais os problemas do SUS, especialmente na ortopedia, que é um dos maiores gargalos do sistema. "É uma fila gigantesca. Com esse fechamento do bloco cirúrgico do Maria Amélia Lins, com a transferência do CME e do laboratório para o João XXIII, o governo está prejudicando muito a população", critica.

 

Os profissionais de saúde do HMAL estão preocupados não apenas com os pacientes, mas também com o futuro do hospital. "De dois anos para cá, o governo vem esfarelando o atendimento do HMAL. Fecharam leitos e remanejaram trabalhadores. O maior desafio é a incerteza: vou chegar para trabalhar e o hospital vai estar aberto?", desabafou Luciana.

 

Segundo ela, as condições atuais deixam claro que a estrutura não comporta o aumento de pacientes direcionados ao João XXIII, onde o tempo de espera para cirurgias tende a crescer ainda mais.

 

 

A população tem sido informada de forma superficial sobre os atrasos nas cirurgias. "Eles só falam que houve problema com o aparelho e que vão reagendar as cirurgias", conta Luciana. Porém, para ela, a falta de um planejamento claro e a ausência de comunicação transparente reforçam o descontentamento tanto dos profissionais quanto dos pacientes.

 

A situação já mobiliza parlamentares. Alguns deputados encaminharam um ofício ao secretário de Saúde de Minas Gerais, questionando o futuro do hospital. Até o momento, porém, não houve resposta do governo.

 

Enquanto isso, o HMAL, historicamente reconhecido por seu papel de retaguarda para o João XXIII em cirurgias ortopédicas e bucomaxilofaciais, segue sob a incerteza de quando ou se voltará à sua plena funcionalidade. Trabalhadores e pacientes aguardam por uma solução que evite o colapso do sistema de saúde local.

 

A reportagem procurou a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), mas não obteve resposta até o momento da publicação.